Hora de
reorganizar as prioridades!
Por Alessandra
Leles Rocha
Sempre existiram pessoas com
imensa dificuldade em lidar com a realidade, acontece que a contemporaneidade exige,
com muito mais rigor, essa habilidade. Então, quando eu acesso os veículos de
comunicação e de informação, sejam eles tradicionais ou alternativos, e começo
a observar as temáticas de análise e de discussão, percebo como há pessoas
brincando com fogo. Pois é, gente que reluta, terminantemente, em ver a dinâmica
do cotidiano como ela está se processando; bem como, em estabelecer um novo rol
de prioridades a serem perseguidas.
Depois dos recentes
acontecimentos que assolaram o estado do Rio Grande do Sul e provam como a
recuperação é bem mais do que uma tarefa árdua, não deveria haver espaço para outra
coisa senão uma profunda reflexão sobre os caminhos que o país vem trilhando.
Aliás, a matéria intitulada “Por
que cientistas preveem que próxima temporada de furacões no Atlântico será ‘extraordinária’”
1 representa um alerta interessante para
se colocar em prática nossos freios de arrumação, o mais rápido possível.
Se muitos não estivessem tão
ensimesmados em seus pseudopoderes, em seus interesses mundanos, em suas
vaidades e prepotências, certamente, estariam inseguros e desconfortáveis
diante das possibilidades terríveis; mas, infelizmente, plausíveis, de
acontecer. O que me faz lembrar uma citação de Henry David Thoreau que diz “Qual
é a utilidade de uma casa, se não há um planeta tolerável onde possamos colocá-la?”.
Mais didático do que isso, impossível!
Daqui e dali o que se ouve é um
falatório embolado, misturado de assuntos, de fato, visivelmente menores, se
observados pela perspectiva de um risco real e imediato a nos rondar, como
aconteceu no Rio Grande do Sul.
Pode ser uma enchente desdobrada
em inundação total. Pode ser um furacão ou tornado. Pode ser uma seca sem
precedentes. Pode ser um calor extremo. Pode ser um abalo de terra. Enfim, pode
ser qualquer evento insólito; mas, suficientemente capaz de revirar a vida, em
todos os seus vieses, pelo avesso.
E ainda que dispuséssemos do
plano de ação perfeito para atender às demandas críticas da situação, a organização
sistêmica do país; sobretudo, pela ótica econômica, não seria capaz de lidar
com tamanho ônus repentino.
Aliás, esse não é um problema só
do Brasil, é geral. Nenhum país do mundo tem como enfrentar, sem maiores
impactos, os desafios socioeconômicos desencadeados por situações insólitas. Haja
vista o modo como reverberou, e ainda reverbera, a pandemia da COVID-19 sobre a
economia global.
A resistência em admitir as
transformações explica, de certo modo, esse cenário. A ideia de se apegar em
certezas, fundamentadas nas próprias crenças, valores e convicções, leva milhões
de pessoas a estabelecer uma rotina de postergações, diante de circunstâncias
que lhes pareçam ruins, desagradáveis, ameaçadoras.
Simplesmente, elas abdicam da
prevenção, do cuidado, da atenção, o quanto for possível. Aí, quando as
conjunturas mudam e se mostram plenamente hostis, elas não têm como fugir das
obrigações e do enfrentamento da realidade. Basta observar, nos mais diferentes
ambientes sociais, como isso acontece.
Por isso, temos que nos atentar. As
projeções, conjecturas, expectativas, que orbitam o país, nesse momento,
infelizmente, não tratam das verdadeiras prioridades nacionais. No andar da carruagem
contemporânea, o que é pode não ser mais, em fração de segundos.
De uma hora para outra, a
realidade pode ser reconfigurada à revelia de quaisquer vontades, quereres ou
interesses. Basta uma visita do imprevisível.
E aí teremos que caber dentro das possibilidades que estiverem disponíveis.
Nem adianta depositar toda a fé e
credulidade nos poderes do mundo. Dinheiro, status, influência, ... nenhum
desses elementos representa uma blindagem plena, integral. Haja vista “As
ilhas de R$63 bilhões que se tornaram ‘projeto mais inútil do mundo’ em Dubai” 2.
Portanto, é hora de rever nossos
conceitos, nossos planos, nossos objetivos. O velho ranço histórico colonial já
não cabe e, nem tampouco, satisfaz à nossa realidade contemporânea. Inclusive, ele
é sim, um ponto de paralisia, de estagnação, que nos impede de ver, de pensar e
de tomar as decisões, as quais precisam ser urgentemente colocadas em ação.
Resistir às transformações não é
uma opção, uma escolha ou uma decisão. Os ventos da mudança estão batendo,
furiosa e insistentemente, à nossa porta! Assim, lembremo-nos das palavras de
Charles Darwin, “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente,
mas o que melhor se adapta às mudanças”. Afinal de contas, “A permanência
é uma ilusão. Somente a mudança é real. É impossível pisar duas vezes no mesmo
rio” (Heráclito).