sexta-feira, 7 de junho de 2024

Hora de reorganizar as prioridades!


Hora de reorganizar as prioridades!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Sempre existiram pessoas com imensa dificuldade em lidar com a realidade, acontece que a contemporaneidade exige, com muito mais rigor, essa habilidade. Então, quando eu acesso os veículos de comunicação e de informação, sejam eles tradicionais ou alternativos, e começo a observar as temáticas de análise e de discussão, percebo como há pessoas brincando com fogo. Pois é, gente que reluta, terminantemente, em ver a dinâmica do cotidiano como ela está se processando; bem como, em estabelecer um novo rol de prioridades a serem perseguidas.  

Depois dos recentes acontecimentos que assolaram o estado do Rio Grande do Sul e provam como a recuperação é bem mais do que uma tarefa árdua, não deveria haver espaço para outra coisa senão uma profunda reflexão sobre os caminhos que o país vem trilhando.

Aliás, a matéria intitulada “Por que cientistas preveem que próxima temporada de furacões no Atlântico será ‘extraordinária’” 1 representa um alerta interessante para se colocar em prática nossos freios de arrumação, o mais rápido possível.

Se muitos não estivessem tão ensimesmados em seus pseudopoderes, em seus interesses mundanos, em suas vaidades e prepotências, certamente, estariam inseguros e desconfortáveis diante das possibilidades terríveis; mas, infelizmente, plausíveis, de acontecer. O que me faz lembrar uma citação de Henry David Thoreau que diz “Qual é a utilidade de uma casa, se não há um planeta tolerável onde possamos colocá-la?”. Mais didático do que isso, impossível!

Daqui e dali o que se ouve é um falatório embolado, misturado de assuntos, de fato, visivelmente menores, se observados pela perspectiva de um risco real e imediato a nos rondar, como aconteceu no Rio Grande do Sul.

Pode ser uma enchente desdobrada em inundação total. Pode ser um furacão ou tornado. Pode ser uma seca sem precedentes. Pode ser um calor extremo. Pode ser um abalo de terra. Enfim, pode ser qualquer evento insólito; mas, suficientemente capaz de revirar a vida, em todos os seus vieses, pelo avesso.

E ainda que dispuséssemos do plano de ação perfeito para atender às demandas críticas da situação, a organização sistêmica do país; sobretudo, pela ótica econômica, não seria capaz de lidar com tamanho ônus repentino.

Aliás, esse não é um problema só do Brasil, é geral. Nenhum país do mundo tem como enfrentar, sem maiores impactos, os desafios socioeconômicos desencadeados por situações insólitas. Haja vista o modo como reverberou, e ainda reverbera, a pandemia da COVID-19 sobre a economia global.

A resistência em admitir as transformações explica, de certo modo, esse cenário. A ideia de se apegar em certezas, fundamentadas nas próprias crenças, valores e convicções, leva milhões de pessoas a estabelecer uma rotina de postergações, diante de circunstâncias que lhes pareçam ruins, desagradáveis, ameaçadoras.

Simplesmente, elas abdicam da prevenção, do cuidado, da atenção, o quanto for possível. Aí, quando as conjunturas mudam e se mostram plenamente hostis, elas não têm como fugir das obrigações e do enfrentamento da realidade. Basta observar, nos mais diferentes ambientes sociais, como isso acontece.

Por isso, temos que nos atentar. As projeções, conjecturas, expectativas, que orbitam o país, nesse momento, infelizmente, não tratam das verdadeiras prioridades nacionais. No andar da carruagem contemporânea, o que é pode não ser mais, em fração de segundos.

De uma hora para outra, a realidade pode ser reconfigurada à revelia de quaisquer vontades, quereres ou interesses.  Basta uma visita do imprevisível. E aí teremos que caber dentro das possibilidades que estiverem disponíveis.

Nem adianta depositar toda a fé e credulidade nos poderes do mundo. Dinheiro, status, influência, ... nenhum desses elementos representa uma blindagem plena, integral. Haja vista “As ilhas de R$63 bilhões que se tornaram ‘projeto mais inútil do mundo’ em Dubai” 2.

Portanto, é hora de rever nossos conceitos, nossos planos, nossos objetivos. O velho ranço histórico colonial já não cabe e, nem tampouco, satisfaz à nossa realidade contemporânea. Inclusive, ele é sim, um ponto de paralisia, de estagnação, que nos impede de ver, de pensar e de tomar as decisões, as quais precisam ser urgentemente colocadas em ação.   

Resistir às transformações não é uma opção, uma escolha ou uma decisão. Os ventos da mudança estão batendo, furiosa e insistentemente, à nossa porta! Assim, lembremo-nos das palavras de Charles Darwin, “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. Afinal de contas, “A permanência é uma ilusão. Somente a mudança é real. É impossível pisar duas vezes no mesmo rio” (Heráclito).