Operários - Tarsila do Amaral
Nós
Por
Alessandra Leles Rocha
Ah!
Esse olhar autossuficiente que nos faz ver a vida como obra completa e perfeita,
incapaz de sujeitar-se a mudanças alheias à própria vontade! As marés, as luas,
os ventos,... tudo muda, inclusive o ser humano; é bom sentir-se pleno,
inteiro, independente, mas, a realidade nos pede cautela e bom senso. Infelizmente,
pensamos e agimos emoldurados por um conceito de auto perfeição que nos limita e
impede a reflexão aprofundada em diferentes prismas e nos estagna ao hoje, ao
agora. Narcisos... encantados com o
reflexo da própria “beleza” nos entregamos à sua confusão visual e, porque não
dizer também, mental.
Vejamos
como anda a compreensão no país sobre a inclusão social. Há os que pensam dizer
respeito apenas a inclusão de deficientes. Alguns sobre a existência de cotas
raciais. Outros sobre a inclusão de minorias, especialmente os homossexuais. Ora,
mas não deveríamos nem ao menos precisar falar sobre inclusão social, na medida
em que esta se encontra expressa claramente na Constituição Federal de 1988: “Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”; portanto, é
a própria sociedade quem vem historicamente desrespeitando a lei, quando se
posiciona contrária a essa igualdade e, consequentemente, a inclusão.
Inclusão
é pensar coletivamente. É garantir a manutenção dos deveres e dos direitos de
uma sociedade. É tratar os assuntos sempre na observância do todo. Escola para
todos: de forma que esta esteja devidamente estruturada para receber sem
distinção a pluralidade populacional existente. Moradia para todos: de forma
que esta esteja projetada para receber deficientes, permanentes ou eventuais;
enfim, sem distinção a condição humana. Cultura para todos: de forma que não
segmente o acesso entre grupos aptos e não aptos a receber este ou aquele
elemento cultural. Enfim...
Cada
vez que percebo a sociedade contemporânea mais absorta nessa ideologia e
comportamento exclusivo, mais comprovo o seu distanciamento de uma integração
coletiva e harmônica com o mundo. Dentro de seus “casulos” vivem sem despender
o esforço de elevar os olhos a linha do horizonte e compreender a diversidade,
a pluralidade que ali está. Não se dão conta de que a revelia do seu querer
particular, ou do seu engajamento ou participação consciente, os desdobramentos
da sua “indiferença” respingam diariamente sobre o brilho de seus caminhos.
De nada
nos adianta a educação, a cultura, o conhecimento se não fazemos deles conexões
verdadeiras com o meio ao qual nos inserimos; o fato de pertencermos ao grupo
A, B ou C não nos exime da totalidade. Isso é a raça humana: matizes de uma
diversidade que fascina! São os abismos, as diferenças marcantes e marcadas na
sociedade que restringem o seu próprio desenvolvimento e progresso. As grandes
ideias de alguns não passam de ideias se não forem compreendidas e levadas
adiante por outros tantos. É preciso que se diga “NÓS”, que exista igualdade de
oportunidades e de acessos ao conjunto de elementos que compõem a cidadania
para que as barreiras sejam transpostas, para que a cooperação substitua
quaisquer preconceitos ou segregação.