terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Sim. Carecemos de letramento digital.


Sim. Carecemos de letramento digital.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Daqui e dali não passam despercebidas as Fake News e demais instrumentos da pós-verdade. Graças ao desenvolvimento científico e tecnológico, no campo computacional, expandiram-se as fronteiras para uma vida virtual e todas as suas relações e interações sociocomunicativas. Mas, como na vida, nem tudo são flores ...

No afã de se popularizar e arrebanhar o maior número de seguidores e simpatizantes, as mídias sociais chegaram causando rupturas significativas na estrutura da comunicação, a fim de transformá-la, literalmente, em comunicação de massa.  Algo que pudesse ser facilmente absorvido, por diferentes segmentos da população, não demandando tempo e conhecimento aprofundados.

E para se alcançar essa linguagem altamente trivial, cotidiana, buscou-se fundamentar a sua construção a partir de uma área do conhecimento denominada Semiótica, cujo objetivo é estudar o processo de interpretação dos signos sociais – artes visuais, música, cinema, fotografia, gestos, comportamentos, religiões, moda.

Dessa forma, criou-se uma ponte dialógica concisa. Assim, embora pareça que o interlocutor tenha se tornado o grande protagonista da interpretação comunicativa, muitas vezes, ele é induzido a chegar a uma conclusão predefinida. Basta ver, as peças publicitárias disponibilizadas por aí. Afinal, nem tudo é o que parece ser. Então, esse é o ponto nevrálgico desse novo cenário das relações e interações sociocomunicativas.

No campo das linguagens, a comunicação orbita entre dois pontos importantes, a coesão e a coerência. A primeira, trata da articulação estrutural da ideia, ou seja, como as palavras e as frases se organizam sequencialmente.

A segunda, diz respeito a conexão lógica das ideias que se pretende comunicar, ou seja, o significado da mensagem. Porém, nesse caso, são muitos os fatores que interferem no resultado final – intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade, intertextualidade.

Ora, mensagem divulgada, não há certeza de que seu objetivo será atingido na íntegra, como pensado pelo autor. Cada um pode exercitar uma interpretação própria, particular, a respeito, ou, simplesmente, se deixar levar pelos apelos semióticos.

Isso acontece porque os indivíduos estabelecem relações com tudo o que os constituem sócio-historicamente, em razão de trazerem consigo seus valores e intenções específicas para um contexto desejado, refletindo mundos discursivos particulares.  

Daí o problema da banalização da comunicação e a necessidade de se retomar certas liturgias e protocolos para evitar discussões e desgastes desnecessários. Lamento; mas, nos falta letramento tradicional e digital pra entender que os modos culturais interferem no uso da linguagem.

Não dá para usar da informalidade, tão comum nas mídias sociais, no contexto institucional, ou empresarial, ou em qualquer outra situação que demande formalidade. A formalidade existe para resguardar, por exemplo, a credibilidade, a importância do assunto. Portanto, é algo muito sério!

Daí ser fundamental olhar para as relações e interações sociocomunicativas sob o aspecto da construção de sentidos das linguagens empregadas e como isso afeta situações importantes. Haja vista o caso dos posts feitos pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (SECOM) e pelo perfil oficial do Governo, ontem 1.

Infelizmente, dada a sua importância institucional, falharam sim, ao usar de ironia na sua estratégia de comunicação. O alvo da notícia deveria ser a Dengue. Uma doença que está em franca proliferação, no país, e precisa da colaboração de todos os cidadãos para o seu combate.

Não era momento de alfinetadas políticas. Não era ético usar de espaço, mantido com recursos públicos, desviando-se de sua finalidade primordial. Sim, é preciso estreitar, cada vez mais, as pontes dialógicas do mundo virtual com a população; mas, não dessa forma.

O ser humano é dotado de ideias, de pensamentos; mas, precisa aprender a manejá-los para alcançar seus propósitos. Somos milhões de não nativos digitais e, talvez, por isso, a imensa dificuldade de nos estabelecer para as relações e as interações sociocomunicativas, no mundo virtual contemporâneo.

Daí a urgência do letramento digital. Não só para possibilitar a construção de um senso crítico para a utilização dos meios digitais; mas, para organizar-nos discursivamente dentro dos diversos segmentos sociais e formas de produção e circulação da informação e do conhecimento (multiletramento).