(DES)
Informação...
Por
Alessandra Leles Rocha
Primeiro foram todas as
obstaculizações desenvolvidas para atrasar e comprometer o Censo Demográfico 1 nacional. Agora é a aprovação às presas
de uma lei que criminaliza os institutos de pesquisa eleitoral 2, cerceando a informação aos cidadãos. Como
dizia o saudoso jornalista Gilberto Dimenstein, “Só existe opção quando se tem informação... Ninguém pode dizer que é
livre para tomar o sorvete que quiser se conhecer apenas o sabor limão”.
Isso porque ninguém jamais soube
e nem saberá tudo o que acontece no mundo a não ser que conte com o trabalho
incansável daqueles que se debruçam a trazer os diferentes vieses da vida. Porque
nossas escolhas, nossas opiniões, nossos pontos de vista, não nascem do acaso! É nessa via de mão dupla entre inúmeros interlocutores
que alcançamos a graça de formular o nosso próprio pensamento, a partir do que
chama análise crítico-reflexiva.
No entanto, o simples movimento
no sentido de controlar ou de manipular o acesso a esse bem tão fundamental,
que é a informação, somos agraciados com a obviedade da vida na perspectiva do
cenário conjuntural que se coloca a flertar continuamente com o desacato à
Democracia, ferindo-lhe no que ela tem de mais emblemático que é a liberdade.
Aliás, para quem não sabe, rege a
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 220, que “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,
sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição”;
bem como, “Nenhuma lei conterá
dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação
jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no
art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV” (§1º) e “é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e
artística” (§2º).
Diante disso, me parece, então,
que as investidas contra as informações no Brasil estão permeadas por hipóteses
bastante interessantes, que ultrapassam as fronteiras exclusivistas do mero controle
e da vigilância social. Começando pelo julgamento arbitrário de que uma imensa
maioria de pessoas seria incapaz de compreendê-las e precisariam, nesse
sentido, de que alguém a estabelecer o que lhes seria mais acessível ou não, o
que lhes realmente seria importante ou não, a fim de facilitar-lhes o exercício
cidadão.
Depois, pelo fato de que, talvez,
as próprias autoridades não saibam ou não se sintam confortáveis o suficiente
para lidar com elas, ao ponto de não saberem como respondê-las diante da
população. Sobretudo em relação aos dados estatísticos. Números são bem mais do
que números quando colocados sob o escrutínio das conjunturas. Eles perdem a
sua frieza estática e ganham vida dentro de um prisma de possibilidades analíticas,
as quais podem conduzir a caminhos delicadamente perigosos de tensão social.
Enfim, as informações nem sempre
cabem dentro da escala de prioridades da governança. De repente, a perspectiva
das informações a serem coletadas contraria os resultados obtidos e cria pontos
de atrito intransponíveis, considerando a existência prévia de um plano de
ações que não fazia quaisquer menções a respeito. O que aponta para o fato de
que algumas informações têm uma capacidade concreta de romper com as
idealizações presentes na sociedade contemporânea, tendendo a abalar a dinâmica
da fluidez que se imagina tão presente nesse recorte temporal.
No fundo, tais conjecturas pouco
importam. O que realmente está em jogo, quando o assunto é a informação, diz
respeito ao poder. Trata-se de uma ferramenta ideológica, a qual todos querem
ter a propriedade. De modo que em um mundo altamente tecnologizado, em que as informações
circulam aos milhares por segundo, quem as detêm pode facilitar a manutenção do
seu poder e influência social, pode determinar os rumos da guerra ou da paz, da
igualdade ou da desigualdade, do empobrecimento ou do enriquecimento.
Daí o frenético movimento em
busca de se reduzir o círculo de pessoas que dispõem de informações. Pois, como explicou
o sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho, “Toda informação é, de certa forma, uma proposta ou elemento de formulação
de propostas. É matéria-prima fundamental da ação política e, portanto, do
trabalho cotidiano dos movimentos populares”. Isso significa que a informação traz para o
cidadão a consciência da igualdade e da equidade, que é algo extremamente
incomodativo para as elites dominantes.
Pablo Neruda dizia que “Você é livre para fazer suas escolhas, mas
é prisioneiro das consequências”. Mas, para se fazer as escolhas adequadas
e melhor ajustadas às conjunturas é essencial ter informação. De qualidade. Precisa.
Isenta. Consistente. É por ela que se garante o posicionamento individual e intransferível
no mundo, a partir de uma consolidação reflexiva sobre isso ou aquilo.
Por isso, cada vez que somos afrontados pelo cerceamento informativo ficamos mais próximos das “Escolhas erradas, planos quebrados, desejos inúteis, vontades desnecessárias” (Caio Fernando Abreu). Sem, entretanto, termos a consciência exata de que é isso o que está acontecendo bem diante do nariz. Não se esqueça das palavras de Buda, “O conflito não é entre o bem e o mal, mas entre o conhecimento e a ignorância”. Afinal de contas, dessa constatação se descobre que “Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez consciente” (Martin Luther King Jr.).