De
repente. Não mais que de repente...
Por
Alessandra Leles Rocha
Demissões em massa 1. Falência de grandes empresas 2. Quebra de bancos 3.
É claro que as Ciências Econômicas têm seus mecanismos para explicar esses fenômenos,
para dar musculatura teórica para os acontecimentos e assim, poder lançar as responsabilidades
aos ombros de quem de direito. Acontece que isso é, na verdade, só espuma, só o
visível da história. Não basta só entender as ações, as práxis, é preciso depurar
as intenções, as subjetividades imersas nos fatos.
Nos últimos dias venho me
perguntando a quem, de fato, interessaria construir esse tipo de caos social,
considerando que a Economia sempre foi o tendão de Aquiles do mundo globalizado,
especialmente, no contexto contemporâneo. E nesse pensar e observar com atenção
os acontecimentos não pude deixar de cogitar a possibilidade de a ultradireita
estar mexendo seus pauzinhos para ver o circo pegar fogo e comprometer o
trabalho dos governos democráticos.
Basta lembrar que o nazismo na
Alemanha da década de 30, do século passado, se firmou a partir de uma
insatisfação popular frente a um cenário econômico de forte inflação e
desemprego em massa, que eles atribuíam como responsabilidade dos judeus ligados
ao capital financeiro. No entanto, o que realmente consolidou as investidas nazistas
foi a Crise de 1929, em razão da economia alemã estar atrelada à Bolsa de Nova
Iorque.
O declínio econômico é um combustível
potente para gerar o descrédito político-partidário e criar promessas
infundadas a partir de figuras de grande apelo retórico e midiático. Quanto mais
difíceis se tornam as conjunturas socioeconômicas, mais “Salvadores da Pátria” emergem para distensionar os conflitos e
impor as suas verdades ideológicas.
Daí a necessidade de interromper
com devaneios e ilusões de ocasião e começar a ler o cotidiano com a seriedade
que ele exige. Como o Brasil e os EUA têm se empenhado na defesa da Democracia
e buscado combater, com alguma intensidade, os arroubos expansionistas da
ultradireita, chama atenção o fato de que justamente as suas economias venham
sendo sutilmente afetadas por episódios dessa natureza.
Aliás, vale a pena conferir uma matéria
de janeiro deste ano que já apontava o fato de que o “Brasil é um laboratório da extrema direita global” 4. Então, não dá mais para fingir
desconhecimento! A ultradireita se nutre do “quanto
pior melhor”, porque ela depende do fracasso alheio; sobretudo, no campo socioeconômico,
para se firmar e prosperar. E contando com as lacunas geracionais, o
desinteresse histórico de muitos segmentos sociais, ela persiste na sua
tentativa de se vender como a solução absoluta para todos os problemas do mundo,
custe o que custar.
Acontece que, por tabela, a ultradireita
acaba contaminando outros vieses da direita e persuadindo-os a cerrar fileira
nas suas frentes de ação, como um encantador de serpentes. De modo que mesmo
aqueles que se apresentam moderados, em cima do muro, acabam entrando na pilha
de se tornarem multiplicadores ideológicos nesse campo minado, quando encontram
adesão aqui e ali às suas próprias ambições, expectativas e demandas. Afinal, há
sempre uma fala legitimando a sua própria.
Por isso, é tão importante que episódios
de demissão em massa, de falência de grandes empresas e/ou de quebra de bancos
não sejam apenas manchetes nos veículos de comunicação e informação; mas,
objeto de minuciosa investigação pelas autoridades, dissecando camada por
camada das entrelinhas dos acontecimentos. Não se pode desconsiderar, de
maneira alguma, que a Economia e a Política se encontram em um ponto comum que
é o poder. O que leva a necessidade de se aprofundar na tecitura dialógica desse
bastidor a fim de revelar o que aparentava ser algo de caráter pessoal e bastante
reservado.
Relembrando José Saramago, “O caos é uma ordem por decifrar”. Não importa
se ele é previsível ou não. Se ele é social, cultural, político ou econômico.
Só não é possível deixar de combatê-lo sob o risco de ele nos devorar por
inteiro, sem que sequer percebamos. Como uma ameaça ainda mais apavorante,
quando já se vive em tempos de uma total insegurança que ultrapassa os limites
da previsibilidade.
Pois, segundo Mia Couto, “A guerra cria um outro ciclo no tempo. Já
não são os anos, as estações que marcam as nossas vidas. Já não são as
colheitas, as fomes, as inundações. A guerra instala o ciclo do sangue. Passamos
a dizer: ‘antes da guerra, depois da guerra’. A guerra engole os mortos e
devora os sobreviventes” (A varanda do Frangipani, 1996). E isso é tão
sério que acaba consolidando uma perspectiva na qual “Quem confunde céu e água acaba por não distinguir vida e morte” (A
varanda do Frangipani, 1996).
1 https://www.techtudo.com.br/noticias/2023/01/demissoes-em-massa-nas-big-techs-entenda-como-elas-podem-afetar-voce.ghtml
2 https://oglobo.globo.com/economia/financas/noticia/2023/02/falencias-de-empresas-saltam-80percent-em-dois-anos-diz-serasa-experian.ghtml
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64380982
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/02/23/marisa-ja-mapeia-quais-lojas-vai-fechar.ghtml