sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Leia e reflita!!!

Pense a respeito. Tenha respeito.


Por Alessandra Leles Rocha



Não é de hoje que envelhecer, no Brasil, é motivo de ofensa. Aliás, a sociedade brasileira tem por hábito eleger justificativas para descartar seus pares, num gesto de preconceito e intolerância sem limites. Na última semana, a mídia esportiva deu voz a um episódio lamentável envolvendo o treinador de futebol Antônio Lopes, 76 anos, no qual o mesmo foi profundamente criticado nas redes sociais em virtude da sua idade e não da sua competência e qualificação profissional 1.
Bem, para início de conversa, aos desavisados e desocupados de plantão, a população das Américas ganhou 16 anos de vida a mais, em média, nos últimos 45 anos, o que significa viver até 75 anos, quase cinco a mais do que a expectativa global, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
E graças ao desenvolvimento da medicina e das práticas de qualidade de vida, essa longevidade vem agregada de aspectos muito positivos, tais como, uma participação cada vez mais ativa e consistente dos idosos na sociedade. Eles dispõem de instrumentos e elementos que ampliam a sua capacidade, as suas competências e habilidades, de modo que não precisam ser excluídos sumariamente, nos diferentes contextos sociais.
Esse ganho na expectativa de vida representa uma conquista de autonomia cidadã muito importante. Porque, embora, muitas pessoas acreditem que a profissionalização humana seja sustentada apenas pelo conhecimento técnico-científico; a verdade é que ele só se traduz efetivamente na maturação garantida pelo tempo, pela vivência prática, ou seja, a experimentação diária.
Além disso, as discussões em torno da capacidade fisiológica são absurdas, porque a ciência aponta estatisticamente em seus estudos o avanço desmedido de diversas doenças sobre faixas etárias abaixo dos sessenta anos, como por exemplo, infarto, AVC, diabetes, hipertensão e câncer. As chamadas “doenças da velhice” hoje são compartilhadas pela sociedade que vive as voltas com o turbilhão da contemporaneidade liderado pelo estresse; o que significa que ninguém está a salvo, por conta da pouca idade.
É na intimidade, na conversa particular consigo mesmo, é que podemos estabelecer os nossos critérios de vida, as nossas aspirações, o nosso movimento em direção ao futuro. Na lógica do bom senso, onde a regra é clara, ninguém precisa arbitrar sobre isso; nem contra nem a favor. Como diz o provérbio, “cada um sabe aonde lhe apertam os calos”.
O que acontece é que a maioria das pessoas deposita sobre os jovens uma expectativa de sucesso, sem que eles muitas vezes não tenham sequer apresentado algum resultado concreto para isso. Vejo alguns recém-formados, com o diploma ainda quente nas mãos, e as famílias os apontando como ases da profissão.
Alto lá! Muita calma nessa hora. Só o tempo dirá. Só o tempo reafirmará a qualidade do processo, da aquisição de informações e construção do conhecimento. Se as bases foram verdadeiramente sólidas. Se a aptidão inata, se os talentos também colaboram para tais expectativas.
Portanto, quando você olhar para o Sr. Antônio Lopes, para o Sr. Sebastião Salgado, para o Sr. José Hamilton Ribeiro, para o Sr. Milton Gonçalves, para o Sr. Morgan Freeman, para a Sra. Fernanda Montenegro, para a Sra. Laura Cardoso, para a Sra. Betty Faria, e tantos outros seres humanos geniais em suas respectivas profissões, lembre-se de que o mercado de trabalho continua acreditando e confiando no potencial dessas pessoas, porque, sem dúvida alguma, elas têm em si mesmas a certeza de que, “... Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você. E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo” 2.
É como diz Jorge Aragão, "Não se discute talento / Mas seu argumento, me faça o favor / Respeite quem pode chegar / aonde a gente chegou" 3.  Vamos parar com essa ignorância, com essa falta de conhecimento explícita, e deixar de destilar veneno, de exibir a sua frustração sobre a vida alheia. Pense a respeito. Tenha respeito.