sábado, 25 de novembro de 2023

Hora de aprender a caber dentro da nova realidade do planeta!


Hora de aprender a caber dentro da nova realidade do planeta!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Muitas pessoas se surpreenderam com a notícia de que um bairro, em uma cidade no sul do Brasil, precisou ser evacuado, por conta de rachaduras profundas que surgiram no solo 1. Logo depois, veio a informação de que um prédio, na região afetada, estava ameaçado de queda, o que acabou se confirmando 2.

Bem, como é de conhecimento público, a região Sul tem sido bastante atingida pelos efeitos extemos do clima, com chuvas torrenciais, desmoronamentos, elevação do curso dos rios, e presença de ciclones.

O que não significa que as emergências climáticas estejam resumidas a essa parte do país.  A ocorrência de outros eventos, tais como secas e altíssimas temperaturas 3, também fazem parte do cenário nacional. Portanto, essa é a nova realidade a ser enfrentada, não apenas no Brasil, mas em todo o planeta.

Acontece que a existência desses fenômenos demasiadamente intensificados não pode ser dissociada de todo um conjunto de ações antrópicas que vêm sendo desenvolvidas ao longo de séculos. E uma das mais importantes, diante dos recentes eventos climáticos extremos no país, diz respeito ao uso e ocupação dos espaços geográficos.

Não é preciso ser expert em urbanismo ou geografia para olhar para uma cidade e entender a sua dinâmica e complexa estrutura, modulada por aspectos de ordem social, econômico e cultural. Contudo, nem sempre esse processo de produção urbana se fundamenta a partir de regras e parâmetros para o uso do solo, ou seja, que reconheçam as particularidades e especificidades do relevo, as quais o fazem mais ou menos vulneráveis e susceptíveis às intempéries do clima.  

Pois é, o relevo e a composição paisagística natural trazem informações valiosíssimas para medir o potencial de risco em se ocupar esse ou aquele espaço. De modo que ao negligenciar essas informações assume-se a possibilidade de favorecer a incidência de impactos ambientais negativos; sobretudo, agora, quando o perfil climático do planeta se mostra totalmente alterado e inconstante.   

Haja vista, por exemplo, a questão do degelo das principais cadeias montanhosas e das calotas polares. Além do aumento do nível dos mares e oceanos, ele desacelera as correntes oceânicas, ocasionando uma alteração climática global, que potencializa o recrudescimento dos episódios meteorológicos em todo o planeta. Isso sem falar na perda de inúmeras espécies, em razão da perda do seu habitat natural, e a drástica redução de água doce para consumo da população, para irrigação e para a produção de energia elétrica.

Com uma costa de 8.500 Km de extensão, o Brasil, já conta com algumas cidades sendo impactadas pelo avanço do mar sobre o espaço urbano 4. Acontece que não fica só no avanço, o aumento do nível dos mares e oceanos também repercute na dinâmica da estabilidade do solo nessas regiões. A água tende a percolar pelo terreno, em grandes profundidades, causando uma instabilidade que pode se expressar na forma de tombamento de blocos terrestres, deslizamento ou desabamento.

Assim, o modo como o ser humano se relacionou com o uso e a ocupação do solo, até aqui, vai precisar ser revisto com urgência, em nome da sobrevivência humana. Infelizmente, não há mais possibilidade de persistir em reconstruções. Os sinais do ambiente são claros! Certos lugares não podem ser ocupados novamente, dada a iminente ameaça de uma nova catástrofe.

O novo paradigma para a produção dos espaços urbanos, para o uso e a ocupação racional e sustentável do solo, se torna, a partir de agora, uma discussão fundamental para toda a sociedade. Afinal de contas, o volume de prejuízos materiais, já computados, e de perdas humanas, já sentidas, dá bem a dimensão de que, se nada for feito, pode ser ainda muito pior. Hora de aprender a caber dentro da nova realidade do planeta!