segunda-feira, 27 de maio de 2024

E se...


E se...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Interessante ver como certos setores da mídia tradicional, rasgaram a fantasia e aderiram definitivamente à euforia da direita nacional e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, quando o assunto é a eleição presidencial em 2026. Mas, nada de novo! Isso já era totalmente previsível!

Me desculpem, uns e outros; mas, olhando para o histórico colonial brasileiro, é fundamental admitir que os anos de governança emoldurados pela ascensão da esquerda e seus matizes, incluindo os mais radicais e extremistas, foi um ponto fora da curva para as certezas e convicções da direita.

Herdeiros da elite colonial brasileira, eles jamais cogitaram que em plena Terra Brasilis uma versão tupiniquim da Revolução Francesa, na ótica da tomada do poder pelas massas populares, pudesse se concretizar bem debaixo do seu nariz. Só que aconteceu. De modo que, desde então, essa gente não faz outra coisa senão arrumar pelo em ovo e traçar seus planos infalíveis para aliviar a própria alma quanto a tamanho desconforto.  

Aliás, antes de prosseguir, quero fazer uma ressalva importante em relação a essa aversão à esquerda. É claro que ela se iniciou nos tempos coloniais, com a falta de mobilidade social e com a construção das fronteiras de desigualdade. Porém, depois de idas e vindas do tempo e das ingerências de outras metrópoles sobre o Brasil, o papel dos EUA na incorporação do medo comunista, ao inconsciente coletivo nacional, foi decisivo.

Aí, quando surge no país uma representação político-partidária de origem popular e trabalhadora, foi a gota d’água para o enfurecimento da direita nacional e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas. Havia, então, se consolidado uma ameaça aos interesses direitistas. Eles estavam organizados. Eles dispunham de liderança. Eles empunhavam seus manifestos e reivindicações.

Não que outras representações já não existissem e causassem irritação aos apoiadores e simpatizantes da direita; mas, o Partido dos Trabalhadores (PT) era diferente. Eles tinham abrangência e influência sobre o corpo trabalhador e operário. Ele era o canal de diálogo direto com a imensa base da pirâmide social brasileira. Portanto, uma ameaça real e imediata, aos interesses e zonas de conforto das elites burguesas nacionais.

Assim, o que muitos chamam de antilulismo não é um fenômeno recente. Houve uma transferência da hostilidade ao partido para a sua liderança mais representativa; mas, a verdade é que a tensão histórica ultrapassa o limite das figuras humanas para alcançar as arenas ideológicas.

A direita teme as ideias progressistas porque elas abalam o seu sistema de poder, de controle, de manipulação, social. Elas questionam o papel da direita dentro das mais diversas formas e conteúdos.  Elas calam o progressismo, em nome de um conservadorismo histórico, como se o lado certo da história estivesse no passado.

Por isso, tantas tentativas de minar, boicotar, desqualificar, as pautas progressistas em curso. A direita jamais vai admitir que a esquerda seja bem-sucedida na sua jornada. Se ela não cometer erros sozinha, o que inevitavelmente tende a acontecer; posto que, nada e nem ninguém é perfeito, são favas contadas que a direita contribuirá com muitas pedras e obstáculos no caminho.

A direita não sabe o que é perder. Ela surge em condições ideais na sociedade mundial. Ela tem os poderes sociais nas mãos. Ela cria e descria as leis, dentro da perspectiva dos seus interesses. Ela escreve a história, segundo a sua própria ótica. O que significa que ela está com seu orgulho profundamente ferido. Gente que ela sempre invisibilizou, negou, rechaçou, desqualificou, novamente ocupa um espaço que historicamente lhe parecia pertencer.

Assim, chegamos ao ponto nevrálgico dessa reflexão, o seu início.  A direita se desdobra em artifícios mil para fragilizar a esquerda em diferentes frontes, e daí? Infernizar a esquerda, daqui e dali, não significa absolutamente nada. Sério! Vivemos tempos em que a esquerda pode ser considerada o menor dos problemas para a direita, quando ela precisa enfrentar o insólito, o atípico, o inusitado, o extraordinário, da vida.

Pois é, as incertezas solapam o ideário da direita de maneira avassaladora.  Da noite para o dia, o mundo gira e surpreende! Não fica, sequer, uma das suas propostas de pé! Porque, na maioria das situações o que acontece é o feitiço se voltando contra o feiticeiro, sem a menor dó ou piedade. Deixando apoiadores e simpatizantes direitistas com seus discursos retóricos nas mãos, sem saber o que fazer, ou como agir.

Ora, o mundo idealizado da direita não existe! Ele pode até caber nas mídias sociais; mas, na realidade nossa de cada dia, não. Vontades e quereres não dominam as incertezas contemporâneas. Elas são muitas. São intensas. São radicais. Basta um piscar de olhos e, de repente... a vida é subvertida pela insustentável leveza das asas de uma borboleta.

Talvez, por isso, Mahatma Gandhi tenha dito “O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. Pensar em 2026 é totalmente surreal! Pensar no amanhã é surreal! E ainda não perceberam, o mundo está em franca ebulição. As velhas práxis estão cada vez mais distantes de caber na solução das atuais demandas. Portanto, só cabe dizer que muita água há de passar por debaixo de nossas pontes. Porque de certo só temos as incertezas. Há sempre um “E se...”, pelo caminho.