quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Lya Luft: O sentido das coisas

 O sentido das coisas

Lya Luft

Sempre procurei, tantas vezes em vão, encontrar o significado de tudo. Por exemplo, por que há pessoas boas e más, por que as pessoas boas fazem coisas más e vice-versa, por que entre pessoas que se querem bem pode haver frieza ou até maldade, por que… lista infindável, ainda mais para quem tem um pouco de imaginação. A cada momento reinventamos o mundo, reinventamos a nós mesmos, reinventamos nossos afetos para que seja tudo menos doloroso.
Escrevendo sobre a situação do Brasil um pequeno livro que deve aparecer em breve, observo ainda mais intensamente o que acontece, tanta coisa inacreditável, mas real. Assim reflito quase constantemente sobre todas as loucuras, baixezas, perigos, sustos, desalentos atuais, aqui e ali uma luzinha minúscula que logo bruxuleia. Vai se apagar para sempre? Nada é para sempre. As coisas más, as fases ruins, também hão de passar. Mas, no momento, não sou otimista. Falsidade, mentiras, arzinho superior e palavras fantasiosas sobre questões fundamentais, apontar o dedo para o adversário, tudo é pior do que a dura verdade. Assustam-me discursos com que neste momento dramático alguns negam ou diminuem a gravidade da situação, revelando-se o desvio de inacreditáveis fortunas que deveriam atender o povo mais carente, a maior vítima desse desastre, um povo despossuído, sem as coisas essenciais que lhe têm sido negadas ─ não por uma fatalidade, mas por ganância de quem já tinha uma boa fortuna, mas queria mais, e mais. [...]

E o analfabetismo ainda persiste...

5 em cada 10 adultos brasileiros não frequentaram escola além do ensino fundamental, diz IBGE
Por Daniela Amorim - Estadão


Cinco em cada dez brasileiros adultos não frequentaram a escola além do ensino fundamental, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua): Educação, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 21.
A conta leva em consideração pessoas de 25 anos ou mais de idade, porque já poderiam ter concluído o processo regular de escolarização. No Brasil, 51% da população de 25 anos ou mais de idade possuía o ensino fundamental completo ou equivalente; 26,3% tinham o ensino médio completo ou equivalente; e 15,3%, o superior completo.
Em 2016, o número médio de anos de estudo para essa faixa etária foi de 8,0 anos. No Nordeste, apenas 6,7 anos. Com relação à cor ou raça, mais uma vez a diferença foi considerável, 9,0 anos de estudo para as pessoas brancas e 7,1 anos para as pessoas de cor preta ou parda. [...]

UNIC Rio lança ‘Guia do Preguiçoso para Salvar o Mundo’ com dicas de pequenas atitudes para o dia a dia


Você quer ajudar a mudar e salvar o mundo, mas tem preguiça até de levantar do sofá para pegar o controle remoto? Então confira o Guia do Preguiçoso para Salvar o Mundo, campanha digital que o Centro de Informação das Nações Unidas (UNIC Rio) lança neste 10 de dezembro – Dia Internacional dos Direitos Humanos.
A campanha tem 42 dicas que podem ser aplicadas no dia a dia de qualquer pessoa e entra no ar das redes da ONU Brasil a partir de 10 de dezembro. A data marca o Dia Internacional dos Direitos Humanos, quando a Assembleia Geral da ONU adotou, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completa 70 anos em 2018.

AIDS não acabou e desafios continuam significativos, diz agência da ONU


Os avanços na resposta ao HIV não têm precedentes. Na África do Sul, em 2000, somente 90 pessoas tinham acesso à terapia antirretroviral. Hoje, o país tem 4,2 milhões de pessoas em tratamento.
“Ultrapassamos as metas globais e hoje, no mundo, aproximadamente 20,9 milhões de pessoas têm acesso a esses medicamentos capazes de salvar vidas”, disse o diretor-executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), Michel Sidibé, em mensagem para o Dia dos Direitos Humanos, lembrado em 10 de dezembro.
Contudo, ele lembrou que não podemos ser complacentes — a AIDS não acabou em nenhuma parte do globo e os desafios à frente continuam significativos.
Leia a matéria completa em

Movimento HeForShe convida homens a gravar vídeo com compromisso contra o assédio sexual

Para celebrar o Dia Internacional da Solidariedade Humana, lembrado anualmente em 20 de dezembro, o movimento ElesPorElas (HeForShe, no original em inglês) da ONU Mulheres chama homens a participar de uma mobilização online pelo fim do assédio sexual. Participantes devem gravar e compartilhar um vídeo em que afirmam seu compromisso contra a violência de gênero. Cada homem deve convidar outros três a participar da iniciativa.

Mulheres buscam coletivos, terreiros e Defensoria para se proteger da violência de gênero no Rio


Coletivos, terreiros e Defensoria Pública. Estas são as redes destacadas nos depoimentos de três mulheres que ocupam espaços estratégicos no Rio de Janeiro para acolhimento e apoio às vítimas da violência de gênero.
Os relatos foram registrados pela campanha do secretário-geral da ONU “UNA-SE pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, com produção da ONU Mulheres e do Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio) e apoio do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 e da ONG Criola. Assista aos vídeos.

Desemprego aumenta em 2017 pelo 3º ano consecutivo na América Latina e no Caribe, mas deve diminuir em 2018


A previsão é do relatório Panorama Laboral da América Latina e Caribe 2017, lançado nesta segunda-feira (18) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que indica que a região apresentou desempenhos mistos.

Campanha Vidas Negras da ONU Brasil tem ampla repercussão nas redes sociais


Desde o lançamento no início de novembro, mês da Consciência Negra, a campanha Vidas Negras passou a ser um dos motes do debate sobre desigualdades raciais nas redes sociais. Os quatro vídeos produzidos pela iniciativa da ONU Brasil provocaram uma série de conversas sobre o tema.
As peças abordam diferentes impactos do racismo na experiência da juventude negra no Brasil, com a participação de Taís Araújo, Érico Brás, Kênia Maria, Elisa Lucinda e o grupo Dream Team do Passinho. Todo o material audiovisual da campanha fala da necessidade de superar o racismo para garantir igualdade, inclusive no direito à vida.

Solicitantes de refúgio terão intérpretes nas entrevistas em Brasília

As entrevistas de solicitação de refúgio no Brasil terão uma ajuda extra em 2018. Quaisquer cidadãos com disponibilidade de horário e conhecimento avançado em outros idiomas poderão se cadastrar em um banco de intérpretes.
O trabalho voluntário é resultado de acordo de cooperação técnica entre a Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e a Universidade de Brasília. O relato é da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Fundo de População da ONU firma parceria com governo para impulso à saúde sexual e reprodutiva

O Fundo de População das Nações Unidas (UNPFA) e o Ministério da Saúde anunciaram uma parceria para fortalecer o complexo industrial de saúde nacional e para a segurança dos insumos em saúde, em especial aqueles relacionados à saúde sexual e reprodutiva.
O acordo terá inicialmente dois anos de vigência. A expectativa é de que, neste período, sejam exploradas oportunidades conjuntas para o desenvolvimento de políticas e programas de saúde da mulher, do homem, de jovens e adolescentes, em especial de saúde sexual e reprodutiva.

População de migrantes no Brasil aumentou 20% no período 2010-2015, revela agência da ONU

De 2010 a 2015, a população de migrantes vivendo no Brasil cresceu 20%, chegando a 713 mil. Desse contingente, 207 mil vêm de outros países da América do Sul. Volume de sul-americanos que chegaram ao território brasileiro também aumentou 20% no mesmo período. É o que revela o relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), World Migration Report 2018, divulgado trienalmente e publicado no início do mês (1º).

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Texto de Rachel de Queiroz. Revista O Cruzeiro, 11 de janeiro de 1947

Votar

Rachel de Queiroz


Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama govêrno democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato.
No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: govêrno do povo. 
Numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVÊRNO. 
Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo. 
Escolhe-se pelo voto aquêles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia. 
Escolhemos igualmente pelo voto aquêles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aquêles que irão estipular a quantidade dêsses impostos. 
Vejam como é grave a escolha dêsses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gôta de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bôlso. 
E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhemse não só aquêles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aquêles que vão “fabricar” o dinheiro. 
Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos. Pois, se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falários. 
Êles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero. 
Não preciso explicar muito êste capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder.Escolhem-se nas eleições aquêles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático. 
E, circunstância mais grave e digna de todo o interêsse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de tôdas as fôrças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias. 
E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fêz um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio - lembrem-se de que não vão proporcionar a êsses sujeitos um simples emprêgo bem remunerado.Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para êles comandarem - e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. 
Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fôssem. 
Entregamos a êsses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa mocidade, a êles prêsa por um juramento de fidelidade. 
E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador.
Votem, irmãos, votem. 
Mas pensem bem antes.
Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! 
Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher quando é ruim, briga-se com ela, devolve-se ao pai, pede-se desquite. 
E o govêrno, quando é ruim, êle é quem briga conosco, êle é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da bôca dos nossos filhos e nos faz aprodecer na cadeia.
E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo.
E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. 
Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar êste ou aquêle candidato, não se preocupe. 
Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto. 
Se o obrigam a prometer, prometa.
Se tem mêdo de dizer não, diga sim.
O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha.
Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem mêdo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. 
Falte com a palavra dada à fôrça, e escute apenas a sua consciência. 
Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”. 

*Atenção!!! A redação é a da época em que foi publicado. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Leia e reflita!!!

Pense a respeito. Tenha respeito.


Por Alessandra Leles Rocha



Não é de hoje que envelhecer, no Brasil, é motivo de ofensa. Aliás, a sociedade brasileira tem por hábito eleger justificativas para descartar seus pares, num gesto de preconceito e intolerância sem limites. Na última semana, a mídia esportiva deu voz a um episódio lamentável envolvendo o treinador de futebol Antônio Lopes, 76 anos, no qual o mesmo foi profundamente criticado nas redes sociais em virtude da sua idade e não da sua competência e qualificação profissional 1.
Bem, para início de conversa, aos desavisados e desocupados de plantão, a população das Américas ganhou 16 anos de vida a mais, em média, nos últimos 45 anos, o que significa viver até 75 anos, quase cinco a mais do que a expectativa global, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
E graças ao desenvolvimento da medicina e das práticas de qualidade de vida, essa longevidade vem agregada de aspectos muito positivos, tais como, uma participação cada vez mais ativa e consistente dos idosos na sociedade. Eles dispõem de instrumentos e elementos que ampliam a sua capacidade, as suas competências e habilidades, de modo que não precisam ser excluídos sumariamente, nos diferentes contextos sociais.
Esse ganho na expectativa de vida representa uma conquista de autonomia cidadã muito importante. Porque, embora, muitas pessoas acreditem que a profissionalização humana seja sustentada apenas pelo conhecimento técnico-científico; a verdade é que ele só se traduz efetivamente na maturação garantida pelo tempo, pela vivência prática, ou seja, a experimentação diária.
Além disso, as discussões em torno da capacidade fisiológica são absurdas, porque a ciência aponta estatisticamente em seus estudos o avanço desmedido de diversas doenças sobre faixas etárias abaixo dos sessenta anos, como por exemplo, infarto, AVC, diabetes, hipertensão e câncer. As chamadas “doenças da velhice” hoje são compartilhadas pela sociedade que vive as voltas com o turbilhão da contemporaneidade liderado pelo estresse; o que significa que ninguém está a salvo, por conta da pouca idade.
É na intimidade, na conversa particular consigo mesmo, é que podemos estabelecer os nossos critérios de vida, as nossas aspirações, o nosso movimento em direção ao futuro. Na lógica do bom senso, onde a regra é clara, ninguém precisa arbitrar sobre isso; nem contra nem a favor. Como diz o provérbio, “cada um sabe aonde lhe apertam os calos”.
O que acontece é que a maioria das pessoas deposita sobre os jovens uma expectativa de sucesso, sem que eles muitas vezes não tenham sequer apresentado algum resultado concreto para isso. Vejo alguns recém-formados, com o diploma ainda quente nas mãos, e as famílias os apontando como ases da profissão.
Alto lá! Muita calma nessa hora. Só o tempo dirá. Só o tempo reafirmará a qualidade do processo, da aquisição de informações e construção do conhecimento. Se as bases foram verdadeiramente sólidas. Se a aptidão inata, se os talentos também colaboram para tais expectativas.
Portanto, quando você olhar para o Sr. Antônio Lopes, para o Sr. Sebastião Salgado, para o Sr. José Hamilton Ribeiro, para o Sr. Milton Gonçalves, para o Sr. Morgan Freeman, para a Sra. Fernanda Montenegro, para a Sra. Laura Cardoso, para a Sra. Betty Faria, e tantos outros seres humanos geniais em suas respectivas profissões, lembre-se de que o mercado de trabalho continua acreditando e confiando no potencial dessas pessoas, porque, sem dúvida alguma, elas têm em si mesmas a certeza de que, “... Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você. E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo” 2.
É como diz Jorge Aragão, "Não se discute talento / Mas seu argumento, me faça o favor / Respeite quem pode chegar / aonde a gente chegou" 3.  Vamos parar com essa ignorância, com essa falta de conhecimento explícita, e deixar de destilar veneno, de exibir a sua frustração sobre a vida alheia. Pense a respeito. Tenha respeito.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Dia Internacional dos Direitos Humanos

Direitos humanos, direitos de todos


Por Alessandra Leles Rocha



Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade (Art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948).
Deveria ser simples assim. Essa condicionalidade já nos dá um bom indicativo das razões pelas quais isso não acontece. Infelizmente, a racionalidade humana parece só conseguir enxergar a vida e suas nuances através da complexidade.
Diferentemente de outras espécies animais, nossas regras de coexistência fogem a objetividade, a simplicidade que de fato garantiria a sua sobrevivência. Muitos pesos para milhões de medidas, levando em conta, na maioria das vezes, interesses próprios e nada altruístas. Somos, portanto, animais egoístas, incapazes de pensar e agir voluntariamente em prol da sua espécie.
Considerando o princípio básico da existência, o qual afirma que os seres nascem, crescem, reproduzem, envelhecem e morrem, de onde terá surgido a nossa hierarquia capaz de estabelecer escalas de importância e de necessidade para os seres humanos? Por que nos consideramos mais ou menos em relação uns aos outros? Por que precisamos mais ou menos do que uns e outros?
Em todo o mundo milhares de pessoas despendem suas energias em litígios, por conta de interesses que lhes provenham mais riqueza, mais poder, mais status. E por quê? Se a vida é um instante o qual não dispomos o controle na palma das mãos.
De repente, você não abre mais os seus olhos. Você se vai e tudo o que aprendeu, fez, construiu, acumulou ficará para trás. Um tempo de ponderações e reflexões deve lhe permear os pensamentos e, certamente, uma boa dose de arrependimentos e tristezas irá apertar os seus sentimentos, fazendo-lhe a seguinte pergunta: valeu a pena? 
Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena”, diria Fernando Pessoa. Mas, mais uma vez, para o ser humano não é tão simples assim. Sua alma tem sempre um peso morto a impedi-la de ser livre, de ser feliz, de ser simplesmente humana. Ela é uma acumuladora por excelência; sobretudo, de defeitos. Acumula arrogância, prepotência, ganância, indiferença,... Como se tudo isso fosse importante para viver.
Diante da cortina fechada, das luzes apagadas, essa compreensão nos dá a dimensão exata do que poderíamos ter sido, ter feito, ter realizado de belo, de justo, de sagrado; mas, já é tarde. Nosso corpo frio e inerte, agora entende que direitos humanos são direitos de todos; mas, fazer o quê?
Por isso, é importante enxergar a si e ao mundo sempre, abdicando da cômoda posição de indiferença que teima em nos envolver. Se você tem direitos, os outros também tem. Se você tem deveres, os outros também. A vida é assim. A igualdade que todos os códigos, leis e doutrinas pregam parte justamente dessa lógica tão simples, tão fundamental, ou seja, a essência que nos torna humanos.
Etnia, credo, gênero, profissão, religião, interesses,... por detrás de todos esses rótulos está um ser humano. Que ri, chora, sofre, luta, vive os altos e baixos do cotidiano, tentando manter a sua dignidade. Ele sonha como você; mas, talvez não sejam os mesmos sonhos. Ele trabalha como você; mas, talvez não seja o mesmo trabalho. Ele aprende como você; mas, talvez não seja da mesma forma. Ele reza como você; mas, talvez não seja o mesmo credo. ...Mas, nem por essas pequenas diferenças, ele deixa de ser humano como você.
Em tempos de tensão, de guerra, de conflitos iminentes, não podemos acreditar que omissões possam ser menos dolosas do que os atos em si. Ao ignorarmos o ser humano estamos nos ignorando, nos colocando em uma posição de superioridade e conforto que na verdade não existe. Somos todos “a bola da vez”. Portanto, defender ou não os direitos humanos é simplesmente uma forma de demonstrar a existência (ou não) do nosso amor próprio, do nosso próprio amor.   

domingo, 3 de dezembro de 2017

"Bendita seja a data que une a todo mundo numa conspiração de amor". Hamilton Wright Mabi

Natal…
 Por Alessandra Leles Rocha


Então é Natal… O ano passou na velocidade da luz e já nos preparamos para seu findar.  Foram dias intensos sob uma atmosfera de tensão jamais imaginada. Tudo muito instável, muito difícil, muito angustiante. O desequilíbrio entre boas e más notícias faz com que as últimas prevaleçam e estremeçam nossas esperanças.
Mas, aqui estamos. Dezembro é o mês de se fazer um balanço da vida. Hora de se despir das fantasias e adereços e cair em si sobre o que é realmente essencial. Independente de qual seja a sua fé, o próprio sentimento de agregação familiar que o período propõe desperta para grandes reflexões.
Depois de tanta luta, tanta guerra, tanto conflito, consigo e com o mundo, corpo e alma pedem um pouco de alento e percebem a necessidade de se melhorar, de evoluir. De repente, passamos a enxergar as picuinhas do cotidiano na exata dimensão que elas têm. Passamos a reavaliar nossas prioridades. Estabelecemos novos compromissos.
Quando nos dispomos a abdicar das aparências, das máscaras, dos protocolos, nossos olhos passam realmente a enxergar. Enxergar a si, a vida, ao outro. A visão pode não ser tão bela, tão aprazível; mas, mesmo nas piores imagens, descobrimos que é possível aprender, agregar conhecimento e redimensionar os próprios valores.
Sabe, ninguém é 100% certo nem 100% errado. Somos um pouco de tudo, de defeitos e de virtudes. Somos humanos e é nessa condição que precisamos trabalhar em busca de uma evolução consciente e consistente por uma coexistência melhor. Isso se chama fraternidade e tem um efeito transformador indizível.
Entendemos, então, o real significado da troca de presentes. O gesto de presentear significa oferecer a alguém algo que possa torná-lo (a) essencialmente feliz. Nem sempre essa gota de felicidade está relacionada com algo material. Há muitas formas de presente, pois há muitas demandas pelo ser humano. Talvez, a mais significativa entre todas, em nosso tempo, seja simplesmente perceber a presença do outro.
Não, isso não é bobagem. Temos nos tratado uns aos outros como seres invisíveis. Quando muito, e para alguns poucos, temos dispensado migalhas de tecnologia e só. Nessa invisibilidade temos tecido uma solidão coletiva que se não mata, fere como um punhal. Afinal de contas, na contramão desse processo, contrariando o discurso do invisível, todo indivíduo quer pertencer, ser aceito, ser amado, ser lembrado.
Segundo José Saramago, em Ensaio sobre a Cegueira, Fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estávamos tratando de negar com a boca”. Por isso, você pode comprar milhões de presentes que conseguem até extrair alguns sorrisos e agradecimentos; mas, nada se compara a um gesto de reconhecimento da presença do outro.   
Olhos nos olhos. Um abraço que toca os corações. Um aperto de mãos intenso. Uma palavra que conforta. Enfim... Basta pensar que há situações na vida em que presentes materiais não seriam capazes de alterá-las e, nem tampouco, fazer aflorar uma felicidade genuína.
Ao retirarmos os outros da invisibilidade, também nos tornamos visíveis. E isso é verdadeiramente fortalecedor na construção de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais criativa, mais inovadora. Sonhos começam a ser compartilhados. Diferenças começam a se somar em torno de um propósito comum. E o respeito passa a ser diretriz de todas as ações.
Esse é o verdadeiro Natal! Que não dura apenas uma noite. Que não acalenta a alma apenas por algumas horas. Que não se restringe a uns poucos. Que está ao alcance das mãos, dos olhos, do coração.