Ações ...
Reações ... Inações ...
Por
Alessandra Leles Rocha
Lamento; mas, Sir Isaac Newton
tinha toda razão! A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual
intensidade. Pois é, isso não serve só
para a física; mas, para a vida, em geral. De modo que, nem adianta dizer que a
natureza enlouqueceu, porque ela está somente respondendo à toda e qualquer
atrocidade que a humanidade tenha lhe imposto.
Se não acredita, leia as
seguintes matérias. “Justiça determina que mais famílias sejam retiradas das
áreas afetadas pela mineração em Maceió” 1.
“Desmatamento no Cerrado sobe 3% e alcança mil km²; aumento
ocorre pela quarta temporada consecutiva” 2.
“Senado aprova projeto que acelera registro de agrotóxicos no Brasil” 3. “Agrotóxico banido na União Europeia
dizimou 180 milhões de abelhas no Brasil, em 2023” 4.
“Entenda o que são as voçorocas que formam crateras e abismos de terra no
Maranhão” 5. “Mudança do clima na Amazônia aumentou
estação de seca” 6.
Elas são uma pequena amostra do
que os veículos de informação e comunicação têm trazido, esse ano, ao
conhecimento da sociedade. Mas, a história é longa, não é de agora, e os
registros são milhares! No entanto, apesar das discussões socioambientais terem
se iniciado, ainda na década de 1960, a reverberação delas, no Brasil, reflete
algo recente. O que eu atribuo diretamente ao fato de o país ter sua história
marcada pela colonização de caráter exploratório das riquezas naturais.
De modo que falar de
sustentabilidade socioambiental, de economia verde, de emergências climáticas,
de Biodiversidade, ... soa constrangedor e desconfortável. Sobretudo,
considerando que o tempo passou; mas, as práxis exploratórias não. O Brasil
permanece cultuando suas raízes coloniais com suas grandes plantations,
com sua garimpagem indiscriminada, com a existência recorrente de trabalho
análogo à escravidão, com tráfico de fauna e de flora, enfim...
E quando se olha para os espaços
urbanos, o pensamento persiste retrógrado. Com uma produção desregrada, mal
planejada, visivelmente poluente sob diferentes aspectos, incapaz de lidar com
seus amontoados de dejetos e efluentes, incompatível com a preservação de áreas
naturais importantíssimas, ... Totalmente desalinhada e desarmonizada ao que
orientam as discussões globais sobre a produção e o desenvolvimento das
cidades, na contemporaneidade.
De modo que o pior não é o Brasil
ter se recusado a ouvir e a assimilar as discussões que acontecem, há mais de
seis décadas, em todo o mundo. É claro que isso é muito ruim, porque
contrariando as ações, discursivamente o país se colocou disposto a respeito,
inclusive, tornando-se signatário de diversos documentos internacionais e
chegando a incluir, na Constituição Federal vigente, um capítulo dedicado ao
Meio Ambiente.
O pior é ele permanecer fechado
em si mesmo, quanto aos seus pontos de vista obsoletos e ambientalmente contraproducentes,
e querer dialogar e estabelecer seu comércio exterior ativo. SE o Brasil parou
no tempo, no espaço, o resto do mundo não! Portanto, ninguém tem obrigação de
bater palmas para maluco dançar!
Se os cidadãos brasileiros se
mantiveram vivendo em uma bolha, alienados do que aconteceu no mundo, nos
últimos dois séculos, em termos de desconstrução e de reformulação de
paradigmas no campo socioambiental, problema de quem? É triste e vergonhoso;
mas, paira no ar uma nítida impressão de atraso, como se o país tivesse que
correr muito atrás dos prejuízos decorrentes desse comportamento, se quiser ser
respeitado pelo resto do mundo.
Tudo porque, uns e outros, que
detêm o poder capital e a influência sobre o poder governamental, sentem-se
mais acolhidos e confortáveis nos braços da realidade colonial, que lhes foi
passada de geração em geração, até aqui. Mas, como já era de se esperar, tendo
em vista o andar da carruagem, o Brasil está diante do ponto de inflexão,
quando o assunto orbita a pauta socioambiental. Não adianta mais negar, negligenciar,
omitir, desconversar. As repercussões negativas da inação pipocam aqui, ali e
acolá, sem que seja possível detê-las.
E a tendência natural é que os
episódios aconteçam cada vez mais intensos, mais amiúde, mais avassaladores e,
mais democráticos. Sim. As urgências socioambientais que já se desenham no
horizonte irão afetar as populações sem distinção de A, B ou C. qualquer um
pode ser a bola da vez! Como já se viu em várias ocorrências, nesse ano, os
espaços urbanos foram atingidos à revelia das fronteiras socioeconômicas
impostas pelos indivíduos. Em maior ou em menor escala, todos computaram
perdas, inclusive, humanas.
Pois é, a natureza está
respondendo à altura de todas as afrontas já sofridas. Simples assim! A natureza nos colocou em
xeque-mate! Fim de linha para os delírios, as inconsequências, as
irresponsabilidades, as negligências, as arbitrariedades, ou o fim da nossa
própria espécie. Pagamos para ver ... agora, a fatura chegou!
Assim, na esperança de que haja,
realmente, um caminho de volta, comecemos a admitir que, de fato, “Falsos
valores e palavras ilusórias: são estes os piores monstros para os mortais;
longamente e à espera, dorme neles a fatalidade” (Friedrich Nietzsche).
Porque, através desse choque de realidade, despertamos a consciência para
entender que “Nesses tempos de céus de cinzas e chumbos, nós precisamos de
árvores desesperadamente verdes” (Mário Quintana).
1 https://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2023/11/30/justica-determina-que-mais-familias-sejam-retiradas-das-areas-afetadas-pela-mineracao-em-maceio.ghtml
2 https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2023/11/28/desmatamento-no-cerrado-sobe-3percent-e-alcanca-11-mil-km-aumento-ocorre-pela-quarta-temporada-consecutiva.ghtml
3 https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/11/28/senado-aprova-projeto-que-acelera-registro-de-agrotoxicos-no-brasil.ghtml
4 https://www.terra.com.br/planeta/meio-ambiente/agrotoxico-banido-na-uniao-europeia-dizimou-180-milhoes-de-abelhas-no-brasil-em-2023,995c75e6eeff155f1b5883a9b651d2bcc7wkigu4.html