segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

O que dizem as entrelinhas???

O que dizem as entrelinhas???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

PEC da Blindagem. Anistia, com ou sem dosimetria. PEC da Segurança. ... Tensões e conflitos entre o Legislativo e o Executivo federal. No fim das contas, tudo converge para um mesmo ponto.

Não há como negar que certos membros do Legislativo federal se encontram profundamente desconfortáveis com a mudança de cenário promovida pelas investigações e ações da Polícia Federal (PF).

A impunidade que sempre circulou pelas altas rodas do poder está ameaçada. A complexa teia de delitos que se ramifica, também, pelo Congresso nacional, começou a ser revelada a partir do trabalho da PF.

Daí o abalo nos humores dessa gente. Ora, a velha práxis de tomar decisões e agir politicamente em troca de favores pessoais ou partidários, em detrimento do bem comum, começa a cobrar o seu preço.

Por isso tanta raiva, tanto descontentamento. Não bastasse serem pegos, de certa forma, com a boca na botija, esses indivíduos perderam a sua retórica antiprogressista.

Passaram anos, repetindo exaustivamente um discurso punitivista contra a corrupção, o mau uso do dinheiro público, a pseudogastança dos governos, atribuindo a culpa de tudo isso e muito mais aos progressistas, até que, de repente, seus crimes do colarinho branco começaram a vir à tona.  

Na verdade, foram traídos pela ganância, esse desejo exagerado e insaciável por riqueza, poder, bens ou qualquer outra coisa, movido pelo egoísmo e pela ausência de limites éticos e morais.

Sim, o chamado Orçamento Secreto, mecanismo de alocação de recursos federais por meio das emendas de relator, em razão da sua ausência de transparência permitia a troca de favores políticos para fortalecimento de certos grupos do poder do Legislativo.

Em suma, essa práxis nefasta favoreceu ao clientelismo, quando certos políticos oferecem benefícios pessoais ou serviços públicos a um grupo de pessoas em troca de apoio eleitoral, fragilizando a democracia e o controle de gastos públicos. 

Então, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi provocado a decidir a respeito e considerou o caso uma prática inconstitucional por violar princípios como a impessoalidade, a moralidade e a publicidade.

Afinal, as emendas do relator (RP-9) se caracterizavam pela falta de transparência, pois não se identificavam claramente o parlamentar responsável pela indicação e o destino do dinheiro. O que fez instalar o confronto entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, na figura do STF.

De modo que esse foi o primeiro sinal de que a impunidade político-partidária começava a ruir, na historicidade brasileira, tendo em vista de que muitos parlamentares passaram a ser investigados e não teriam como demonstrar a rastreabilidade desses recursos públicos.

Diante desse cenário, iniciaram uma crítica à interferência do Poder Judiciário em seu papel de debate e decisão de leis e políticas públicas, ou seja, os legisladores argumentaram que o Judiciário usurpava a prerrogativa da representação popular e da política de negociação, especialmente quando o Executivo se vê em desvantagem na esfera majoritária do parlamento.

Bom, a partir daí a Polícia Federal (PF) tem realizado diversas operações que apontam não só graves indícios de envolvimento político em crimes do colarinho branco; bem como, em desvios de emendas parlamentares e corrupção em contratos públicos.

Assim, relatos na imprensa e nas mídias sociais, nesse final de 2025, mencionam que a PF tem realizado operações no chamado “andar de cima" desses crimes, o que estaria causando preocupação entre políticos e empresários poderosos.

Por isso, nem tudo o que parece é. Pseudoinstatisfações dos Presidentes da Câmara e do Congresso federal, diante de certas decisões do Executivo, são apenas cortinas de fumaça, para encobrir esse histórico momento de esgarçamento e vulnerabilização da impunidade no país.