quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Soberania e Autodeterminação dos Povos

Soberania e Autodeterminação dos Povos

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não há quem se mude para outro país, que não sofra um choque de realidade sociocultural. A migração voluntária costuma ser revestida por uma série de expectativas e de idealizações, as quais nem sempre são confirmadas. Cada lugar tem suas especificidades e particularidades, no contexto da sua identidade cultural e cidadã. De modo que o estrangeiro, ou outsider, se pretende obter êxito, paz e tranquilidade na sua nova morada, precisa entender e respeitar essa realidade.

Não é à toa que cada país traça os seus próprios protocolos para emissão de vistos, o que demonstra que o ir e vir, entre nações, não é isento de normas, regras e legislações a serem cumpridas. Medidas que visam evitar distorções e enviesamentos à dinâmica sociocultural de cada lugar, considerando que os próprios nativos (insiders) já compõem uma pluralidade e uma diversidade. No entanto, por conta da sua identidade nacional, as suas diferenças foram niveladas em um senso comum, em uma igualdade de direitos e deveres, que são respeitados. Mas, para o estrangeiro é preciso se adaptar a essa nova realidade.

Bem, isso vale tanto para pessoa física quanto jurídica. Porque trata da soberania de cada país, ou seja, à sua autonomia, o seu poder político e de decisão dentro de seu respectivo território nacional, o respeito à sua legislação, principalmente no tocante à defesa dos interesses nacionais. O que significa que viver ou se instalar em um país está diretamente condicionado a respeitar e agir dentro das diretrizes e leis que sustentam à soberania local. Quaisquer atitudes contrárias podem romper de maneira severa a relação de coexistência harmônica e pacífica entre as partes.

Por essa razão é que, em geral, as relações diplomáticas são pautadas de muito respeito à soberania uns dos outros. Há um cuidado e atenção especial para se evitar ingerências e/ou interferências na autodeterminação dos povos, ou seja, busca-se assegurar que a independência, a liberdade e o direito de organização própria de cada país seja preservada. Infelizmente, dada a uma historicidade global marcada pela existência de nações dominadoras e nações dominadas, nem sempre a autodeterminação dos povos é respeitada. A existência de recortes temporais caracterizados pelas práxis colonialistas, neocolonialistas e imperialistas reverberam ainda na contemporaneidade.

Há uma crença, por parte de certas nações, que o poder capital é capaz de lhes conferir uma superioridade absoluta sobre as demais. Uma interpretação que lhes legitima uma série de ações contrárias à soberania e à autodeterminação dos povos, porque lhes coloca em uma posição prioritária em detrimento dos outros.

No caso dos EUA, por exemplo, a fundamentação ideológica para tal comportamento está na doutrina conhecida como Destino Manifesto, estabelecida no século XIX. Ela defende a convicção de que os cidadãos norte-americanos têm o direito moral e a missão divina de expandir seus territórios. Como se houvesse uma predestinação divina para esse comportamento.

Assim, é fácil perceber a distinção que se estabelece nas relações diplomáticas entre os países desenvolvidos e na relação deles, com os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Enquanto pisam em ovos entre si, por conta das relações e interesses geopolíticos, com os demais o desrespeito e a afronta acontecem sem quaisquer cerimônias. O tratamento é dado segundo o “vale quanto pesa”. Como se houvesse uma imensa satisfação em colocar os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos em posição de sujeição, submissão ou dependência.

Acontece que, apesar de todos os pesares, nada disso muda o fato de cada país possuir soberania e autodeterminação e, em pleno século XXI, fazer valer esses princípios. O que significa que o tensionamento causado pela tentativa de manutenção desse modelo de subserviência, pode acelerar o processo de falência da estrutura econômica global, a partir da deflagração de conflitos generalizados, de potencial impacto negativo.

Afinal de contas, nenhum país parece estar disposto a se permitir desrespeitar, invadir e/ou pilhar seu território, sem manifestar qualquer sinal contundente de resistência à sua soberania e autodeterminação. Caso contrário, estaria assinando de próprio punho o seu viralatismo, a sua idolatria servil, o seu genuíno antipatriotismo, a autonegação à sua identidade nacional.