Pense a respeito. Tenha respeito.
Por Alessandra Leles Rocha
Não é
de hoje que envelhecer, no Brasil, é motivo de ofensa. Aliás, a sociedade
brasileira tem por hábito eleger justificativas para descartar seus pares, num gesto
de preconceito e intolerância sem limites. Na última semana, a mídia esportiva deu
voz a um episódio lamentável envolvendo o treinador de futebol Antônio Lopes,
76 anos, no qual o mesmo foi profundamente criticado nas redes sociais em
virtude da sua idade e não da sua competência e qualificação profissional 1.
Bem,
para início de conversa, aos desavisados e desocupados de plantão, a população das Américas
ganhou 16 anos de vida a mais, em média, nos últimos 45 anos, o que
significa viver até 75 anos, quase cinco a mais do que a expectativa global,
segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
E graças ao desenvolvimento da
medicina e das práticas de qualidade de vida, essa longevidade vem agregada de
aspectos muito positivos, tais como, uma participação cada vez mais ativa e
consistente dos idosos na sociedade. Eles dispõem de instrumentos e elementos
que ampliam a sua capacidade, as suas competências e habilidades, de modo que não
precisam ser excluídos sumariamente, nos diferentes contextos sociais.
Esse
ganho na expectativa de vida representa uma conquista de autonomia cidadã muito
importante. Porque, embora, muitas pessoas acreditem que a profissionalização humana
seja sustentada apenas pelo conhecimento técnico-científico; a verdade é que
ele só se traduz efetivamente na maturação garantida pelo tempo, pela vivência
prática, ou seja, a experimentação diária.
Além
disso, as discussões em torno da capacidade fisiológica são absurdas, porque a ciência
aponta estatisticamente em seus estudos o avanço desmedido de diversas doenças
sobre faixas etárias abaixo dos sessenta anos, como por exemplo, infarto, AVC,
diabetes, hipertensão e câncer. As chamadas “doenças da velhice” hoje são compartilhadas
pela sociedade que vive as voltas com o turbilhão da contemporaneidade liderado
pelo estresse; o que significa que ninguém está a salvo, por conta da pouca
idade.
É na
intimidade, na conversa particular consigo mesmo, é que podemos estabelecer os
nossos critérios de vida, as nossas aspirações, o nosso movimento em direção ao
futuro. Na lógica do bom senso, onde a regra é clara, ninguém precisa arbitrar
sobre isso; nem contra nem a favor. Como diz o provérbio, “cada um sabe aonde
lhe apertam os calos”.
O
que acontece é que a maioria das pessoas deposita sobre os jovens uma
expectativa de sucesso, sem que eles muitas vezes não tenham sequer apresentado
algum resultado concreto para isso. Vejo alguns recém-formados, com o diploma
ainda quente nas mãos, e as famílias os apontando como ases da profissão.
Alto
lá! Muita calma nessa hora. Só o tempo dirá. Só o tempo reafirmará a qualidade
do processo, da aquisição de informações e construção do conhecimento. Se as
bases foram verdadeiramente sólidas. Se a aptidão inata, se os talentos também
colaboram para tais expectativas.
Portanto,
quando você olhar para o Sr. Antônio Lopes, para o Sr. Sebastião Salgado, para
o Sr. José Hamilton Ribeiro, para o Sr. Milton Gonçalves, para o Sr. Morgan
Freeman, para a Sra. Fernanda Montenegro, para a Sra. Laura Cardoso, para a
Sra. Betty Faria, e tantos outros seres humanos geniais em suas respectivas profissões,
lembre-se de que o mercado de trabalho continua acreditando e confiando no
potencial dessas pessoas, porque, sem dúvida alguma, elas têm em si mesmas a
certeza de que, “... Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em
encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você.
E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às
outras pessoas permissão para fazer o mesmo” 2.
É como
diz Jorge Aragão, "Não se discute talento / Mas seu argumento, me faça o favor / Respeite quem pode
chegar / aonde a gente chegou" 3. Vamos parar com essa ignorância, com essa
falta de conhecimento explícita, e deixar de destilar veneno, de exibir a sua frustração
sobre a vida alheia. Pense a respeito. Tenha respeito.
2
Atribuído a Nelson Mandela pelo seu discurso de posse, em
1994, mas escrito por Marianne Williamson.