sexta-feira, 14 de março de 2025

Inconsciência cidadã... Ausência de decoro... A fragilidade da ética brasileira.


Inconsciência cidadã...  Ausência de decoro... A fragilidade da ética brasileira.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Recentemente um ministro da Suprema Corte brasileira respondeu às afrontas do governo estadunidense, dizendo que o Brasil deixou de ser colônia em 1822. Em tese, sim. Mas, o que vem sustentando essa visão equivocada e distorcida, ao longo desses pouco mais de 500 anos, são as constantes manifestações de extrema subserviência e subordinação, por parte de alguns cidadãos brasileiros.

O mais recente e absurdo exemplo, diz respeito a um dos filhos de um ex-presidente da República, que apesar de eleito Deputado Federal pelo estado de São Paulo, tem explicitamente abandonado suas funções parlamentares no Brasil, para exercer campanha difamatória contra o país, nos EUA.

O que significa que o referido deputado tem cometido flagrante crime de lesa pátria, ou seja, tem buscado submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país, a partir de falsas alegações.

Acontece que esse quadro rançoso dos tempos coloniais brasileiros, custa caro ao erário. Ora, ao abdicar de cumprir seu compromisso legislativo, na Câmara dos Deputados, em Brasília/DF, para tratar de questões infundadas, em outro país, ele deveria ser intimado a se desvincular da função.

Afinal de contas, é profundamente constrangedor à Democracia brasileira que um membro do seu Poder Legislativo cometa crime de lesa pátria e permaneça vinculado ao posto; bem como, desfrutando de todas as regalias e privilégios dele.

Como venho dizendo há tempos, caro (a) leitor (a), são os reflexos nocivos do nosso ranço colonial! Não bastasse o infame comportamento em si, a existência de um corporativismo no ambiente legislativo da República permite que seus pares silenciem de maneira omissa, evitando que as medidas cabíveis sejam aplicadas.

Por essas e por outras que, lá fora, há quem faça pouco da nossa soberania, da nossa democracia, do nosso Estado de Direito, da nossa cidadania. Como se o Brasil fosse um verdadeiro zero à esquerda, na geopolítica do mundo. Consequência infame do viralatismo irremediável exercido por uns e outros.

E por quê isso acontece? Porque o topo da pirâmide social brasileira, na qual estão presentes os representantes político-partidários, não aceita quaisquer mudanças no status quo do país. Não importa que esses indivíduos se sujeitem à mais abjeta subserviência, em relação a outro país. Se eles puderem garantir suas regalias, privilégios, influências e poderes, no ambiente interno, tudo bem.

O que significa que essa é uma luta para a manutenção do imobilismo social, das desigualdades socioeconômicas, do conservadorismo sociocultural, enfim... Em suma, o que querem esses indivíduos é uma neocolonização brasileira e para isso, estão criando todo tipo de estratégia para oferecer o país, de bandeja, aos EUA.

Aliás, sobre esse tipo de comportamento, o antropólogo Darcy Ribeiro traz uma reflexão importante: “Às vezes se diz que nossa característica essencial é a cordialidade, que faria de nós um povo por excelência gentil e pacífico. Será assim? A feia verdade é que conflitos de toda a ordem dilaceraram a história brasileira, étnicos, sociais, econômicos, religiosos, raciais etc. O mais assinalável é que nunca são conflitos puros. Cada um se pinta com as cores dos outros” (O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil, 1995). Assim, o topo da pirâmide brasileira se apropria do país e passa a decidir sobre seus rumos, à revelia do que pensa ou almeja o restante da população.

Se não prestarmos bastante atenção, ao que acontece bem diante do nosso nariz, esse projeto neocolonialista pode sim, se efetivar. Aí, então, “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador” (Eduardo Galeano), porque estaremos a perpetuar o fato de que “Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade alheia: os impérios e seus beleguins nativos” (Eduardo Galeano). Afinal, “Temos, há muito tempo, guardado dentro de nós um silêncio bastante parecido com estupidez” (Eduardo Galeano).