Hora de
aprender a caber dentro da nova realidade do planeta!
Por Alessandra
Leles Rocha
Muitas pessoas se surpreenderam
com a notícia de que um bairro, em uma cidade no sul do Brasil, precisou ser
evacuado, por conta de rachaduras profundas que surgiram no solo 1. Logo depois, veio a informação de que
um prédio, na região afetada, estava ameaçado de queda, o que acabou se
confirmando 2.
Bem, como é de conhecimento
público, a região Sul tem sido bastante atingida pelos efeitos extemos do
clima, com chuvas torrenciais, desmoronamentos, elevação do curso dos rios, e
presença de ciclones.
O que não significa que as emergências
climáticas estejam resumidas a essa parte do país. A ocorrência de outros eventos, tais como secas
e altíssimas temperaturas 3, também
fazem parte do cenário nacional. Portanto, essa é a nova realidade a ser
enfrentada, não apenas no Brasil, mas em todo o planeta.
Acontece que a existência desses fenômenos
demasiadamente intensificados não pode ser dissociada de todo um conjunto de
ações antrópicas que vêm sendo desenvolvidas ao longo de séculos. E uma das
mais importantes, diante dos recentes eventos climáticos extremos no país, diz
respeito ao uso e ocupação dos espaços geográficos.
Não é preciso ser expert em
urbanismo ou geografia para olhar para uma cidade e entender a sua dinâmica e
complexa estrutura, modulada por aspectos de ordem social, econômico e
cultural. Contudo, nem sempre esse processo de produção urbana se fundamenta a
partir de regras e parâmetros para o uso do solo, ou seja, que reconheçam as
particularidades e especificidades do relevo, as quais o fazem mais ou menos
vulneráveis e susceptíveis às intempéries do clima.
Pois é, o relevo e a composição paisagística
natural trazem informações valiosíssimas para medir o potencial de risco em se
ocupar esse ou aquele espaço. De modo que ao negligenciar essas informações
assume-se a possibilidade de favorecer a incidência de impactos ambientais
negativos; sobretudo, agora, quando o perfil climático do planeta se mostra
totalmente alterado e inconstante.
Haja vista, por exemplo, a
questão do degelo das principais cadeias montanhosas e das calotas polares. Além
do aumento do nível dos mares e oceanos, ele desacelera as correntes oceânicas,
ocasionando uma alteração climática global, que potencializa o recrudescimento
dos episódios meteorológicos em todo o planeta. Isso sem falar na perda de inúmeras
espécies, em razão da perda do seu habitat natural, e a drástica redução de
água doce para consumo da população, para irrigação e para a produção de
energia elétrica.
Com uma costa de 8.500 Km de
extensão, o Brasil, já conta com algumas cidades sendo impactadas pelo avanço
do mar sobre o espaço urbano 4. Acontece
que não fica só no avanço, o aumento do nível dos mares e oceanos também
repercute na dinâmica da estabilidade do solo nessas regiões. A água tende a
percolar pelo terreno, em grandes profundidades, causando uma instabilidade que
pode se expressar na forma de tombamento de blocos terrestres, deslizamento ou
desabamento.
Assim, o modo como o ser humano se
relacionou com o uso e a ocupação do solo, até aqui, vai precisar ser revisto
com urgência, em nome da sobrevivência humana. Infelizmente, não há mais possibilidade
de persistir em reconstruções. Os sinais do ambiente são claros! Certos lugares
não podem ser ocupados novamente, dada a iminente ameaça de uma nova catástrofe.
O novo paradigma para a produção
dos espaços urbanos, para o uso e a ocupação racional e sustentável do solo, se
torna, a partir de agora, uma discussão fundamental para toda a sociedade. Afinal
de contas, o volume de prejuízos materiais, já computados, e de perdas humanas,
já sentidas, dá bem a dimensão de que, se nada for feito, pode ser ainda muito pior.
Hora de aprender a caber dentro da nova realidade do planeta!
2 https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/11/predio-desaba-em-gramado-rs-apos-surgimento-de-rachaduras-no-solo.shtml
3 https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2023/10/04/sem-chuva-oito-estados-do-norte-e-nordeste-batem-recorde-de-seca-dos-ultimos-40-anos-diz-cemaden.ghtml
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/10/entenda-as-causas-da-seca-extrema-na-amazonia.shtml