quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Ações ... Reações ... Inações ...


Ações ... Reações ... Inações ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Lamento; mas, Sir Isaac Newton tinha toda razão! A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade.  Pois é, isso não serve só para a física; mas, para a vida, em geral. De modo que, nem adianta dizer que a natureza enlouqueceu, porque ela está somente respondendo à toda e qualquer atrocidade que a humanidade tenha lhe imposto.

Se não acredita, leia as seguintes matérias. “Justiça determina que mais famílias sejam retiradas das áreas afetadas pela mineração em Maceió” 1. “Desmatamento no Cerrado sobe 3% e alcança mil km²; aumento ocorre pela quarta temporada consecutiva” 2. “Senado aprova projeto que acelera registro de agrotóxicos no Brasil” 3. “Agrotóxico banido na União Europeia dizimou 180 milhões de abelhas no Brasil, em 2023” 4. “Entenda o que são as voçorocas que formam crateras e abismos de terra no Maranhão” 5. “Mudança do clima na Amazônia aumentou estação de seca” 6.

Elas são uma pequena amostra do que os veículos de informação e comunicação têm trazido, esse ano, ao conhecimento da sociedade. Mas, a história é longa, não é de agora, e os registros são milhares! No entanto, apesar das discussões socioambientais terem se iniciado, ainda na década de 1960, a reverberação delas, no Brasil, reflete algo recente. O que eu atribuo diretamente ao fato de o país ter sua história marcada pela colonização de caráter exploratório das riquezas naturais.

De modo que falar de sustentabilidade socioambiental, de economia verde, de emergências climáticas, de Biodiversidade, ... soa constrangedor e desconfortável. Sobretudo, considerando que o tempo passou; mas, as práxis exploratórias não. O Brasil permanece cultuando suas raízes coloniais com suas grandes plantations, com sua garimpagem indiscriminada, com a existência recorrente de trabalho análogo à escravidão, com tráfico de fauna e de flora, enfim...

E quando se olha para os espaços urbanos, o pensamento persiste retrógrado. Com uma produção desregrada, mal planejada, visivelmente poluente sob diferentes aspectos, incapaz de lidar com seus amontoados de dejetos e efluentes, incompatível com a preservação de áreas naturais importantíssimas, ... Totalmente desalinhada e desarmonizada ao que orientam as discussões globais sobre a produção e o desenvolvimento das cidades, na contemporaneidade.

De modo que o pior não é o Brasil ter se recusado a ouvir e a assimilar as discussões que acontecem, há mais de seis décadas, em todo o mundo. É claro que isso é muito ruim, porque contrariando as ações, discursivamente o país se colocou disposto a respeito, inclusive, tornando-se signatário de diversos documentos internacionais e chegando a incluir, na Constituição Federal vigente, um capítulo dedicado ao Meio Ambiente.

O pior é ele permanecer fechado em si mesmo, quanto aos seus pontos de vista obsoletos e ambientalmente contraproducentes, e querer dialogar e estabelecer seu comércio exterior ativo. SE o Brasil parou no tempo, no espaço, o resto do mundo não! Portanto, ninguém tem obrigação de bater palmas para maluco dançar!

Se os cidadãos brasileiros se mantiveram vivendo em uma bolha, alienados do que aconteceu no mundo, nos últimos dois séculos, em termos de desconstrução e de reformulação de paradigmas no campo socioambiental, problema de quem? É triste e vergonhoso; mas, paira no ar uma nítida impressão de atraso, como se o país tivesse que correr muito atrás dos prejuízos decorrentes desse comportamento, se quiser ser respeitado pelo resto do mundo.

Tudo porque, uns e outros, que detêm o poder capital e a influência sobre o poder governamental, sentem-se mais acolhidos e confortáveis nos braços da realidade colonial, que lhes foi passada de geração em geração, até aqui. Mas, como já era de se esperar, tendo em vista o andar da carruagem, o Brasil está diante do ponto de inflexão, quando o assunto orbita a pauta socioambiental. Não adianta mais negar, negligenciar, omitir, desconversar. As repercussões negativas da inação pipocam aqui, ali e acolá, sem que seja possível detê-las.

E a tendência natural é que os episódios aconteçam cada vez mais intensos, mais amiúde, mais avassaladores e, mais democráticos. Sim. As urgências socioambientais que já se desenham no horizonte irão afetar as populações sem distinção de A, B ou C. qualquer um pode ser a bola da vez! Como já se viu em várias ocorrências, nesse ano, os espaços urbanos foram atingidos à revelia das fronteiras socioeconômicas impostas pelos indivíduos. Em maior ou em menor escala, todos computaram perdas, inclusive, humanas.

Pois é, a natureza está respondendo à altura de todas as afrontas já sofridas.  Simples assim! A natureza nos colocou em xeque-mate! Fim de linha para os delírios, as inconsequências, as irresponsabilidades, as negligências, as arbitrariedades, ou o fim da nossa própria espécie. Pagamos para ver ... agora, a fatura chegou!

Assim, na esperança de que haja, realmente, um caminho de volta, comecemos a admitir que, de fato, “Falsos valores e palavras ilusórias: são estes os piores monstros para os mortais; longamente e à espera, dorme neles a fatalidade” (Friedrich Nietzsche). Porque, através desse choque de realidade, despertamos a consciência para entender que “Nesses tempos de céus de cinzas e chumbos, nós precisamos de árvores desesperadamente verdes” (Mário Quintana).



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