O Imperialismo
travestido de amor e ódio
Por Alessandra
Leles Rocha
Não é de hoje que venho
observando a relação de amor e ódio que se estabeleceu entre as Big Techs e a
sociedade global.
O ponto nevrálgico do conflito
diz respeito à liberdade, plena e irrestrita, das Big Techs. Legislações
limitantes que atravessem o caminho da sua lucratividade representam o estopim para
as tensões.
As Big Techs não querem quaisquer
regulamentações, controles ou ingerências sobre suas atividades,
principalmente, em relação as práxis de seus usuários.
E nem é preciso dizer, como a
internet e, particularmente, as mídias sociais, têm se tornado arenas de
extrema beligerância e de alta propagação de Fake News, interferindo
diretamente no equilíbrio social.
É sobre isso, então, que se
inicia o fio da reflexão. Não é à toa, por exemplo, que o mundo assistiu nos
últimos anos uma demissão em massa de funcionários dessas empresas e uma exposição
da realidade da precarização laboral delas.
Não, não se trata exclusivamente de redução de
custos, de otimização de processos, de aprimoramento tecnológico, ... Essas
demissões constituem instrumentos de obstaculização do atendimento aos
usuários. Dificultar o acesso à informação ou à reclamação, abre um espaço
favorável à manutenção de conteúdos, que fomentam a toxicidade social no ambiente
virtual, porque há uma demora em agir sobre a situação.
Aliás, em relação aos usuários,
tudo o que as Big Techs não dispõem é de igualdade e equidade para os seus
usuários. Há uma franca disposição ao favorecimento de certas pautas
ideológicas em detrimento de outras; bem como, entre celebridades (ou potenciais)
e cidadãos comuns. Daí, contas são sumariamente suspensas ou canceladas sem
maiores esclarecimentos.
Aos que ainda não entenderam o
que essa prática significa, há um comportamento obscuro que afeta o direito do consumidor,
porque existem mecanismos para impedir o procedimento de exclusão dos dados
dessas contas pelos próprios usuários.
Eles (as) não conseguem exercer esse
direito; mas, em contrapartida, a plataforma de mídia social permanece com os
seus dados, sem informar qual a necessidade de retenção deles, qual o tipo de
uso pode ser feito dessas informações, enfim.
Lamento dizer, mas as mídias sociais
transformam seus usuários em mercadorias de maior ou menor rentabilidade. Ao contrário
do que uma gigantesca legião de seres humanos, insiste em acreditar, esses não
são espaços de entretenimento e convivência social harmônica e equilibrada. Tudo
é milimetricamente pensado e estudado para gerar uma cadeia de lucros cada vez
mais significativa para as empresas.
Por isso, as violências, as mentiras,
as distorções, os golpes, ... têm encontrado nas mídias sociais um terreno fértil
para se estabelecer, considerando que o monitoramento desses conteúdos postados
é praticamente inexistente e a sua capacidade de captar visualizações acontece muito
rapidamente.
O que, de alguma forma, explica
porque as mídias sociais são denominadas arenas. Ao se transformarem em espaços
legitimados de confronto e beligerância extrema, retomam um sucesso histórico
desse modelo de pseudoentretenimento, o qual vigorou em certos lugares
do mundo.
Contudo, há de se reconhecer que esse
movimento contemporâneo reflete as marcas da incivilidade humana, apesar das
tentativas de domesticação do seu instinto bárbaro. Infelizmente, para muitos,
as arenas virtuais alimentam seu primitivismo de uma maneira irresistível. Então,
enquanto se perdem nesse deleite abjeto, as Big Techs ampliam seus limites de
faturamento, sem qualquer compromisso ético e/ou moral.
Portanto, é uma pena que mesmo
diante de todos esses aspectos, o ranço do vira-latismo1
nacional impeça muita gente, por aí, de compreender a verdade dos fatos. Há
mais de 500 anos e não aprendemos ainda a fazer escolhas ou tomar decisões, com
base em argumentos que não estejam imersos em puro puxa-saquismo estrangeiro. Como
se a nossa herança colonial não nos permitisse ser livres de atender aos
interesses internacionais ainda que isso nos humilhe, nos rebaixe, nos afronte.
De bajulação em bajulação, o
Brasil escancara a sua falta de identidade cidadã, o seu desapreço à Democracia,
a sua indiferença ao Estado de Direito, o seu desrespeito às Instituições e sua
população. Fazendo parecer que tudo isso é desimportante, desnecessário, obsoleto,
diante da euforia inebriante trazida pelas Tecnologias da Informação e da
Comunicação (TICs), alavancadas pelas Big Techs estrangeiras.
1
“Por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se
coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso
às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos
pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_vira-lata