Do
Heliocentrismo a 2021...
Por
Alessandra Leles Rocha
Há 388 anos, em 22 de junho de
1633, Galileu Galilei era sentenciado pela Inquisição, por sua defesa a teoria
Heliocêntrica, na qual o Sol era o centro do universo. O curioso é que, em
pleno século XXI, o Negacionismo científico tenta ressurgir com a mesma
intensidade. Então, eu me questiono se valeram a pena todos os esforços Mercantilistas,
os quais acumularam riqueza suficiente para impulsionar o Capitalismo no mundo
e, por consequência, as Revoluções Industriais; visto que, a Ciência se
apresentava como a grande inimiga do poder. É ou não é contraditório?
Admitindo ou não, as Ciências é
que sustentaram o capitalismo até aqui; sobretudo, no campo das tecnologias.
Nada precisou mais delas do que as Revoluções Industriais. A 1ª iniciada na
Inglaterra, na 2ª metade do século XVIII, consolidou a invenção da máquina a
vapor que possibilitou alavancar a produção têxtil. De modo que, tecidos e
roupas antes saídos dos teares manuais, passaram a ser produzidos por grandes
máquinas, em larga escala. Assim, a industrialização rearranjou a sociedade, a
geografia e a economia. Surgiram profissões, cidades, e uma demanda consumidora
em franca expansão, dentro e fora da Europa.
E tomada pelo vigor das
novidades, a sociedade urbanoindustrial aspirava mais. Então, diante da 1ª
Guerra Mundial, surge a 2ª Revolução Industrial, que se expande para outros
países, além da Inglaterra. Novas
técnicas e meios de produção. Ela abre espaço para o aço, o petróleo e a
energia elétrica, que desencadearam novos modos de organização da produção
industrial, visando produzir mais, com menor custo e tempo, ou seja, a
racionalização do trabalho.
Mas, passada a 2ª Guerra Mundial,
ganha força a 3ª Revolução Industrial, também conhecida como Revolução
Tecnocientífica Informacional. O que significa que as indústrias e a sociedade
passaram a viver a realidade científica. Robótica, Genética, Informática,
Telecomunicações, Eletrônica e outras áreas do conhecimento vieram modificar o
sistema produtivo, pelo emprego de tecnologias cada vez mais avançadas e a
demanda de mão de obra altamente qualificada.
Até que, desembarcamos na 4ª
Revolução Industrial ou Revolução 4.0. Ela representa a transição tecnológica
para os Sistemas Ciber-Físicos
(Cyber-physical system – CPS) – compostos por elementos computacionais
colaborativos com o intuito de controlar entidades físicas, a Internet das Coisas – a interconexão
digital de objetos cotidianos com a internet, e a Computação em Nuvem – armazenamento de dados e capacidade de
computação, sem o gerenciamento ativo direto do utilizador.
E porque chegamos a esse ponto é
porque a Ciência sempre fez parte da humanidade. Por curiosidade ou por
interesses diversos, fazer Ciência sempre foi princípio fundamental para os
povos. Começou na pré-história, depois os Sumérios, os Egípcios, os Gregos, os
Indianos, os Chineses, os Islâmicos, até alcançar a Idade Média e o
Renascimento. Aliás, considerando alguns aspectos do cotidiano contemporâneo,
vale ressaltar que se temos papel, imprensa, papel-moeda, macarrão, pólvora,
seda e garfo 1, foi pelo espírito
científico dos chineses, viu?!
De modo que para sermos
Negocionistas, em 2021, teríamos primeiro, que apagar a história da humanidade,
e segundo, abdicar de todos os confortos que as Ciências nos proporcionaram até
aqui; incluindo, riqueza, poder e status. Quando você fica sem sinal de
internet, ou quando o caixa eletrônico está fora do ar, ou quando o ar
condicionado entra em pane, ... você resmunga, xinga, esbraveja, mas não pensa
que o seu mundo é regido pela Ciência, não é mesmo? Pois é. Então, de onde vem
esse espírito inquisidor, que baixou em uns e outros por aí, e decidiu fazer
uma “caça às bruxas” contra a Ciência?
Apesar da Pandemia, se o mundo
melhorou os índices de expectativa de vida é por conta da Ciência.
Investimentos em pesquisas sólidas e bem fundamentadas trouxeram novos
medicamentos, novas linhas terapêuticas, novos equipamentos, novas técnicas
cirúrgicas, novos conhecimentos sobre diversas áreas do corpo humano.
Centros de pesquisa renomados ao
redor do mundo se debruçam sobre descobertas importantíssimas a respeito de
doenças que afligem à humanidade; tais como, o Ebola, o Alzheimer, diversos
tipos de Câncer, a AIDS, e, mais recentemente, o Sars-Cov-2. Tratam-se de
estudos que após vasta e profunda avaliação se tornam consensos pela comunidade
científica internacional e, por essa razão, vêm balizando a Ciência e afastando
riscos e perigos advindos de práticas inconsistentes e equivocadas
metodologicamente.
Ao que me parece, então, a nova
“Inquisição” não só quer queimar metaforicamente os cientistas que discordam
das narrativas e discursos leigos; mas, afastar obstáculos que possam
prejudicar os planos de poder. Do mesmo modo que a Inquisição romana, que
buscou tão somente garantir o poder católico no mundo, o que vemos agora é a
tentativa de manutenção do poder burguês contemporâneo.
Por isso, concordo com Isaac
Asimov, quando ele afirma que “O aspecto mais
triste da vida atual é que a ciência ganha em conhecimento mais rapidamente que
a sociedade em sabedoria”, porque “Nada serviu tanto o despotismo como as
ciências e os talentos” (Fiódor Dostoiévski, “Os Possessos” ou “Os
Demônios”).
No fim das contas, a verdade é
que o Heliocentrismo de Galileu acabou contestado mais uma vez, para espanto
geral. O centro do universo, agora, é o poder. É em torno dele que orbita a
existência humana, com seus valores, seus princípios, seus conhecimentos, ou a
falta absoluta de todos eles.