O tempo
urge...
Por
Alessandra Leles Rocha
Diante da efervescência política
que viveu o Brasil, nos últimos anos, com ameaças explícitas e veladas feitas
continuamente, é difícil de acreditar que as pessoas não se deram conta da
temperatura social que se encontrava o país.
Mas, acreditaram. E por conta
disso, assistiram aos episódios de perturbação da ordem, de depredação de
prédios e patrimônios públicos e privados, de violência contra agentes de
segurança, de bloqueio de estradas, de acampamentos ilegais na porta dos quartéis-generais,
enfim...
Acontece que apesar desse cenário
caótico instalado, houve quem continuasse acreditando que a ebulição na
sociedade iria se dissolver, por obra e graça do curso natural do cotidiano. Bom,
quem pensou assim, se equivocou por completo! Nenhum ato ou comportamento
beligerante empregado era, por si só, obra da explosão da barbárie humana, ou
seja, uma ação irracional, um ímpeto primitivo de violência.
A sociedade brasileira estava sim,
diante de um componente de manipulação e persuasão ideológica, jamais visto na
sua história. De modo que foi de extrema ingenuidade acreditar que esse
processo iria se arrefecer com o passar dos dias. Que a máxima do país ordeiro
e feliz continuaria vigorando.
Ora, os espaços de poder
político-partidário nacional estavam sob um intenso aparelhamento estatal. Algo
que era de conhecimento público, dada a repercussão de certos acontecimentos
pelos veículos de comunicação e de informação.
Portanto, o controle e a vigilância
não eram exercidos somente por forças externas de militantes e de simpatizantes,
distribuídos por cada canto do país. O que significa que os elementos indicados
para esse aparelhamento fariam dessa força interna, um imenso desafio, caso
houvesse oposição ou destituição deles.
De modo que o fronte de batalha
permanecia intacto. Ora, tanto as forças externas quanto internas continuaram
se valendo da batalha discursiva, tendo em vista o flanco aberto pelas mídias sociais
contemporâneas.
O que significa que a beligerância
continuaria a ser alimentada pelos discursos de ódio, pelo revanchismo e pelas
ideias disruptivas em relação à Democracia e ao Estado de Direito. Afinal, as
arenas virtuais contemporâneas estiveram sempre abertas para dar vazão a
qualquer embate, inclusive político-ideológico, sem que houvesse resistências ou
controles. O que dá longevidade ao espírito
ativo e inflamado dessas forças.
Vejam, por exemplo, que o próprio
processo de transição governamental foi obstaculizado. Via-se claramente a existência
de forças contrárias, em total oposição ao governo eleito. O que já fornecia
sinais, reais, para que houvesse, de imediato, um movimento de desaparelhamento
estatal em todos os níveis.
A divergência não estava na
superficialidade da mera discordância. Havia camadas muito mais profundas,
desse suposto desalinhamento, que eram impossíveis de se dimensionar. Como já
dito anteriormente, o país foi tomado por uma torrente de intensa manipulação e
persuasão ideológica, que poderia desencadear desdobramentos diversos. Alguns imaginados;
mas, outros, inimaginados.
Daí a dificuldade de entender,
como depois de um ano de trabalho, o governo brasileiro ainda tenha tanta
dificuldade de enxergar o óbvio, permanecendo como se pisasse em ovos para
tomar as decisões necessárias, no sentido de devolver à Democracia brasileira
um país desaparelhado.
De modo que o caso da arapongagem
choca; mas, não surpreende. Por todos os lados, o Brasil parece cercado por uma
alcateia de lobos em peles de cordeiro, como se isso pudesse ser aceitável,
tolerável. Assim, não é à toa que as notícias intensifiquem a péssima impressão
de que o ex-governo, ainda, obtém informações, regalias, privilégios. Como
assim?!
Nenhuma das linhas escritas sobre
a recente história nacional pode passar em brancas nuvens. Acontecimentos gravíssimos,
desmoralizantes, desprezíveis, vergonhosos, infames, enlamearam o país e comprometeram,
em muitos momentos, o seu potencial de desenvolvimento, de progresso e de
dignidade social.
Tanto que o Brasil se tornou
pária internacional, sob várias razões. Daí a pergunta, quando o
desaparelhamento estatal vai realmente acontecer? Quando as forças internas
deixarão de munir as externas com atitudes e comportamentos que respaldam os
seus discursos de ódio, seu revanchismo e suas ideias disruptivas e de desprezo
em relação à Democracia e ao Estado de Direito? Quando?
Esse não é um jogo de xadrez em
que se possa aguardar semanas por uma jogada. O tempo urge. Basta ver como o
mundo anda em ebulição. As tensões pairam sobre os países, enquanto movimentos
radicais e extremistas, como a ultradireita, tentam se reafirmar novamente no
cenário global.
Portanto é preciso reflexão; mas, sobretudo, firmeza e ação para conter os devaneios, os absurdos, as ilegalidades. A República precisa romper com os ranços coloniais. Romper com uma distinção de uns em detrimento de outros, a qual permite criar espaços de isenção em detrimento de espaços de responsabilização.