A inversão
de valores contemporânea. Lições para refletir e aprender!
Por Alessandra
Leles Rocha
A inversão de valores é uma marca triste da contemporaneidade;
mas, não é um privilégio exclusivo do Brasil. Desde ontem, os veículos de
comunicação e informação trazem notícias de mais um escândalo envolvendo o
atual governo britânico.
Desta vez com baixas importantes no staff, posto que 5 dos 23 ministros do governo entregaram seus
cargos depois que vieram à tona denúncias de assédio a um ex-secretário, as
quais não impediram que ele fosse empregado pelo Premier britânico 1.
Mais do que a notícia em si, o que vale é tecer uma reflexão
sobre como a humanidade, e com destaque especial para o Brasil, tem lidado com
recorrentes episódios de desvirtuamento ético e moral.
E aí, nesse ponto, é que a naturalização, a banalização ou a
trivialização constituem um traço nocivo e extremamente perigoso para a convivência
e coexistência coletiva.
Afinal, esses comportamentos criam uma aura de permissividade
que vai lentamente corroendo os princípios doutrinários incumbidos de expressar
os limites e as fronteiras sociais.
Apesar de estarmos em pleno século XXI, certas regras ainda
vigoram. Não por mera questão conservadora e burocrática; mas, porque sem elas
não há equilíbrio, nem desenvolvimento, nem progresso, nem nada.
Basta ver, por exemplo, que a existência humana é revestida de
limites para onde se olhe. Limites esqueléticos. Limites musculares. Limites digestórios.
Limites de temperatura e pressão. ...
De modo que no campo social, coletivo, se cada um acreditar
que pode fazer o que quiser, quando quiser, onde quiser, fazendo prevalecer a
todo custo a sua (pseudo)liberdade, estaremos em brevíssimo tempo instituindo o
mais completo caos.
Ora, ora. Havemos de entender que somos livres para decidir,
para escolher, para nos posicionar; mas, ao mesmo tempo, essa “liberdade” é sujeita às ingerências do
mundo. Liberdade não é algo absoluto. Liberdade é uma condição extremamente
relativizada pela dinâmica das conjunturas.
De modo que, vez por outra, ela se depara com os limites a fim
de evitar eventuais consequências e desdobramentos fatídicos. Por mais que o
individualismo contemporâneo tenda a fazer parecer que só existe cada um de nós
no mundo, apagando a figura, a presença do outro. E já sabemos bem que não
somos ilhas!
Na verdade, somos mais de 7,8 bilhões de seres humanos no
planeta. E dentro desse contexto, coletivamente diverso e plural, precisamos
encontrar um denominador comum capaz de lidar com certos episódios sabidamente transgressores
ao bom senso, ao respeito, a ética, a moral e a tudo mais que esteja envolvido
na tecitura harmônica e pacífica das relações sociais.
Não dá, simplesmente, para fechar os olhos e fingir que nada
aconteceu, que não foi bem assim, que é coisa à toa, que amanhã tudo estará
esquecido. Sobretudo, quando se trata de governança, de gestão, seja ela
pública ou privada.
Cada nicho social contempla além dos protocolos sociais básicos,
outros específicos e fundamentais para o seu próprio bom andamento. E todos que
estão ali imersos, efetiva ou temporariamente, passam a conhecê-los e a
segui-los, pelo menos em tese.
Pois, tratam-se de práxis consagradas, experimentadas, avaliadas
e reavaliadas, que já provaram o seu valor e a sua importância para a
manutenção do fluxo de resultados positivos e da consolidação de patamares de
desenvolvimento. Embora, estejam sempre abertas para ajustes e aprimoramentos a
fim de manterem-se conectadas à evolução da própria dinâmica social.
Entretanto, isso não significa que haja um espaço para
qualquer um chegar e começar a agir segundo vozes da própria cabeça. Não é
assim que funciona! Eventuais mudanças e transformações demandam discussões
coletivas, pontos de vista diversos, para que se chegue a um senso comum
minimamente sujeito a erros, equívocos ou fracassos.
Não é da noite para o dia! Não é porque eu quero, ou você quer,
ou o outro quer! É sempre depois de muito diálogo, muita capacidade analítica,
muito equilíbrio, para se pesar os prós e os contras, para reconhecer as
prioridades e não prioridades, enfim...
Aliás, sob esse aspecto, emerge novamente a reflexão sobre aptidões,
talentos, habilidades e competências. Quando se trata de grupos de trabalho é
preciso considerar esses aspectos, mas não apenas da perspectiva prática; mas,
também subjetiva.
A escolha dos participantes não pode se dar meramente por
afinidades pessoais, trocas de favores ou satisfação de interesses. Porque no
campo da vida profissional as exigências são muitas e os coletivos precisam se
ajustar segundo os objetivos do trabalho a serem alcançados.
Por isso, quando alguém destoa, alguém sai fora dos limites,
alguém se desvirtua das obrigações e das responsabilidades, se torna algo tão sério!
Não só, porque gera um mal-estar entre os demais participantes do grupo, que estão
envolvidos por inteiro na busca pelo êxito do trabalho e se veem humilhados ou desmerecidos
pelo fato lamentável; mas, pela imagem refletida ao público externo,
fragilizando a credibilidade daquele governo, ou daquela instituição, ou daquele
serviço.
Afinal, a liberdade não pode ser usada como prerrogativa para
desconstrução dos pilares que equilibram e sustentam quaisquer sociedades.
Não é à toa, que no episódio citado no início, eu comentei ter
havido uma debandada de ministros do governo Britânico. Cientes do seu papel,
do seu compromisso institucional, das responsabilidades profissionais e cidadã,
eles se posicionaram publicamente, no sentido de rechaçar quaisquer atos impróprios
e constrangedores ocorridos no governo.