quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

O tempo urge...


O tempo urge...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Diante da efervescência política que viveu o Brasil, nos últimos anos, com ameaças explícitas e veladas feitas continuamente, é difícil de acreditar que as pessoas não se deram conta da temperatura social que se encontrava o país.

Mas, acreditaram. E por conta disso, assistiram aos episódios de perturbação da ordem, de depredação de prédios e patrimônios públicos e privados, de violência contra agentes de segurança, de bloqueio de estradas, de acampamentos ilegais na porta dos quartéis-generais, enfim...

Acontece que apesar desse cenário caótico instalado, houve quem continuasse acreditando que a ebulição na sociedade iria se dissolver, por obra e graça do curso natural do cotidiano. Bom, quem pensou assim, se equivocou por completo! Nenhum ato ou comportamento beligerante empregado era, por si só, obra da explosão da barbárie humana, ou seja, uma ação irracional, um ímpeto primitivo de violência.

A sociedade brasileira estava sim, diante de um componente de manipulação e persuasão ideológica, jamais visto na sua história. De modo que foi de extrema ingenuidade acreditar que esse processo iria se arrefecer com o passar dos dias. Que a máxima do país ordeiro e feliz continuaria vigorando.

Ora, os espaços de poder político-partidário nacional estavam sob um intenso aparelhamento estatal. Algo que era de conhecimento público, dada a repercussão de certos acontecimentos pelos veículos de comunicação e de informação.

Portanto, o controle e a vigilância não eram exercidos somente por forças externas de militantes e de simpatizantes, distribuídos por cada canto do país. O que significa que os elementos indicados para esse aparelhamento fariam dessa força interna, um imenso desafio, caso houvesse oposição ou destituição deles.     

De modo que o fronte de batalha permanecia intacto. Ora, tanto as forças externas quanto internas continuaram se valendo da batalha discursiva, tendo em vista o flanco aberto pelas mídias sociais contemporâneas.

O que significa que a beligerância continuaria a ser alimentada pelos discursos de ódio, pelo revanchismo e pelas ideias disruptivas em relação à Democracia e ao Estado de Direito. Afinal, as arenas virtuais contemporâneas estiveram sempre abertas para dar vazão a qualquer embate, inclusive político-ideológico, sem que houvesse resistências ou controles.  O que dá longevidade ao espírito ativo e inflamado dessas forças.

Vejam, por exemplo, que o próprio processo de transição governamental foi obstaculizado. Via-se claramente a existência de forças contrárias, em total oposição ao governo eleito. O que já fornecia sinais, reais, para que houvesse, de imediato, um movimento de desaparelhamento estatal em todos os níveis.

A divergência não estava na superficialidade da mera discordância. Havia camadas muito mais profundas, desse suposto desalinhamento, que eram impossíveis de se dimensionar. Como já dito anteriormente, o país foi tomado por uma torrente de intensa manipulação e persuasão ideológica, que poderia desencadear desdobramentos diversos. Alguns imaginados; mas, outros, inimaginados.

Daí a dificuldade de entender, como depois de um ano de trabalho, o governo brasileiro ainda tenha tanta dificuldade de enxergar o óbvio, permanecendo como se pisasse em ovos para tomar as decisões necessárias, no sentido de devolver à Democracia brasileira um país desaparelhado.

De modo que o caso da arapongagem choca; mas, não surpreende. Por todos os lados, o Brasil parece cercado por uma alcateia de lobos em peles de cordeiro, como se isso pudesse ser aceitável, tolerável. Assim, não é à toa que as notícias intensifiquem a péssima impressão de que o ex-governo, ainda, obtém informações, regalias, privilégios. Como assim?!

Nenhuma das linhas escritas sobre a recente história nacional pode passar em brancas nuvens. Acontecimentos gravíssimos, desmoralizantes, desprezíveis, vergonhosos, infames, enlamearam o país e comprometeram, em muitos momentos, o seu potencial de desenvolvimento, de progresso e de dignidade social.

Tanto que o Brasil se tornou pária internacional, sob várias razões. Daí a pergunta, quando o desaparelhamento estatal vai realmente acontecer? Quando as forças internas deixarão de munir as externas com atitudes e comportamentos que respaldam os seus discursos de ódio, seu revanchismo e suas ideias disruptivas e de desprezo em relação à Democracia e ao Estado de Direito? Quando?

Esse não é um jogo de xadrez em que se possa aguardar semanas por uma jogada. O tempo urge. Basta ver como o mundo anda em ebulição. As tensões pairam sobre os países, enquanto movimentos radicais e extremistas, como a ultradireita, tentam se reafirmar novamente no cenário global.

Portanto é preciso reflexão; mas, sobretudo, firmeza e ação para conter os devaneios, os absurdos, as ilegalidades. A República precisa romper com os ranços coloniais. Romper com uma distinção de uns em detrimento de outros, a qual permite criar espaços de isenção em detrimento de espaços de responsabilização.  

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