sábado, 11 de setembro de 2021

20 anos depois...


20 anos depois...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Quando a 2ª Guerra Mundial acabou, a humanidade foi levada a crer que aquele era o fim para a perversidade humana. Só que não. A dor, a perplexidade, a indignação, ... são sentimentos insuficientemente capazes de resistir a maldade de interesses mundanos. Então, colocadas as casas em ordem se viu emergir a Guerra Fria, as ameaças de ataques por ogivas nucleares, as novas faces do imperialismo, de modo que a belicosidade se tornou uma sombra constante sobre o planeta, tensionando subjetiva e objetivamente as linhas de poder.  

Havia sempre uma ameaça, um atentado, um massacre, sendo arquitetado ou executado em algum lugar. De modo que a paz não conseguia ser mais do que uma aspiração. Gerações e gerações pelo mundo cresceram experimentando esse processo de adaptação imposto pela violência exacerbada, o qual revelou uma incapacidade dialógica às esferas de poder, no sentido de construir uma diplomacia menos arraigada e mais flexível. As palavras se refugiaram atrás de grandes arsenais de guerra a fim de demonstrar toda a sua supremacia devastadora. Algo que fragilizava sobremaneira as eventuais tratativas de acordo e armistício entre opositores.

Eis, então, que numa manhã de sol em Manhattan, Nova Iorque, as Torres Gêmeas do World Trade Center foram atacadas por 2 aviões que se chocaram propositalmente contra elas. Era 11 de Setembro de 2001 e a organização fundamentalista islâmica al-Qaeda, sob a ação de 19 terroristas, sequestrou quatro aviões de passageiros para executar o maior de todos os atentados da história. Os outros dois aviões colidiram respectivamente contra a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Pentágono), no Condado de Arlington, estado da Virgínia, e em um campo aberto próximo de Shanksville, no estado da Pensilvânia, sem que houvesse sobreviventes em ambos.

Num sopro de fúria, o mundo viu morrer 2996 pessoas de uma única vez; e mais de 6,2 mil feridos foram computados nessa tragédia. A imprevisibilidade varreu as estratégias de guerra conhecidas, até aquele momento. Não houve negociação. Não houve possibilidade de se proteger. Não houve absolutamente nada que pudesse resguardar milhares de vidas civis daquele conflito odioso. Aliás, o plano foi estruturado meticulosamente para esse fim, porque não parecia ser o desejo desse grupo terrorista um confronto direto com o exército norte-americano, em razão da superioridade bélica existente.

Naquele 11 de Setembro, então, o mundo voltou à estaca zero do terror. Pelo menos, no que diz respeito ao mundo ocidental, todos se sentiram atacados e ameaçados. Poderia ser apenas esse episódio, como poderiam estar planejados muitos outros. O inesperado era tão grandioso e brutal que retirava a possibilidade de identificar imediatamente o potencial de fogo do inimigo, em toda a sua abrangência logística. Seriam necessários meses para isso, o que contribuía para arrastar pelo tempo os sofrimentos físicos e morais, até que alguma ação responsiva pudesse ressignificar, de algum modo, os acontecimentos.

Entretanto, lá se foram 20 anos, milhões de coisas boas e ruins aconteceram pelo mundo, mas ninguém que presenciou, direta ou indiretamente, o 11 de Setembro de 2001 consegue se desfazer das lembranças. À revelia da sua vontade, essas pessoas se tornaram sobreviventes dessa guerra, marcadas pelo horror humano que viram in loco ou não, o qual lhes revelou a dimensão da fragilidade, da impotência, do desespero e da aflição. Tudo de uma só vez. Foi como se o mundo tivesse sido usurpado dos vestígios de inocência que tentava guardar na alma.

No fim das contas, o Ocidente não foi mais o mesmo; mas, o Oriente também não. A geografia do mundo se desalinhou de tal maneira que as perspectivas e as expectativas se transformaram em sucessivos golpes de especulação. Uma desconfiança reinante repleta de ruídos diplomáticos por todos os lados foi configurada. Emergiu uma instabilidade tão intensa que se tornaram ainda mais incisivos os jogos de poder. Tudo porque a humanidade descobriu que havia um jeito novo de fazer guerra, de matar e morrer, de excluir a obviedade, de surpreender os serviços de inteligência.

E o que ganhou o planeta com tudo isso? Nada. A Terra continuou do mesmo tamanho, a girar na imensidão azul do céu, no silêncio da sua galáxia. De perto as desigualdades sociais persistem; assim como, as ambições, os delírios, as compulsões, os instintos. A vida sempre no limite da combustão, prestes a explodir suas fagulhas, suas farpas. Com todas as suas legiões e legiões de pessoas consumidas pelo abatimento das tensões cotidianas, dos sobressaltos causados pelas infinitas faces do medo, das incertezas que as espreitam esperando o momento mais oportuno para agir. No fundo, reflexos de nossa própria humanidade, de nossas deformidades existenciais, muitas vezes ocultas, que nos levam a transgredir as linhas, a cometer toda sorte de pecados inconfessáveis, em nome de algo, de uma recompensa, que nunca sequer existiu.