Afinal,
o que vocês querem?!
Por
Alessandra Leles Rocha
As páginas da história do mundo
estão repletas de “mea-culpa”, de
gente que teve tempo, ou não, para rever conceitos e paradigmas totalmente
descolados da realidade. Isso é bacana, é sinal de evolução, de mente aberta para
reconhecer as necessidades de mudança e colocá-las em prática. Mais do que
nunca, não só o Brasil; mas, o mundo, precisa desse movimento de consciência.
A grande questão é que para sua
verdadeira efetivação, ele não pode ser excludente e nem exclusivo. A composição
precisa ser plural, abrir espaço para a vez e a voz de todos que consigam
enxergar os mesmos denominadores comuns para nomear suas indignações diante da
realidade. Porque a todo instante a vida coloca situações que são limítrofes para
todos, sem distinção, de modo que cabe a esse coletivo atuar em conjunto para
debelar o problema, ou o inimigo em comum.
Particularmente, eu creio que o país
perdeu uma imensa oportunidade de visibilizar a sua insatisfação nesse domingo;
pois, ainda pairava no ar a sombra dos acontecimentos do último 7 de setembro. Queria
ter visto as ruas lotadas e unidas pela força de pautas comuns que vêm
retirando o sossego e a qualidade de vida de milhões de brasileiros; mas, não
aconteceu. Por questões que ultrapassam as próprias fronteiras das diferenças e
desigualdades sociais, o Brasil tem dificuldade de desconstruir e ressignificar
cicatrizes profundas da sua história, particularmente, a mais recente.
E um desses pontos nevrálgicos, que
tanto despertou o desconforto de milhares nas redes sociais, era a presença de
grupos de direita, os quais haviam apoiado e referendado a atual gestão
federal. Isso porque, em parte, as pautas que os impulsionava a esse apoio foram
esvaziadas ou simplesmente desapareceram, ocasionando uma frustração imensa
nessas pessoas, ao ponto de fazê-las repensar seus pontos de vista. O problema
é que, para chegar até aqui, muito do que fizeram e disseram publicamente ainda
não foi esquecido e, nem tampouco, digerido por gigantesca massa de cidadãos.
Mas, é aí que se faz tão fundamental
a reflexão. Infelizmente, querendo ou não, a direita nas suas diversas facetas
não vai desaparecer do cenário nacional, ainda que se mudem as lideranças do
país. Há mais de 500 anos ela se instalou aqui, de malas e bagagens, para
compor a sociedade brasileira e defender pontos de vista costumeira e sabidamente
individualistas. Então, me parece que nada irá a demover desse objetivo, o que
explica a repulsa de tantos diante da sua recente manifestação de teor
ideologicamente controverso.
Cartas na mesa, então, será imprescindível
encontrar algo capaz de romper esse dissenso. A verdade é que não há lugar no
mundo onde o pensamento seja perfeitamente homogêneo, principalmente na arena
política. Pensando no Brasil, a Democracia que lhe sustenta é um palco de
representação das diversidades ideológicas e, por isso, transita o tempo todo
pela busca de consensos para atender demandas que possam satisfazer a sua
população. Às vezes dá certo. Às vezes não. Às vezes em parte. Mas, nesse jogo
de idas e vindas, de perdas e ganhos, o país segue seu curso em busca de
progressos e desenvolvimentos.
O importante é que nessa busca
exista respeito ao país na figura de seus mais de 213 milhões de habitantes;
sobretudo, os mais vulneráveis e invisibilizados. E para defendê-los contra
tudo e contra todos, que possam de algum modo ameaçar sua dignidade e sua sobrevivência,
será sempre necessário unir forças. A solidariedade não é feita por duas mãos,
ela é feita por um coletivo; assim como, a empatia, a fraternidade, a compaixão
e a civilidade. Aliás, sempre que penso sobre isso me recordo de um comercial
de TV, de 2011, que dizia “Existem razões
para acreditar. Os bons são maioria [...]” 1.
O importante é entender o que significa ser bom. E segundo o comercial, é nada
mais nada menos do que almejar que a bondade seja distribuída entre o maior
número de pessoas, a partir dos gestos mais simples do cotidiano.
O Brasil está vivenciando, nesses
últimos três anos, uma série de ameaças veladas e não veladas contra o seu
Estado Democrático de Direito. De modo que toda essa instabilidade política vem
afetando diretamente a governança do país e esfacelando a sobrevivência da sua
população, com diversas crises que afetam sobremaneira o setor econômico. Portanto,
é sobre essas razões, essas pautas, que aqueles que estiverem preocupados com
cada cidadão, independente de quem seja ou onde viva, devem se unir pelas
transformações necessárias.
Lembrando que tudo deve ser
pensado, “sem passar o carro na frente
dos bois”, elencando exatamente o que é prioridade agora, depois, mais
adiante. Bons planejamentos são estratégicos. Pensam em curto, em médio e em
longo prazo, sem se esquecerem de que ajustes são fundamentais por todo o
trajeto da caminhada. Há sempre algo de imprevisível à espreita. Há sempre
questões a serem resolvidas com mais ou menos facilidade. Enfim... O que não se
pode é se lançar sobre um futuro que, a depender do presente, pode até não
chegar. Por isso, um passo de cada vez, um problema de cada vez, uma discussão
de cada vez.