Rumo
à involução
Por
Alessandra Leles Rocha
Ao que tudo indica o ser humano
vem aprendendo cada vez menos com seus erros. Involuindo a passos largos. Que o
diga a ultradireita! O que significa que há muitos seres humanos por aí,
utilizando dos mesmos instrumentos já comprovadamente equivocados e ineficazes
para construir suas relações sociais, desprezando o fracasso dos resultados
obtidos.
O fato de as tecnologias terem
trazido ao ser humano uma viabilidade maior para a expressão de suas ideias,
sentimentos, emoções e pontos de vista, isso não significa, em momento algum,
uma legitimação para os absurdos, inconveniências e as práticas delituosas.
Mas, são elas que têm sim,
impulsionado a radicalização, o extremismo, ao redor do planeta, fazendo
transparecer um desejo quase mórbido de efetivamente fragmentar a sociedade em
pequenas células individualistas, rompendo com a ideia de um coletivo humano
minimamente equilibrado.
Embora pareça ser este um terreno
livre de regras, de leis e de obrigações, ele não é. O mundo virtual carrega os
mesmos fundamentos sociais do mundo real. De modo que as identidades não passam
despercebidas. Basta seguir os rastros, as pistas deixadas em nuvens pelos
trajetos tecnológicos percorridos.
No entanto, isso me parece menos
importante na hierarquia das prioridades a serem tratadas em relação à
radicalização e ao extremismo contemporâneo. Não basta ter os olhos fixos e
atentos sobre o mundo virtual, o ponto crítico da questão ainda permanece o ser
humano. Parte dele o ímpeto de agir na contramão dos princípios, dos valores
sociais.
Entender as razões que vêm o
despertando para esse desvirtuamento é a chave para a retomada da estabilidade
e da segurança global. Desde o século XVIII, a raça humana foi induzida a
acreditar que o mundo poderia ser exatamente segundo a sua vontade, que a
felicidade poderia ser adquirida no mercado da esquina, que o ter seria a
resposta para definir o ser.
Acontece que entre a teoria e a
prática se estabeleceu um gigantesco abismo, o qual passou a fomentar a
frustração, a indignação, o rancor, a intolerância, diante da percepção clara
de uma incapacidade, até certo ponto natural; mas, que não deveria fazer parte
dos planos. Incapaz de brigar consigo mesmo, o ser humano passou a culpar os outros
pelos percalços do caminho, acirrando as fronteiras segregantes.
E abdicando, então, da sua
responsabilidade protagonista, ele vem exasperando o pior da sua essência, ou
seja, Xenofobia, Intolerância religiosa, Homo e Transfobia, Misoginia, Sexismo,
Racismo, Aporofobia, Gordofobia, como em uma catarse, que liberta, expulsa,
purga o que lhe corrompe à própria natureza.
Porém, esse é um movimento que
transcende naturalmente aos seus limites e adquire proporções inimaginadas
sobre outros aspectos das relações sociais. Haja vista, todo o contexto das
Grandes Guerras Mundiais; sobretudo, a Segunda. Os registros históricos do
nazismo não deixam dúvidas a esse respeito.
Não é à toa que foi inaugurado
ontem, um Memorial às vítimas do holocausto, na cidade do Rio de Janeiro 1, a fim de que através de “experiências imersivas, a rotina de judeus
antes, durante e depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial”, possa
oferecer ao visitante a possibilidade de construir sua própria compreensão a
respeito. Afinal, o que começou com insultos, perseguições, segregações,
desapropriações, acabou em destruição e morte, no retrato de um mundo
devastado, sob diferentes aspectos e intensidades, pelo ódio humano.
Como escreveu Virginia Woolf, “É muito mais difícil matar um fantasma do
que matar uma realidade”. Por isso, a expansão da radicalização e do
extremismo contemporâneo não pode ser contemporizada! O mundo não parece
suficientemente capaz de renascer se uma Terceira Guerra for posta em curso.
Será, portanto, uma ação que não levará nada a lugar nenhum e definirá um só
lado, o dos perdedores. Não haverá vitoriosos. Não haverá conquistas.
Simplesmente, haverá o recrudescimento daquilo que se usa para justificar a
radicalização e o extremismo. Estaremos, então, mais uma vez, presos dentro dessa
espiral de loucura, produzindo mais e mais beligerâncias e conflitos.