Inconsciência
cidadã... Ausência de decoro... A
fragilidade da ética brasileira.
Por
Alessandra Leles Rocha
Recentemente um ministro da
Suprema Corte brasileira respondeu às afrontas do governo estadunidense,
dizendo que o Brasil deixou de ser colônia em 1822. Em tese, sim. Mas, o que
vem sustentando essa visão equivocada e distorcida, ao longo desses pouco mais
de 500 anos, são as constantes manifestações de extrema subserviência e
subordinação, por parte de alguns cidadãos brasileiros.
O mais recente e absurdo exemplo,
diz respeito a um dos filhos de um ex-presidente da República, que apesar de
eleito Deputado Federal pelo estado de São Paulo, tem explicitamente abandonado
suas funções parlamentares no Brasil, para exercer campanha difamatória contra
o país, nos EUA.
O que significa que o referido
deputado tem cometido flagrante crime de lesa pátria, ou seja, tem buscado submeter
o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país,
a partir de falsas alegações.
Acontece que esse quadro rançoso dos
tempos coloniais brasileiros, custa caro ao erário. Ora, ao abdicar de cumprir
seu compromisso legislativo, na Câmara dos Deputados, em Brasília/DF, para tratar
de questões infundadas, em outro país, ele deveria ser intimado a se
desvincular da função.
Afinal de contas, é profundamente
constrangedor à Democracia brasileira que um membro do seu Poder Legislativo
cometa crime de lesa pátria e permaneça vinculado ao posto; bem como, desfrutando
de todas as regalias e privilégios dele.
Como venho dizendo há tempos,
caro (a) leitor (a), são os reflexos nocivos do nosso ranço colonial! Não
bastasse o infame comportamento em si, a existência de um corporativismo no ambiente
legislativo da República permite que seus pares silenciem de maneira omissa,
evitando que as medidas cabíveis sejam aplicadas.
Por essas e por outras que, lá
fora, há quem faça pouco da nossa soberania, da nossa democracia, do nosso
Estado de Direito, da nossa cidadania. Como se o Brasil fosse um verdadeiro
zero à esquerda, na geopolítica do mundo. Consequência infame do viralatismo irremediável
exercido por uns e outros.
E por quê isso acontece? Porque o
topo da pirâmide social brasileira, na qual estão presentes os representantes
político-partidários, não aceita quaisquer mudanças no status quo do
país. Não importa que esses indivíduos se sujeitem à mais abjeta subserviência,
em relação a outro país. Se eles puderem garantir suas regalias, privilégios, influências
e poderes, no ambiente interno, tudo bem.
O que significa que essa é uma
luta para a manutenção do imobilismo social, das desigualdades socioeconômicas,
do conservadorismo sociocultural, enfim... Em suma, o que querem esses
indivíduos é uma neocolonização brasileira e para isso, estão criando todo tipo
de estratégia para oferecer o país, de bandeja, aos EUA.
Aliás, sobre esse tipo de comportamento,
o antropólogo Darcy Ribeiro traz uma reflexão importante: “Às vezes se diz
que nossa característica essencial é a cordialidade, que faria de nós um povo
por excelência gentil e pacífico. Será assim? A feia verdade é que conflitos de
toda a ordem dilaceraram a história brasileira, étnicos, sociais, econômicos, religiosos,
raciais etc. O mais assinalável é que nunca são conflitos puros. Cada um se
pinta com as cores dos outros” (O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do
Brasil, 1995). Assim, o topo da pirâmide brasileira se apropria do país e
passa a decidir sobre seus rumos, à revelia do que pensa ou almeja o restante
da população.
Se não prestarmos bastante atenção, ao que acontece bem diante do nosso nariz, esse projeto neocolonialista pode sim, se efetivar. Aí, então, “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador” (Eduardo Galeano), porque estaremos a perpetuar o fato de que “Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade alheia: os impérios e seus beleguins nativos” (Eduardo Galeano). Afinal, “Temos, há muito tempo, guardado dentro de nós um silêncio bastante parecido com estupidez” (Eduardo Galeano).