Imagine...
Por
Alessandra Leles Rocha
Imagine a seguinte situação. Uma
pessoa se encontra em estado muito grave, correndo risco de morte e, ao
contrário de levá-la para o hospital e supri-la de todos os tratamentos
necessários para salvá-la, quem está ao seu redor fica administrando chás e remédios
inespecíficos para contornar a situação, que só faz se agravar.
Pois é, isso é o mesmo o que
acontece no Brasil nesse momento. Ao invés de tomar uma providência contundente
para evitar a expansão das crises em curso, diversas correntes políticas continuam
contemporizando a situação e aguardando pelo desfecho de uma eleição prevista
para 2022.
Claramente, isso significa que
estão mais preocupados consigo mesmos do que com o país. Se assim não fosse, já
estariam mobilizados e articulados para impedir a avalanche de desmandos que
insiste em estampar as manchetes midiáticas diariamente. Temos que concordar
que esses quase três anos de governo fizeram o Brasil patinar, patinar e não
sair do lugar, preso a um visgo de incompetências e inabilidades.
De modo que os dias têm sido de
um exaustivo calvário para a população. E se as esperanças em torno da
resolução dos problemas mais urgentes são minguadas e difíceis, pelo menos no
que diz respeito ao cerne do problema, que é a gestão de todos eles, isso
poderia já ter encontrado uma solução não fosse a inação travestida por
melindres e rapapés politiqueiros, de gente que prefere permanecer pisando em
ovos para não atrapalhar interesses próprios. O pior é que muitos destes ainda
têm a coragem de dizer que se preocupam com o país.
Sinceramente, não entendo uma
preocupação que coloca os interesses pessoais como prioridade. De repente, o
que se vislumbra diante dos olhos acaba sendo mais do mesmo de séculos de
história nacional. De um exercício político democrático que se coloca acima do
próprio pilar que o sustenta, que é a soberania popular. A política só existe
por ela, sem povo não há palanque, não há discurso, não há voto, não há
plataforma a ser defendida.
Então, olhando para as
conjunturas atuais não sei quem está fazendo pior papel nessa história. Se os
que estão à frente da gestão pública federal ou os que estão nos círculos do
poder político, porque ambos estão negligenciando a população de todas as
maneiras possíveis e inimagináveis. Tripudiando sobre o desespero e o desalento
de milhões de brasileiros que só fazem viver um dia de cada vez.
E eles sabem muito bem que o
tempo é inimigo dessa situação. Quanto mais ele corre, mais complexas ficam as
questões. Mais desespero pelas vacinas. Mais
desemprego. Mais miséria. Mais inflação. Mais juros. Mais escassez de água.
Mais risco de apagões elétricos. Mais temor de desabastecimento agropecuário.
... Por isso, o povo tem pressa. Ela representa o que lhe resta de sentimento
nesse mar de caos e de loucura. Enquanto seus corações saltam pela boca de
aflição desatinada é sinal de que ainda estão vivos. Vejam só, a que ponto
chegamos!
Ao permitir tamanha deterioração
e desconstrução das estruturas governamentais, por ausência de planejamentos
consistentes e embasados técnica e cientificamente, o governo brasileiro afetou
a estabilidade e a sustentabilidade da sua governança, expondo o país a riscos
e desafios, muitos deles, desnecessários. Entre insuficiências e o emprego
equivocado de recursos financeiros, criou-se obstáculos de gestão gravíssimos,
os quais têm repercutido diretamente sobre as políticas públicas.
E aí, quem paga o ônus desse
processo é sempre a população. Mas, até quando? Essa pergunta precisa sim, ser
feita, porque a conta está prestes a não fechar. O cenário socioeconômico
brasileiro está cada vez mais desalentador, o que significa que cada vez mais
pessoas podem menos, agravando o potencial de impacto sobre a sociedade. Um
exemplo disso é a Pandemia, quando milhares de pessoas perderam seus postos de
trabalho, seus planos privados de saúde e passaram a compor as fileiras
assistenciais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Sistema Único
de Saúde (SUS).
Quanto mais se acirram as
adversidades, mais dependentes das políticas públicas se torna a população e
mais investimentos são necessários para atendê-la nas suas demandas
emergenciais. Mas, como? Se o recurso governamental advém de impostos e a
arrecadação tende a cair abruptamente nesses contextos. Por isso, o desarranjo
do país precisa ser estancado o mais rapidamente para evitar o colapso total
das engrenagens.
Não dá mais para a classe
política se esconder ou se omitir diante dos fatos. Os erros cometidos já estão
postos para quem quiser ver. As urgências estão batendo à porta
insistentemente. Portanto, não é hora de retóricas vãs, é hora de ação, de
enfrentar os problemas na raiz de sua causa. Afinal de contas, política tem
tudo a ver com Direitos Humanos, com dignidade humana, com respeito humano.
Está faltando coerência ao Brasil. Ele sai por aí fazendo discursos, assumindo compromissos, e o mundo aguarda pelas respectivas respostas. E, de repente, ele age na contramão, usa o direito de não fazer nada como resposta, tentando acreditar que não tem nenhum problema. Mas tem. Perde a credibilidade. Perde o espaço no campo diplomático e do comércio exterior. Perde dinheiro. Perde influência. E isso é gravíssimo, porque no fim das contas, “Nossas vidas começam a acabar no dia em que nos calamos sobre as coisas que importam” (Martin Luther King Jr. – ativista político norte-americano e pastor de igreja protestante).