sábado, 10 de dezembro de 2022

O avesso do mundo virtual


O avesso do mundo virtual

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Recentemente o mercado tecnológico assistiu a demissão em massa de funcionários de uma determinada rede social. Acontece que isso não tem impacto apenas sobre a vida e o cotidiano desses funcionários e suas famílias; mas, também, sobre a dinâmica de funcionamento da própria empresa, quanto à eficiência e à qualidade dos serviços oferecidos e prestados. E isso é preocupante sobre vários aspectos, especialmente, considerando que o mundo virtual tem sido amiúde compreendido como um território sem lei, que amplia automaticamente os limites das relações enquanto esfacela normas e protocolos da chamada etiqueta social.

Vamos e convenhamos que qualquer um, por aí, tem conhecimento de uma história ruim ocorrida no ambiente virtual. Seja uma demissão pelas redes. Seja uma postagem ofensiva. Seja um cancelamento sumário. Seja um rackeamento de conta. ... O que aponta para o fato de que a humanização trazida pela análise operacionalizada pelas equipes das redes é fundamental, no sentido de coibir excessos, abusos, prejuízos e constrangimentos que possam ocorrer aos usuários dessas ferramentas virtuais. Porque, embora existam regras de utilização dos serviços, há sempre quem as descumpra ou infrinja de maneira deliberada.

Nascida nos tempos analógicos do mundo, admito que tenho minhas ressalvas no trânsito virtual. Tenho sempre os dois pés atrás, não me deixando encantar ou envolver pelas novidades que se proliferam como rastilho de pólvora nesse espaço. E mesmo assim, acabei experimentando um dissabor. A fim de compartilhar com outras pessoas os meus textos, cujo conteúdo não tem caráter ofensivo de nenhuma natureza, são apenas reflexões sobre a vida cotidiana, a contemporaneidade, escolhi uma determinada rede social. Por lá, eventualmente deixava comentário sobre algum post ou compartilhava o que considerasse relevante, mas era só.   

Mas, eis que em 08 de outubro fui pega de surpresa com a suspensão permanente das minhas contas, por uma suposta violação das regras de utilização. Acontece que não só faltaram maiores esclarecimentos a respeito dessa violação, como as minhas manifestações recorrendo da suspensão não foram sequer respondidas. Uma notificação padrão de análise era encaminhada; mas, não passou disso. E diante dessa situação, eu decidi desativar as contas; mas, fui impedida por uma mensagem alegando a suspensão das mesmas. Vejam só que situação absurda!

Chama atenção o fato de que durante a vigência das minhas contas, um período que não chegou a uma década, se a ideia fosse me tornar um fenômeno de popularidade, eu estaria totalmente frustrada. Entre pessoas que eu seguia (menos de 800) e entre seguidores que eu conquistei (menos de 300) fica evidente que eu não poderia ser enquadrada como uma influenciadora digital, segundo os moldes comumente vistos nas redes, com milhares ou milhões de seguidores. Razão pela qual atribuo não ter tido quaisquer problemas, até 08 de outubro.

Coincidência ou não, fato é que a suspensão se deu exatamente uma semana após o fim do 1º turno eleitoral, quando as redes sociais viviam a efervescência de medidas duras contra Fake News.  Cheguei até a pensar, que minhas contas poderiam ter sido suspensas por engano ou por alguém que as tivesse hackeado, por exemplo. Razão pela qual, a princípio, considerei a hipótese de que se fosse esse o caso após o 2º turno das eleições, 30 de outubro, haveria uma reanálise da medida e eles verificariam o engano e reativariam as contas. Contudo, isso não aconteceu. Permaneci sem quaisquer informações ou respostas. E ao entrar nas contas, pelo menos para mim, aparece uma mensagem de suspensão permanente. O registro dos meus seguidores foi apagado. O registro de quem eu seguia foi apagado. Os comentários foram apagados. Enfim. Então, por que não me autorizar a desativar uma conta suspensa definitivamente? Isso não faz o menor sentido! 

Diante dessa desagradável experiência pude comprovar que eu estava certa em relação aos meus dois pés atrás com o mundo virtual. À revelia da sua vontade coisas absurdas acontecem e você não tem canais de comunicação que lhe atendam rápida e satisfatoriamente para elucidar e dirimir eventuais problemas. Pois, talvez, não haja funcionários suficientes, habilitados e qualificados para o atendimento que você precisa e merece. Você é simplesmente lançado a um silêncio eloquente, que lhe escancara a submissão involuntária frente a um sistema que escolhe e decide sem consultar você.

Aliás, é importante ressaltar que, nesse sentido, fica evidenciado também que as redes sociais não são para todos, são para os notórios, os ilustres, os midiáticos. O tratamento dado a essas pessoas é, com certeza, bem diferente porque elas capitalizam recursos para as próprias redes através de publicidade variada. Aos demais resta, então, o papel de ampliar a fila de seguidores das estrelas do momento. Sem direito a vez, a voz e, principalmente, ao respeito enquanto usuário. Justamente ele que é a mola propulsora das redes sociais!