E se...
Por Alessandra
Leles Rocha
Interessante ver como certos
setores da mídia tradicional, rasgaram a fantasia e aderiram definitivamente à euforia
da direita nacional e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, quando
o assunto é a eleição presidencial em 2026. Mas, nada de novo! Isso já era totalmente
previsível!
Me desculpem, uns e outros; mas,
olhando para o histórico colonial brasileiro, é fundamental admitir que os anos
de governança emoldurados pela ascensão da esquerda e seus matizes, incluindo
os mais radicais e extremistas, foi um ponto fora da curva para as certezas e
convicções da direita.
Herdeiros da elite colonial
brasileira, eles jamais cogitaram que em plena Terra Brasilis uma versão
tupiniquim da Revolução Francesa, na ótica da tomada do poder pelas massas
populares, pudesse se concretizar bem debaixo do seu nariz. Só que aconteceu. De
modo que, desde então, essa gente não faz outra coisa senão arrumar pelo em ovo
e traçar seus planos infalíveis para aliviar a própria alma quanto a tamanho
desconforto.
Aliás, antes de prosseguir, quero
fazer uma ressalva importante em relação a essa aversão à esquerda. É claro que
ela se iniciou nos tempos coloniais, com a falta de mobilidade social e com a
construção das fronteiras de desigualdade. Porém, depois de idas e vindas do
tempo e das ingerências de outras metrópoles sobre o Brasil, o papel dos EUA na
incorporação do medo comunista, ao inconsciente coletivo nacional, foi
decisivo.
Aí, quando surge no país uma
representação político-partidária de origem popular e trabalhadora, foi a gota
d’água para o enfurecimento da direita nacional e seus matizes; sobretudo, os
mais radicais e extremistas. Havia, então, se consolidado uma ameaça aos
interesses direitistas. Eles estavam organizados. Eles dispunham de liderança. Eles
empunhavam seus manifestos e reivindicações.
Não que outras representações já
não existissem e causassem irritação aos apoiadores e simpatizantes da direita;
mas, o Partido dos Trabalhadores (PT) era diferente. Eles tinham abrangência e
influência sobre o corpo trabalhador e operário. Ele era o canal de diálogo
direto com a imensa base da pirâmide social brasileira. Portanto, uma ameaça
real e imediata, aos interesses e zonas de conforto das elites burguesas nacionais.
Assim, o que muitos chamam de
antilulismo não é um fenômeno recente. Houve uma transferência da hostilidade ao
partido para a sua liderança mais representativa; mas, a verdade é que a tensão
histórica ultrapassa o limite das figuras humanas para alcançar as arenas ideológicas.
A direita teme as ideias progressistas
porque elas abalam o seu sistema de poder, de controle, de manipulação, social.
Elas questionam o papel da direita dentro das mais diversas formas e conteúdos.
Elas calam o progressismo, em nome de um
conservadorismo histórico, como se o lado certo da história estivesse no
passado.
Por isso, tantas tentativas de
minar, boicotar, desqualificar, as pautas progressistas em curso. A direita
jamais vai admitir que a esquerda seja bem-sucedida na sua jornada. Se ela não
cometer erros sozinha, o que inevitavelmente tende a acontecer; posto que, nada
e nem ninguém é perfeito, são favas contadas que a direita contribuirá com
muitas pedras e obstáculos no caminho.
A direita não sabe o que é
perder. Ela surge em condições ideais na sociedade mundial. Ela tem os poderes
sociais nas mãos. Ela cria e descria as leis, dentro da perspectiva dos seus
interesses. Ela escreve a história, segundo a sua própria ótica. O que
significa que ela está com seu orgulho profundamente ferido. Gente que ela
sempre invisibilizou, negou, rechaçou, desqualificou, novamente ocupa um espaço
que historicamente lhe parecia pertencer.
Assim, chegamos ao ponto nevrálgico
dessa reflexão, o seu início. A direita
se desdobra em artifícios mil para fragilizar a esquerda em diferentes frontes,
e daí? Infernizar a esquerda, daqui e dali, não significa absolutamente nada. Sério!
Vivemos tempos em que a esquerda pode ser considerada o menor dos problemas
para a direita, quando ela precisa enfrentar o insólito, o atípico, o inusitado,
o extraordinário, da vida.
Pois é, as incertezas solapam o
ideário da direita de maneira avassaladora.
Da noite para o dia, o mundo gira e surpreende! Não fica, sequer, uma
das suas propostas de pé! Porque, na maioria das situações o que acontece é o
feitiço se voltando contra o feiticeiro, sem a menor dó ou piedade. Deixando
apoiadores e simpatizantes direitistas com seus discursos retóricos nas mãos,
sem saber o que fazer, ou como agir.
Ora, o mundo idealizado da
direita não existe! Ele pode até caber nas mídias sociais; mas, na realidade
nossa de cada dia, não. Vontades e quereres não dominam as incertezas contemporâneas.
Elas são muitas. São intensas. São radicais. Basta um piscar de olhos e, de
repente... a vida é subvertida pela insustentável leveza das asas de uma
borboleta.
Talvez, por isso, Mahatma Gandhi tenha dito “O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. Pensar em 2026 é totalmente surreal! Pensar no amanhã é surreal! E ainda não perceberam, o mundo está em franca ebulição. As velhas práxis estão cada vez mais distantes de caber na solução das atuais demandas. Portanto, só cabe dizer que muita água há de passar por debaixo de nossas pontes. Porque de certo só temos as incertezas. Há sempre um “E se...”, pelo caminho.