Sim. Carecemos
de letramento digital.
Por Alessandra
Leles Rocha
Daqui e dali não passam
despercebidas as Fake News e demais instrumentos da pós-verdade. Graças ao
desenvolvimento científico e tecnológico, no campo computacional, expandiram-se
as fronteiras para uma vida virtual e todas as suas relações e interações
sociocomunicativas. Mas, como na vida, nem tudo são flores ...
No afã de se popularizar e arrebanhar
o maior número de seguidores e simpatizantes, as mídias sociais chegaram
causando rupturas significativas na estrutura da comunicação, a fim de
transformá-la, literalmente, em comunicação de massa. Algo que pudesse ser facilmente absorvido, por
diferentes segmentos da população, não demandando tempo e conhecimento aprofundados.
E para se alcançar essa linguagem
altamente trivial, cotidiana, buscou-se fundamentar a sua construção a partir de
uma área do conhecimento denominada Semiótica, cujo objetivo é estudar o
processo de interpretação dos signos sociais – artes visuais, música, cinema,
fotografia, gestos, comportamentos, religiões, moda.
Dessa forma, criou-se uma ponte
dialógica concisa. Assim, embora pareça que o interlocutor tenha se tornado o
grande protagonista da interpretação comunicativa, muitas vezes, ele é induzido
a chegar a uma conclusão predefinida. Basta ver, as peças publicitárias
disponibilizadas por aí. Afinal, nem tudo é o que parece ser. Então, esse é o
ponto nevrálgico desse novo cenário das relações e interações
sociocomunicativas.
No campo das linguagens, a
comunicação orbita entre dois pontos importantes, a coesão e a coerência. A primeira,
trata da articulação estrutural da ideia, ou seja, como as palavras e as frases
se organizam sequencialmente.
A segunda, diz respeito a conexão
lógica das ideias que se pretende comunicar, ou seja, o significado da
mensagem. Porém, nesse caso, são muitos os fatores que interferem no resultado
final – intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade,
intertextualidade.
Ora, mensagem divulgada, não há
certeza de que seu objetivo será atingido na íntegra, como pensado pelo autor. Cada
um pode exercitar uma interpretação própria, particular, a respeito, ou,
simplesmente, se deixar levar pelos apelos semióticos.
Isso acontece porque os indivíduos
estabelecem relações com tudo o que os constituem sócio-historicamente, em
razão de trazerem consigo seus valores e intenções específicas para um contexto
desejado, refletindo mundos discursivos particulares.
Daí o problema da banalização da
comunicação e a necessidade de se retomar certas liturgias e protocolos para
evitar discussões e desgastes desnecessários. Lamento; mas, nos falta
letramento tradicional e digital pra entender que os modos culturais interferem
no uso da linguagem.
Não dá para usar da informalidade,
tão comum nas mídias sociais, no contexto institucional, ou empresarial, ou em
qualquer outra situação que demande formalidade. A formalidade existe para resguardar,
por exemplo, a credibilidade, a importância do assunto. Portanto, é algo muito
sério!
Daí ser fundamental olhar para as
relações e interações sociocomunicativas sob o aspecto da construção de
sentidos das linguagens empregadas e como isso afeta situações importantes. Haja
vista o caso dos posts feitos pela Secretaria de Comunicação da Presidência da
República (SECOM) e pelo perfil oficial do Governo, ontem 1.
Infelizmente, dada a sua importância
institucional, falharam sim, ao usar de ironia na sua estratégia de comunicação.
O alvo da notícia deveria ser a Dengue. Uma doença que está em franca
proliferação, no país, e precisa da colaboração de todos os cidadãos para o seu
combate.
Não era momento de alfinetadas
políticas. Não era ético usar de espaço, mantido com recursos públicos, desviando-se
de sua finalidade primordial. Sim, é preciso estreitar, cada vez mais, as pontes
dialógicas do mundo virtual com a população; mas, não dessa forma.
O ser humano é dotado de ideias,
de pensamentos; mas, precisa aprender a manejá-los para alcançar seus propósitos.
Somos milhões de não nativos digitais e, talvez, por isso, a imensa dificuldade
de nos estabelecer para as relações e as interações sociocomunicativas, no
mundo virtual contemporâneo.
Daí a urgência do letramento
digital. Não só para possibilitar a construção de um senso crítico para a
utilização dos meios digitais; mas, para organizar-nos discursivamente dentro
dos diversos segmentos sociais e formas de produção e circulação da informação e
do conhecimento (multiletramento).