A liberdade
sob ameaça do silêncio?
Por Alessandra
Leles Rocha
Sim. O importante é perceber as
sutilezas, de como as vozes têm sido silenciadas, e quem está por trás desse movimento.
Nada difícil ou complexo! Basta observar as próprias manchetes dos veículos de
comunicação para traçar uma linha de compreensão.
“Susan Sarandon, Tom Cruise e
Melissa Barrera: a polêmica em Hollywood pelos comentários de algumas estrelas
sobre a guerra entre Israel e o Hamas” 1
. “Senado aprova PEC que limita poderes do STF; proposta vai para Câmara” 2. “Deputadas federais mineiras também
são alvo de ameaças” 3. ...
Nos EUA ou no Brasil. Em Hollywood
ou na política. Por conta das guerras em curso, no planeta, ou dos incômodos sentidos
dentro dos espaços de poder. A verdade é que a liberdade de ser, de estar, de
participar, de falar, está sim, sob ameaça. A diversidade e a pluralidade
cognitiva, as quais garantem e respaldam a manifestação do contraditório, estão
sob ameaça de silenciamento.
Embora a pergunta lógica a se
fazer fosse "Por que isso acontece?", penso que o melhor é
perguntar "Quem está comandando esse silenciamento?". Essa sim,
é a pergunta que faz total sentido e que responde com propriedade a esse respeito.
Há tempos venho trazendo as
minhas reflexões e considerações em torno das Revoluções Industriais e seus
impactos na tecitura das relações sociais, em todo o mundo. Particularmente,
considero que pesando a relação custo/benefício do processo, a humanidade teve
mais perdas do que ganhos, e muitas delas, irremediavelmente irreparáveis.
No entanto, nesse texto, pretendo
olhar objetivamente para a Revolução 4.0, porque ela é o fio condutor para o
assunto em questão, ou seja, o silenciamento social. Afinal, é através dela que
a raça humana chegou a um amplo sistema de tecnologias de última geração, tais
como a Inteligência Artificial (I.A.), a robótica, a internet das coisas, a
computação em nuvem, as quais já vêm impactando diretamente e transformando as
formas de relação, produção e modelos de negócios, em cada canto do planeta.
E nem preciso dizer que, por trás
das Big Techs, ou seja, das maiores empresas de tecnologia do mundo, estão
pessoas alinhadas ao pensamento da Direita, em todos os seus matizes; sobretudo,
os mais radicais e extremistas. Não é à toa, então, como foi fácil para esse
espectro político se apropriar tão rapidamente das ferramentas tecnológicas para
promover o seu ressurgimento e a sua expansão no cenário político global.
Daí para o silenciamento social
de milhões de pessoas foi um pulo! Como escreveu George Orwell, em seu livro 1984,
de 1949, “O Grande Irmão está de olho em você”. Abaixo do fascínio alienante
que existe em torno da Revolução 4.0, existe um grande iceberg repleto
de perigos autoritários, incluindo uma vigilância excessiva da população. Cada ser
humano encontra-se desnudo diante dos algoritmos da internet. Pois é, as Big
Techs sabem tudo sobre você, nos mínimos detalhes.
Portanto, nada passa despercebido,
nem mesmo os seus pensamentos, as suas opiniões. Você não é silenciado, ou cancelado,
necessariamente, por seres humanos. Antes que A ou B ou C torçam o nariz para isso
ou aquilo que você disse ou fez, foram os algoritmos que marcaram você, como
uma referência contrária ao padrão considerado adequado. De algum modo, você
está fora do efeito manada, comumente produzido pelas mídias sociais, e que
tende a homogeneizar os grupos, segundo os interesses de uns e outros, por aí.
Lamento, mas não é possível
atenuar ou contemporizar as tentativas de arraste social produzido pelas mais
diferentes formas de silenciamento, na contemporaneidade. Simplesmente, porque esses
silenciamentos são ferramentas usadas para garantir a consolidação ideológica
da Direita, em todos os seus matizes; sobretudo, os mais radicais e
extremistas. Esses silenciamentos fazem parte de um terrível projeto de poder
em expansão pelo mundo, orquestrado pela ultradireita.
Não sejamos ingênuos, “As pessoas
sabem aquilo que elas fazem; frequentemente sabem por que fazem o que fazem;
mas o que ignoram é o efeito produzido por aquilo que fazem” (Michel Foucault).
Haja vista a resistência das Big Techs em coibir as Fake News, deixando um rastro
de destruição e ódio se alastrar pelas mídias sociais e culminar, inclusive, na
perda de vidas humanas. Isso, sem contar, o fato de que essa omissão, também,
colaborou significativamente para os interesses da ultradireita em fomentar a
polarização política em locais de pleito eleitoral recente.
Tudo isso é seríssimo, porque vai
além do silenciamento em si. Silenciar, cancelar, marginalizar, no fundo são estratégias
ou ferramentas para deflagrar cortinas de fumaça em torno de questões que
precisam ser invisibilizadas. Porque as opiniões, as manifestações, as falas contundentes
de desaprovação, são sempre um holofote brilhando sobre o que deveria estar na
mais completa escuridão. Contudo, só não devemos nos esquecer de que podem até silenciar
as palavras; mas, as ideias, os pensamentos, jamais.