Como
dizem por aí, “de boas intenções...”
Por
Alessandra Leles Rocha
Tendo em vista a conjuntura atual
brasileira, não é possível fazer da “boa-fé”,
ou “boa intenção”, pretexto para
legitimar certas condutas, cujas excessivas repetições já dão conta do
esfacelamento ético e moral do país. Afinal, temos ou não um governo legítimo,
eleito democraticamente?
Porque o fato de o Congresso
Nacional vir atuando no sentido de construir uma agenda de empoderamento
institucional, que lhe permita não só tentar corrigir a total falta de habilidade
e competência do Presidente da República; mas, também, preservar a sua sobrevivência
política, está conduzindo o país a um vexame monumental.
Ao que se vê, a emenda está
ficando pior do que o soneto, diante da ausência de resultados práticos dessa
iniciativa absurda. Porque o país acaba não sendo nem presidencialista de fato
e de direito, nem tampouco, faz desse “parlamentarismo
branco” uma governança capaz de satisfazer as demandas urgentes com a
apresentação de resultados eficientes.
Tudo o que se consegue enxergar é
um país se equilibrando daqui e dali na corda-bamba, prestes a desabar. Ao ponto
de o mercado financeiro ter se postado na defensiva, depois das idas e vindas
em torno dos fatídicos discursos presidenciais no 7 de Setembro.
A gestão pública precisa ser
pragmática. Ela não pode se permitir aventurar pelos humores de quem quer que
seja, caso contrário, os resultados podem ser catastróficos dadas as infinitas variáveis
a serem constantemente analisadas e tratadas com toda a perícia de quem domina
o assunto.
Temos que concordar que, nesse momento,
a realidade não é das melhores para ousadias, o país está pululando desafios e
problemas, particularmente, na área econômica que é o pilar da governança como
um todo. Pois, segundo o dito popular, “Farinha
pouca, meu pirão primeiro”.
Arrisco até a dizer que a crise hídrica
será o “tendão de Aquiles” da
economia brasileira, porque as grandes questões econômicas perpassam pela
demanda da água. A escassez de chuvas e a redução intensa dos volumes dos
reservatórios no país não sinalizam quaisquer soluções em curto prazo para
aliviar o tarifaço da conta de energia elétrica, o risco de “apagões”, o pé no
freio da indústria e, por consequência, do comércio, a possibilidade de desabastecimento
agropecuário em relação a diversos produtos, enfim.
Aliás, melhor nem contar, também,
com a “boa vontade” dos países vizinhos
para um socorro eventual. Primeiro, porque tudo dependerá do tempo de duração
dessa crise, o que é algo complicado de se estimar mediante o cenário atual.
Segundo, porque as relações diplomáticas andam meio estremecidas por rusgas que
se intensificaram depois da suspensão do acordo comercial entre a União
Europeia e o Mercosul, em face da piora na situação ambiental e de direitos
humanos no Brasil.
De modo que cada “frame” de realidade adicionado ao
panorama brasileiro vai fornecendo argumentos para se desacreditar na existência
de um planejamento consistente, o bastante, para consolidar as soluções para
cada uma das demandas nacionais, sejam elas prioritárias ou não. Como se tudo
estivesse sendo conduzido ao sabor do “de
repente”, de um amadorismo politiqueiro que não leva nada a lugar nenhum; mas,
que serve de justificativa esfarrapada para negar a inação.
Afinal, como escreveu Cazuza, ainda
nos anos 80, “O tempo não para”1. Enquanto
ecoam tentativas desesperadas de discursos envernizados por uma excessiva condescendência,
o país agoniza e expõe as vísceras de suas mazelas mais recentes.
Uma Pandemia longe do fim. Um boicote
velado à eficiência e celeridade da imunização. Altas taxas de desemprego e
desalento. Retorno avassalador da pobreza e da miséria. Diferentes estratégias
de obstaculização ao ensino. Aceitação gratuita da “fuga de cérebros”. O caricato resgate de valores e comportamentos
coloniais. ... E por aí vai.
A verdade é uma só, minha gente,
esse péssimo hábito de buscar desculpas e pretextos pela via dos subterfúgios equivocados
e desalinhados só para não despender esforços resolutivos inconvenientes as práticas
usuais da camaradagem política, está nos matando, subjetiva e objetivamente,
lenta e gradativamente. Não nos esqueçamos, “Quem
poupa o lobo, sacrifica a ovelha” (Victor Hugo – escritor francês do século
XIX).
De modo que, enquanto não chega ao
fim, ao apagar das luzes, o Brasil passa a impressão de não conseguir mesmo romper
com a reafirmação de seu histórico conformismo ao desdém, aos insultos, as
negligências, as irresponsabilidades, que lhes são cotidianamente dirigidos, porque
aceita a vergonha como parte da sua própria identidade. Mas, até quando?