domingo, 12 de setembro de 2021

Afinal, o que vocês querem?!


Afinal, o que vocês querem?!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

As páginas da história do mundo estão repletas de “mea-culpa”, de gente que teve tempo, ou não, para rever conceitos e paradigmas totalmente descolados da realidade. Isso é bacana, é sinal de evolução, de mente aberta para reconhecer as necessidades de mudança e colocá-las em prática. Mais do que nunca, não só o Brasil; mas, o mundo, precisa desse movimento de consciência.

A grande questão é que para sua verdadeira efetivação, ele não pode ser excludente e nem exclusivo. A composição precisa ser plural, abrir espaço para a vez e a voz de todos que consigam enxergar os mesmos denominadores comuns para nomear suas indignações diante da realidade. Porque a todo instante a vida coloca situações que são limítrofes para todos, sem distinção, de modo que cabe a esse coletivo atuar em conjunto para debelar o problema, ou o inimigo em comum.   

Particularmente, eu creio que o país perdeu uma imensa oportunidade de visibilizar a sua insatisfação nesse domingo; pois, ainda pairava no ar a sombra dos acontecimentos do último 7 de setembro. Queria ter visto as ruas lotadas e unidas pela força de pautas comuns que vêm retirando o sossego e a qualidade de vida de milhões de brasileiros; mas, não aconteceu. Por questões que ultrapassam as próprias fronteiras das diferenças e desigualdades sociais, o Brasil tem dificuldade de desconstruir e ressignificar cicatrizes profundas da sua história, particularmente, a mais recente.

E um desses pontos nevrálgicos, que tanto despertou o desconforto de milhares nas redes sociais, era a presença de grupos de direita, os quais haviam apoiado e referendado a atual gestão federal. Isso porque, em parte, as pautas que os impulsionava a esse apoio foram esvaziadas ou simplesmente desapareceram, ocasionando uma frustração imensa nessas pessoas, ao ponto de fazê-las repensar seus pontos de vista. O problema é que, para chegar até aqui, muito do que fizeram e disseram publicamente ainda não foi esquecido e, nem tampouco, digerido por gigantesca massa de cidadãos.

Mas, é aí que se faz tão fundamental a reflexão. Infelizmente, querendo ou não, a direita nas suas diversas facetas não vai desaparecer do cenário nacional, ainda que se mudem as lideranças do país. Há mais de 500 anos ela se instalou aqui, de malas e bagagens, para compor a sociedade brasileira e defender pontos de vista costumeira e sabidamente individualistas. Então, me parece que nada irá a demover desse objetivo, o que explica a repulsa de tantos diante da sua recente manifestação de teor ideologicamente controverso.

Cartas na mesa, então, será imprescindível encontrar algo capaz de romper esse dissenso. A verdade é que não há lugar no mundo onde o pensamento seja perfeitamente homogêneo, principalmente na arena política. Pensando no Brasil, a Democracia que lhe sustenta é um palco de representação das diversidades ideológicas e, por isso, transita o tempo todo pela busca de consensos para atender demandas que possam satisfazer a sua população. Às vezes dá certo. Às vezes não. Às vezes em parte. Mas, nesse jogo de idas e vindas, de perdas e ganhos, o país segue seu curso em busca de progressos e desenvolvimentos.

O importante é que nessa busca exista respeito ao país na figura de seus mais de 213 milhões de habitantes; sobretudo, os mais vulneráveis e invisibilizados. E para defendê-los contra tudo e contra todos, que possam de algum modo ameaçar sua dignidade e sua sobrevivência, será sempre necessário unir forças. A solidariedade não é feita por duas mãos, ela é feita por um coletivo; assim como, a empatia, a fraternidade, a compaixão e a civilidade. Aliás, sempre que penso sobre isso me recordo de um comercial de TV, de 2011, que dizia “Existem razões para acreditar. Os bons são maioria [...]” 1. O importante é entender o que significa ser bom. E segundo o comercial, é nada mais nada menos do que almejar que a bondade seja distribuída entre o maior número de pessoas, a partir dos gestos mais simples do cotidiano.

O Brasil está vivenciando, nesses últimos três anos, uma série de ameaças veladas e não veladas contra o seu Estado Democrático de Direito. De modo que toda essa instabilidade política vem afetando diretamente a governança do país e esfacelando a sobrevivência da sua população, com diversas crises que afetam sobremaneira o setor econômico. Portanto, é sobre essas razões, essas pautas, que aqueles que estiverem preocupados com cada cidadão, independente de quem seja ou onde viva, devem se unir pelas transformações necessárias.

Lembrando que tudo deve ser pensado, “sem passar o carro na frente dos bois”, elencando exatamente o que é prioridade agora, depois, mais adiante. Bons planejamentos são estratégicos. Pensam em curto, em médio e em longo prazo, sem se esquecerem de que ajustes são fundamentais por todo o trajeto da caminhada. Há sempre algo de imprevisível à espreita. Há sempre questões a serem resolvidas com mais ou menos facilidade. Enfim... O que não se pode é se lançar sobre um futuro que, a depender do presente, pode até não chegar. Por isso, um passo de cada vez, um problema de cada vez, uma discussão de cada vez.