quinta-feira, 6 de junho de 2024

A vida é o que é ...


A vida é o que é ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Se as forças extremistas tivessem tanta convicção, tanta certeza, sobre a solidez dos seus poderes, não precisariam gastar tanta energia e beligerância histriônica. Quanto mais eles agem dessa forma, mais eles parecem desesperados e fragilizados nas suas pretensões. Basta um bocado de atenção e qualquer um pode perceber!

De modo que todo esse acirramento non sense parece com os dias contados. Pois é, na medida em que a realidade do mundo não se curva a esse movimento caótico e desgastante, breve chegará o momento em que o cansaço e o desencanto tomará conta da própria insanidade. Sabe a velha máxima de dar murros em ponta de faca? É isso.

Não há idealização que se sustente ao ponto de substituir a realidade. A vida é o que é. E os fatos falam por si, mesmo quando se tenta subvertê-los, mascará-los, distorcê-los, enfim.  Não adianta repetir uma inverdade a fim de que ela se torne uma verdade. Como, também, não adianta lançar a culpa, disso ou daquilo, sobre os ombros de terceiros.

Bem, recentes notícias sobre criminalização das drogas, privatização do ensino público, transferência dos terrenos de marinha aos seus ocupantes particulares, violência e ausência de decoro parlamentar dentro do Congresso, fornecem uma boa dimensão a esse respeito. Afinal, entre o querer e o poder existem variáveis e surpresas capazes de atravessar o curso da história.

Como escreveu Chimamanda Ngozi Adichie, “A história sozinha cria estereótipos, e o problema com estereótipos é que não é que eles não sejam verdadeiros, mas que eles são incompletos. Eles fazem uma história se tornar a única história”. O que significa enviesar de maneira, tantas vezes, tendenciosa, uma certa questão, na medida em que traz à tona apenas a perspectiva limitada de quem conta a história. Sem réplica. Sem contra- argumentação.

No entanto, essa apropriação e distorção indébita dos fatos, comumente realizada pelas forças extremistas, na verdade, não muda aquilo que é. E, talvez, seja justamente por saber disso, que eles se comportam de maneira tão indócil e agressiva. A verdade, nua e crua, pode romper o horizonte a qualquer momento e desconstruir as suas ideias, de maneira avassaladora. Como foi com a “gripezinha” (Covid-19) que matou mais de 700 mil pessoas, no Brasil, por exemplo. Pois é, o vírus Sars-Cov-2 não deixou de ser letal, pela opinião de uns e outros, e as consequências foram vistas e sentidas, pela população em geral.  

Achincalhar, desqualificar, destruir reputações, ... como se tem visto fazer amiúde, na sociedade contemporânea, acaba se mostrando com prazo de validade muito limitado. Embora não pareça, o escrutínio individual reside, ainda que sob forte ataque de uma pseudoliberdade de escolha. Assim, a força do impacto produzido pela realidade; sobretudo, quando ela afeta diretamente o indivíduo, acaba sedo impossível permitir dar ouvidos às fantasias e ilusões.

Se assim não fosse, o extremismo já teria provocado uma massificação total na sociedade contemporânea. Todos, sem distinção, estariam seguindo a mesma cartilha, sem discussão. Mas, estamos vendo que não é assim que a banda toca! Apesar de todos os pesares, eles continuam vociferando e se descabelando para agradar a sua própria bolha, o seu nicho controlado, enquanto a vida segue o baile e apara as arestas.

Quer um exemplo, houve quem delirasse com a recente derrubada aos vetos presidenciais e à política do pânico produzida por alguns setores da economia, para não admitir a realidade. Sim, os vetos foram derrubados pela oposição; mas, logo em seguida, o que se viu foi uma desagregação interna do grupo, surpreendendo em votação de pautas do seu próprio interesse. Mostrando que eles não são tão coesos e coerentes como querem dizer, por aí! No campo econômico, os dados falam por si e contradizem as especulações. Sem contar que suspeitas de dissonância em informações recentes do Banco Central estão sendo investigadas pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Já dizia Umberto Eco, “Nem todas as verdades são para todos os ouvidos” (O nome da Rosa, 1980). Há no ser humano uma marca de vaidade que, muitas vezes, o impede de aceitar que o mundo não orbita as suas vontades e quereres. Daí a histrionia que se vê manifesta pelos extremistas e que, no fim das contas, não leva nada a lugar nenhum.

Podem quebrar, destruir, arranhar, depreciar, ... mas, o cerne dos fatos permanece inabalável, seguindo o seu curso, como tem que ser. Como um quebra-cabeça em que se tenta encaixar uma peça, de qualquer maneira, no lugar errado. Não dá certo. Não funciona. Não se chega ao resultado esperado. O desalinho, o desajuste, se torna visível, flagrante.

Por isso, diante desse turbilhão de desvarios, não se deve bater palmas para maluco dançar. Postar-se tomado de indignação, de raiva, de desagrado, só faz satisfazer as expectativas dessa gente. Passando a girar na mesma frequência insana do extremismo, não chegando à objetivo algum, exceto a um profundo desânimo.

É preciso lembrar que tudo na existência humana repercute, reverbera, suas consequências e desdobramentos. Alguns previsíveis, outros não. Alguns positivos, outros não. Mas, no frigir dos ovos, eles se organizam a fim de prevalecer a força da realidade. O que significa que nada é para sempre, taxativo, imutável. Basta aguardar que a situação decante por si só.

Quem já leu o conto “Buddha e o Riacho” 1 vai entender! Ou quem já ouviu falar sobre a teoria do Efeito Borboleta, cunhado por Edward Lorenz, sabe que a interligação de eventos, aparentemente não relacionados, de repente, por uma alteração em um deles é capaz de produzir consequências significativas em outros locais. Portanto, torna-se fundamental ver a situação como ela realmente é. De preferência, sem projeções futuras, sem conjecturas. Dessa forma se evita capitalizar os delírios alheios. Pense a respeito!