A Terra e
seus desafios socioambientais
Por
Alessandra Leles Rocha
São 52 anos desde a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (ou Conferência de Estocolmo),
que estabeleceu o Dia Mundial do Meio Ambiente. E a importância desse recorte
temporal está no fato de ser um marco de discussão e reflexão sobre uma tríade
de questões fundamentais - desenvolvimento, antropização e desigualdade – cujo
protagonismo está nas mãos dos seres humanos.
E esse é o ponto! A questão não é
ambiental, ela é socioambiental. As mudanças que vimos acontecer ao longo dos
séculos; sobretudo, após a segunda metade do século XVIII, deixam claras a
dimensão da interferência humana sobre a dinâmica do planeta. De modo que não
se pode fazer uma dissociação que leve a uma isenção de responsabilidades dos
indivíduos.
Todas as vezes em que pensamos no
uso e ocupação do solo, na produção das cidades, na urbanização, na agricultura
intensiva, na mineração, a ação humana é a responsável. E toda essa intervenção
na geografia do planeta atua como fator de desequilíbrio da ordem natural, que
reverbera suas consequências e desdobramentos, na medida da intensificação e
periodização das ações.
Algo tão sério que começou, inclusive, a ser debatido em 1968, por um grupo de pessoas importantes, pertencentes a diferentes espectros sociais – políticos, economistas, urbanistas, ambientalistas e outros -, denominado Clube de Roma. Cujas discussões a respeito do desenvolvimento da humanidade, sob os mais diversos aspectos, resultaram no Relatório Meadows, publicado em 1972, com o título de “Os limites do Crescimento”.
No entanto, ao longo de todas
essas décadas, as autoridades do planeta, em sua grande e significativa
maioria, se colocaram refratárias a essas e demais discussões posteriores,
sobre o tema. Em uma franca tentativa de silenciar os fatos e absterem-se de suas
responsabilidades. Acontece que a realidade é implacável e ela não se curva aos
interesses ou às ordens de quem quer que seja.
Então, em pleno século XXI,
chegamos ao limite de ter que estabelecer como tema do Dia Mundial do Meio
Ambiente a “restauração de terras, desertificação e resiliência à seca”, porque
em razão da imposição de interesses capitais em detrimento da sobrevivência,
estamos diante de três crises sem precedentes. A crise das mudanças climáticas.
A crise da natureza com sua perda de biodiversidade; sobretudo, pela
desertificação. E a crise da poluição e dos resíduos.
Ao ponto de que essa degradação
da terra e desertificação já afeta aproximadamente 40% do solo do planeta, o
que repercute diretamente sobre metade da população mundial. Segundo
informações das Nações Unidas, “O número e a duração das secas aumentaram em
29% desde 2000 e, sem uma ação urgente, as secas podem afetar mais de três
quartos da população mundial até 2050” 1.
Ao contrário do que uns e outros,
por aí, pensam, não se trata de credibilizar ou descredibilizar estudos e
análises estatísticas a fim de ratificar a necessidade de mudanças e
comportamentos. Temos que mudar em nome daquilo que já se vê, já se sente, já
faz parte da realidade em que estamos imersos. Infelizmente, todo o conjunto
teórico-científico, desenvolvido ao longo de décadas, não foi suficientemente
capaz de demover, da indiferença e da incredulidade, milhões de seres humanos.
Segundo Gro Harlem Brundtland,
ex-Primeira-Ministra da Noruega, “Ao longo do século XX, o crescimento
econômico foi medido pelo acúmulo do capital financeiro e de capital humano sem
levar em consideração as mudanças no capital natural e nem dos riscos sociais.
No século XXI, o objetivo deve ser uma economia verde – um padrão de
crescimento econômico que realmente leva a melhorias na vida das pessoas sem
prejudicar o meio ambiente”.
Pouco mais de uma década, após
essa declaração, permanecemos assistindo aos esforços empenhados no
desenvolvimento, na antropização e na desigualdade, com o objetivo de acumular
cada vez mais riquezas. Entretanto, paralelamente, em uma dinâmica diretamente
proporcional, temos esses recursos se perdendo, diante do recrudescimento das
tragédias socioambientais.
Sim, a verdade é implacável! Não
adianta negar. Não adianta trabalhar na direção contrária. Não adianta mentir.
Não adianta. O ser humano não pode tudo. Ainda que ele não queira aceitar os
limites, esses não deixam de existir, por isso ou por aquilo.
Em algum momento da história,
eles aparecem. A matéria intitulada “O choque de empobrecimento em próspero
vale gaúcho: ‘terras que valiam milhões não valem mais nada’” 2, por exemplo,
traz a perfeita dimensão a esse respeito.
O limite chegou, de maneira
trágica; mas, chegou. O dinheiro não vai poder restituir essas perdas, na sua
inteireza. Simplesmente, porque isso engloba aspectos práticos, objetivos; mas,
também, subjetivos.
Se a raça humana quiser ter uma oportunidade de sobreviver terá que aceitar a construção de uma nova ordem social, política, econômica e cultural. Immanuel Kant dizia que “Não somos ricos pelo que temos, e sim pelo que não precisamos ter”. Essa é a reflexão que todo ser humano precisa, com urgência, fazer, ou seja, precisamos SER a invés de TER!