A vida é
o que é ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Se as forças extremistas tivessem
tanta convicção, tanta certeza, sobre a solidez dos seus poderes, não
precisariam gastar tanta energia e beligerância histriônica. Quanto mais eles
agem dessa forma, mais eles parecem desesperados e fragilizados nas suas
pretensões. Basta um bocado de atenção e qualquer um pode perceber!
De modo que todo esse acirramento
non sense parece com os dias contados. Pois é, na medida em que a
realidade do mundo não se curva a esse movimento caótico e desgastante, breve
chegará o momento em que o cansaço e o desencanto tomará conta da própria insanidade.
Sabe a velha máxima de dar murros em ponta de faca? É isso.
Não há idealização que se
sustente ao ponto de substituir a realidade. A vida é o que é. E os fatos falam
por si, mesmo quando se tenta subvertê-los, mascará-los, distorcê-los,
enfim. Não adianta repetir uma inverdade
a fim de que ela se torne uma verdade. Como, também, não adianta lançar a
culpa, disso ou daquilo, sobre os ombros de terceiros.
Bem, recentes notícias sobre
criminalização das drogas, privatização do ensino público, transferência dos
terrenos de marinha aos seus ocupantes particulares, violência e ausência de
decoro parlamentar dentro do Congresso, fornecem uma boa dimensão a esse
respeito. Afinal, entre o querer e o poder existem variáveis e surpresas
capazes de atravessar o curso da história.
Como escreveu Chimamanda Ngozi
Adichie, “A história sozinha cria estereótipos, e o problema com estereótipos
é que não é que eles não sejam verdadeiros, mas que eles são incompletos. Eles fazem
uma história se tornar a única história”. O que significa enviesar de
maneira, tantas vezes, tendenciosa, uma certa questão, na medida em que traz à
tona apenas a perspectiva limitada de quem conta a história. Sem réplica. Sem
contra- argumentação.
No entanto, essa apropriação e
distorção indébita dos fatos, comumente realizada pelas forças extremistas, na
verdade, não muda aquilo que é. E, talvez, seja justamente por saber disso, que
eles se comportam de maneira tão indócil e agressiva. A verdade, nua e crua,
pode romper o horizonte a qualquer momento e desconstruir as suas ideias, de
maneira avassaladora. Como foi com a “gripezinha” (Covid-19) que matou
mais de 700 mil pessoas, no Brasil, por exemplo. Pois é, o vírus Sars-Cov-2 não
deixou de ser letal, pela opinião de uns e outros, e as consequências foram
vistas e sentidas, pela população em geral.
Achincalhar, desqualificar,
destruir reputações, ... como se tem visto fazer amiúde, na sociedade contemporânea,
acaba se mostrando com prazo de validade muito limitado. Embora não pareça, o escrutínio
individual reside, ainda que sob forte ataque de uma pseudoliberdade de
escolha. Assim, a força do impacto produzido pela realidade; sobretudo, quando
ela afeta diretamente o indivíduo, acaba sedo impossível permitir dar ouvidos
às fantasias e ilusões.
Se assim não fosse, o extremismo
já teria provocado uma massificação total na sociedade contemporânea. Todos,
sem distinção, estariam seguindo a mesma cartilha, sem discussão. Mas, estamos vendo
que não é assim que a banda toca! Apesar de todos os pesares, eles continuam
vociferando e se descabelando para agradar a sua própria bolha, o seu nicho
controlado, enquanto a vida segue o baile e apara as arestas.
Quer um exemplo, houve quem
delirasse com a recente derrubada aos vetos presidenciais e à política do pânico
produzida por alguns setores da economia, para não admitir a realidade. Sim, os
vetos foram derrubados pela oposição; mas, logo em seguida, o que se viu foi
uma desagregação interna do grupo, surpreendendo em votação de pautas do seu próprio
interesse. Mostrando que eles não são tão coesos e coerentes como querem dizer,
por aí! No campo econômico, os dados falam por si e contradizem as
especulações. Sem contar que suspeitas de dissonância em informações recentes do
Banco Central estão sendo investigadas pelo Ministério Público junto ao
Tribunal de Contas da União (TCU).
Já dizia Umberto Eco, “Nem
todas as verdades são para todos os ouvidos” (O nome da Rosa, 1980). Há no
ser humano uma marca de vaidade que, muitas vezes, o impede de aceitar que o
mundo não orbita as suas vontades e quereres. Daí a histrionia que se vê
manifesta pelos extremistas e que, no fim das contas, não leva nada a lugar
nenhum.
Podem quebrar, destruir,
arranhar, depreciar, ... mas, o cerne dos fatos permanece inabalável, seguindo
o seu curso, como tem que ser. Como um quebra-cabeça em que se tenta encaixar
uma peça, de qualquer maneira, no lugar errado. Não dá certo. Não funciona. Não
se chega ao resultado esperado. O desalinho, o desajuste, se torna visível,
flagrante.
Por isso, diante desse turbilhão
de desvarios, não se deve bater palmas para maluco dançar. Postar-se tomado de
indignação, de raiva, de desagrado, só faz satisfazer as expectativas dessa
gente. Passando a girar na mesma frequência insana do extremismo, não chegando à
objetivo algum, exceto a um profundo desânimo.
É preciso lembrar que tudo na existência
humana repercute, reverbera, suas consequências e desdobramentos. Alguns previsíveis,
outros não. Alguns positivos, outros não. Mas, no frigir dos ovos, eles se
organizam a fim de prevalecer a força da realidade. O que significa que nada é
para sempre, taxativo, imutável. Basta aguardar que a situação decante por si
só.
Quem já leu o conto “Buddha
e o Riacho” 1 vai
entender! Ou quem já ouviu falar sobre a teoria do Efeito Borboleta, cunhado
por Edward Lorenz, sabe que a interligação de eventos, aparentemente não relacionados,
de repente, por uma alteração em um deles é capaz de produzir consequências
significativas em outros locais. Portanto, torna-se fundamental ver a situação
como ela realmente é. De preferência, sem projeções futuras, sem conjecturas. Dessa
forma se evita capitalizar os delírios alheios. Pense a respeito!