quarta-feira, 5 de junho de 2024

A Terra e seus desafios socioambientais


A Terra e seus desafios socioambientais

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

São 52 anos desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (ou Conferência de Estocolmo), que estabeleceu o Dia Mundial do Meio Ambiente. E a importância desse recorte temporal está no fato de ser um marco de discussão e reflexão sobre uma tríade de questões fundamentais - desenvolvimento, antropização e desigualdade – cujo protagonismo está nas mãos dos seres humanos.

E esse é o ponto! A questão não é ambiental, ela é socioambiental. As mudanças que vimos acontecer ao longo dos séculos; sobretudo, após a segunda metade do século XVIII, deixam claras a dimensão da interferência humana sobre a dinâmica do planeta. De modo que não se pode fazer uma dissociação que leve a uma isenção de responsabilidades dos indivíduos.

Todas as vezes em que pensamos no uso e ocupação do solo, na produção das cidades, na urbanização, na agricultura intensiva, na mineração, a ação humana é a responsável. E toda essa intervenção na geografia do planeta atua como fator de desequilíbrio da ordem natural, que reverbera suas consequências e desdobramentos, na medida da intensificação e periodização das ações.

Algo tão sério que começou, inclusive, a ser debatido em 1968, por um grupo de pessoas importantes, pertencentes a diferentes espectros sociais – políticos, economistas, urbanistas, ambientalistas e outros -, denominado Clube de Roma. Cujas discussões a respeito do desenvolvimento da humanidade, sob os mais diversos aspectos, resultaram no Relatório Meadows, publicado em 1972, com o título de “Os limites do Crescimento”.   

No entanto, ao longo de todas essas décadas, as autoridades do planeta, em sua grande e significativa maioria, se colocaram refratárias a essas e demais discussões posteriores, sobre o tema. Em uma franca tentativa de silenciar os fatos e absterem-se de suas responsabilidades. Acontece que a realidade é implacável e ela não se curva aos interesses ou às ordens de quem quer que seja.

Então, em pleno século XXI, chegamos ao limite de ter que estabelecer como tema do Dia Mundial do Meio Ambiente a “restauração de terras, desertificação e resiliência à seca”, porque em razão da imposição de interesses capitais em detrimento da sobrevivência, estamos diante de três crises sem precedentes. A crise das mudanças climáticas. A crise da natureza com sua perda de biodiversidade; sobretudo, pela desertificação. E a crise da poluição e dos resíduos.

Ao ponto de que essa degradação da terra e desertificação já afeta aproximadamente 40% do solo do planeta, o que repercute diretamente sobre metade da população mundial. Segundo informações das Nações Unidas, “O número e a duração das secas aumentaram em 29% desde 2000 e, sem uma ação urgente, as secas podem afetar mais de três quartos da população mundial até 2050” 1.

Ao contrário do que uns e outros, por aí, pensam, não se trata de credibilizar ou descredibilizar estudos e análises estatísticas a fim de ratificar a necessidade de mudanças e comportamentos. Temos que mudar em nome daquilo que já se vê, já se sente, já faz parte da realidade em que estamos imersos. Infelizmente, todo o conjunto teórico-científico, desenvolvido ao longo de décadas, não foi suficientemente capaz de demover, da indiferença e da incredulidade, milhões de seres humanos.

Segundo Gro Harlem Brundtland, ex-Primeira-Ministra da Noruega, “Ao longo do século XX, o crescimento econômico foi medido pelo acúmulo do capital financeiro e de capital humano sem levar em consideração as mudanças no capital natural e nem dos riscos sociais. No século XXI, o objetivo deve ser uma economia verde – um padrão de crescimento econômico que realmente leva a melhorias na vida das pessoas sem prejudicar o meio ambiente”.

Pouco mais de uma década, após essa declaração, permanecemos assistindo aos esforços empenhados no desenvolvimento, na antropização e na desigualdade, com o objetivo de acumular cada vez mais riquezas. Entretanto, paralelamente, em uma dinâmica diretamente proporcional, temos esses recursos se perdendo, diante do recrudescimento das tragédias socioambientais.

Sim, a verdade é implacável! Não adianta negar. Não adianta trabalhar na direção contrária. Não adianta mentir. Não adianta. O ser humano não pode tudo. Ainda que ele não queira aceitar os limites, esses não deixam de existir, por isso ou por aquilo.

Em algum momento da história, eles aparecem. A matéria intitulada “O choque de empobrecimento em próspero vale gaúcho: ‘terras que valiam milhões não valem mais nada’” 2, por exemplo, traz a perfeita dimensão a esse respeito.

O limite chegou, de maneira trágica; mas, chegou. O dinheiro não vai poder restituir essas perdas, na sua inteireza. Simplesmente, porque isso engloba aspectos práticos, objetivos; mas, também, subjetivos.

Se a raça humana quiser ter uma oportunidade de sobreviver terá que aceitar a construção de uma nova ordem social, política, econômica e cultural. Immanuel Kant dizia que “Não somos ricos pelo que temos, e sim pelo que não precisamos ter”. Essa é a reflexão que todo ser humano precisa, com urgência, fazer, ou seja, precisamos SER a invés de TER!   

1 https://news.un.org/pt/story/2024/06/1832691

2 https://www.bbc.com/portuguese/articles/cxxxj12k56eo