O péssimo
hábito de chocar ovos de serpente
Por Alessandra
Leles Rocha
Até quando o Brasil vai se valer
desse vitimismo oportunista, hein??? Não entendeu??? Estou falando desse
comportamento deplorável de aguardar pelas fatalidades e catástrofes para só,
então, tomar as atitudes cabíveis e pertinentes 1.
Enquanto é possível postergar,
fingir que não viu, desconversar, muita gente vai empurrando a bolinha de neve
rumo ao depois. Acontece que o depois sempre chega e aí, o que era uma bolinha
vira um bolão e faz um estrago monumental.
Ah, não pense que é só no campo
político que isso acontece! É em absolutamente todos os vieses da sociedade
brasileira. Questões simples. Questões complexas. Nada escapa dessa postergação
alienada.
Como se o brasileiro olhasse o
amanhã de binóculo e tivesse sempre a impressão de algo longínquo no horizonte.
Só que não. Todo agora espreita um amanhã, entendeu??? Faça-me o favor! Paremos
de olhar os acontecimentos recentes do país, como se uma coisa não dialogasse
diretamente com a outra.
Principalmente, quando se trata
de toda a efervescência em torno dos Poderes da República. Divergindo de outros
tempos, em que muito da história transcorria obscuro, os fatos contemporâneos estão
claros e sustentados por imagens, entrevistas, videos, provas judiciais, enfim.
De modo que não dá para dizer que
não é bem assim. Não dá para fazer cara de espanto. Não dá para tentar criar
interpretações estapafúrdias a respeito. ... Não, não dá. Isso é reflexo de uma
tentativa desesperada de revestir o vitimismo oportunista nacional em um manto
de ingenuidade e inocência, que é simplesmente nauseante.
Vamos e convenhamos, o Brasil é sim,
um celeiro de lobos em peles de cordeiro. Principalmente, quando se trata de
pessoas com algum poder e/ou influência. Infelizmente, arrastamos essas
correntes há tempos.
Portanto, sabemos muito bem que não
é a realidade nacional dos últimos anos que afirma essa questão; mas, as
páginas de pouco mais de 500 anos de história. O Brasil não se cansa de
reproduzir padrões sociocomportamentais nefastos.
Crenças, valores, princípios,
convicções, tudo parece conservar um aspecto histórico rançoso e desalinhado
das aspirações desenvolvimentistas que a evolução do mundo impõe.
Chegamos ao ponto de afrontar à
semântica e transformar inteligência em sinônimo de investigação, para
satisfazer ao desvirtuamento dos interesses nacionais.
E esse movimento é o ponto nevrálgico
do país. Ele faz e acontece e depois tira o corpo fora e veste o manto da
vítima das circunstâncias, para se abster das responsabilidades, das consequências,
das punições.
De modo que tudo, por pior e mais
terrível que seja, acaba contemporizado, atenuado, flexibilizado, consentido. Como
se fosse possível ao país viver eternamente sob a premissa de uma segunda
oportunidade, de um voto de confiança, de uma pseudoamizade.
Por isso, não se pode negar o
fato de que o Brasil é sim, imprevidente quanto a abrir precedentes! Vejam, precedentes
custam caro. Custam a fragilização da identidade nacional. Custam a credibilidade
diplomática e de comércio exterior. Custam a acomodação das tensões internas. Custam
o retrocesso.
Já passou da hora de o Brasil
enfrentar suas dificuldades, obstáculos, incertezas, complicações, adversidades
e embaraços, de maneira plena e objetiva, no exato momento em que elas
acontecem.
Não sei se você, leitor (a),
concorda; mas, entendo esse cenário como a raiz da fragilização democrática
nacional. Porque Democracia pede austeridade e autoridade, o que contraria
tamanha condescendência vigorando no país.
Infelizmente, não têm sido raros os
momentos, em que o Brasil tende a infantilizar os membros do topo da sua pirâmide
social, como se não dispusessem de plena consciência sobre suas
responsabilidades e deveres.
E isso não é apenas grave, é
gravíssimo! Deixar que um prenúncio do mal se materialize é totalmente sem
propósito! Mas, é exatamente isso o que a persistência do vitimismo oportunista
faz, quando se permite chocar, voluntariamente, algum “Ovo da Serpente”.
Quando o país se abstém dos seus
compromissos constitucionais, dos seus valores éticos e morais, da sua consciência
cidadã, da sua identidade nacional, nenhum espanto, nenhuma lágrima e/ou nenhum
pesar, é suficiente para absolvê-lo de suas transgressões e de seus delitos
dolosos. As consequências podem tardar; mas, elas não falham nunca. Pense nisso!