segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Imagine...


Imagine...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Imagine a seguinte situação. Uma pessoa se encontra em estado muito grave, correndo risco de morte e, ao contrário de levá-la para o hospital e supri-la de todos os tratamentos necessários para salvá-la, quem está ao seu redor fica administrando chás e remédios inespecíficos para contornar a situação, que só faz se agravar.

Pois é, isso é o mesmo o que acontece no Brasil nesse momento. Ao invés de tomar uma providência contundente para evitar a expansão das crises em curso, diversas correntes políticas continuam contemporizando a situação e aguardando pelo desfecho de uma eleição prevista para 2022.

Claramente, isso significa que estão mais preocupados consigo mesmos do que com o país. Se assim não fosse, já estariam mobilizados e articulados para impedir a avalanche de desmandos que insiste em estampar as manchetes midiáticas diariamente. Temos que concordar que esses quase três anos de governo fizeram o Brasil patinar, patinar e não sair do lugar, preso a um visgo de incompetências e inabilidades.

De modo que os dias têm sido de um exaustivo calvário para a população. E se as esperanças em torno da resolução dos problemas mais urgentes são minguadas e difíceis, pelo menos no que diz respeito ao cerne do problema, que é a gestão de todos eles, isso poderia já ter encontrado uma solução não fosse a inação travestida por melindres e rapapés politiqueiros, de gente que prefere permanecer pisando em ovos para não atrapalhar interesses próprios. O pior é que muitos destes ainda têm a coragem de dizer que se preocupam com o país.

Sinceramente, não entendo uma preocupação que coloca os interesses pessoais como prioridade. De repente, o que se vislumbra diante dos olhos acaba sendo mais do mesmo de séculos de história nacional. De um exercício político democrático que se coloca acima do próprio pilar que o sustenta, que é a soberania popular. A política só existe por ela, sem povo não há palanque, não há discurso, não há voto, não há plataforma a ser defendida.

Então, olhando para as conjunturas atuais não sei quem está fazendo pior papel nessa história. Se os que estão à frente da gestão pública federal ou os que estão nos círculos do poder político, porque ambos estão negligenciando a população de todas as maneiras possíveis e inimagináveis. Tripudiando sobre o desespero e o desalento de milhões de brasileiros que só fazem viver um dia de cada vez.

E eles sabem muito bem que o tempo é inimigo dessa situação. Quanto mais ele corre, mais complexas ficam as questões. Mais desespero pelas vacinas.  Mais desemprego. Mais miséria. Mais inflação. Mais juros. Mais escassez de água. Mais risco de apagões elétricos. Mais temor de desabastecimento agropecuário. ... Por isso, o povo tem pressa. Ela representa o que lhe resta de sentimento nesse mar de caos e de loucura. Enquanto seus corações saltam pela boca de aflição desatinada é sinal de que ainda estão vivos. Vejam só, a que ponto chegamos!

Ao permitir tamanha deterioração e desconstrução das estruturas governamentais, por ausência de planejamentos consistentes e embasados técnica e cientificamente, o governo brasileiro afetou a estabilidade e a sustentabilidade da sua governança, expondo o país a riscos e desafios, muitos deles, desnecessários. Entre insuficiências e o emprego equivocado de recursos financeiros, criou-se obstáculos de gestão gravíssimos, os quais têm repercutido diretamente sobre as políticas públicas.

E aí, quem paga o ônus desse processo é sempre a população. Mas, até quando? Essa pergunta precisa sim, ser feita, porque a conta está prestes a não fechar. O cenário socioeconômico brasileiro está cada vez mais desalentador, o que significa que cada vez mais pessoas podem menos, agravando o potencial de impacto sobre a sociedade. Um exemplo disso é a Pandemia, quando milhares de pessoas perderam seus postos de trabalho, seus planos privados de saúde e passaram a compor as fileiras assistenciais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Sistema Único de Saúde (SUS).

Quanto mais se acirram as adversidades, mais dependentes das políticas públicas se torna a população e mais investimentos são necessários para atendê-la nas suas demandas emergenciais. Mas, como? Se o recurso governamental advém de impostos e a arrecadação tende a cair abruptamente nesses contextos. Por isso, o desarranjo do país precisa ser estancado o mais rapidamente para evitar o colapso total das engrenagens.

Não dá mais para a classe política se esconder ou se omitir diante dos fatos. Os erros cometidos já estão postos para quem quiser ver. As urgências estão batendo à porta insistentemente. Portanto, não é hora de retóricas vãs, é hora de ação, de enfrentar os problemas na raiz de sua causa. Afinal de contas, política tem tudo a ver com Direitos Humanos, com dignidade humana, com respeito humano.

Está faltando coerência ao Brasil. Ele sai por aí fazendo discursos, assumindo compromissos, e o mundo aguarda pelas respectivas respostas. E, de repente, ele age na contramão, usa o direito de não fazer nada como resposta, tentando acreditar que não tem nenhum problema. Mas tem. Perde a credibilidade. Perde o espaço no campo diplomático e do comércio exterior. Perde dinheiro. Perde influência. E isso é gravíssimo, porque no fim das contas, “Nossas vidas começam a acabar no dia em que nos calamos sobre as coisas que importam” (Martin Luther King Jr. – ativista político norte-americano e pastor de igreja protestante).