Em nome
de quais interesses, hein?!
Por Alessandra
Leles Rocha
A sustentação do poder não é para
qualquer um. É preciso ter know-how para não acabar se deixando levar pela arrogância
desmedida e se transformando em escada das pretensões alheias. Antes mesmo do
presidente eleito, dos EUA, tomar posse, em 20 de janeiro, seu governo dá
sinais de que caminha para o início do fim.
Certas megalomanias que vem sendo
divulgadas, algumas delas de viva voz por ele, parecem transpirar influências externas
ao contrário de ideias próprias. Inclusive, porque ele tem escolhido o seu staff
a dedo, indivíduos de vieses radicalizados ideologicamente, o que já
causou diversos ruídos com sua base político-partidária.
Mas, considerando que apesar de
sua experiência anterior, na Casa Branca, ele não é um ser político. Ele gosta
do poder e do que esse pode lhe proporcionar; mas, não da política e da governança.
Exatamente como um de seus principais indicados para o governo, que pensa estar
fazendo um excelente negócio para si mesmo. Só que não.
A nível de discurso, a sede
expansionista que tem marcado as falas do presidente eleito, dos EUA, demonstra
a total inabilidade e desconhecimento geopolítico, no contexto contemporâneo. O
que torna esse tipo de jogo extremamente temerário aos interesses estadunidenses;
sobretudo, ao favorecer seus principais oponentes globais.
Desfazendo-se da dialogia para
utilizar da beligerância como estratégia, os EUA constroem barreiras de
isolamento em relação ao mundo, o que, ao menos em tese, abre oportunidades aos
que assistem de camarote a sua radicalização discursiva.
Bem, relembrando as sábias
palavras de Carl Gustav Jung, “Quem olha para fora sonha, quem olha para
dentro desperta”, enquanto o novo governo dos EUA se inebria com seus
delírios expansionistas, fomentados pelas influências alheias, à revelia do que
pensam os seus cidadãos, talvez, o despertar possa vir de maneira caótica.
E aí cabe dois aspectos de
análise. Primeiro, porque essa estratégia esgarça qualquer intenção de favorecer
a popularidade da ultradireita no cenário mundial. Pesquisas e estudos acadêmicos
dão conta da impopularidade da beligerância no mundo contemporâneo. A insatisfação
é geral, quando se trata de comportamentos autoritários, opressores, tirânicos.
Segundo, porque não só pela
dinâmica social que eles representam; mas, pelas consequências desastrosas, de
natureza político-econômica, que a beligerância, em si, produz. Com os olhos e
os interesses voltados para conflagração externa, o país fica à deriva, à mercê
da própria sorte. Especialmente, do ponto de vista econômico, tendo em vista os
vultosos montantes destinados à manutenção dos conflitos.
Mas, ainda caberia um terceiro
aspecto. Considerando o lema da campanha eleitoral vencedora, “Fazer a
América Grande Outra vez” (Make America Great Again – MAGA), parece haver
uma dissonância de ideias. Rupturas dialógicas e diplomáticas; bem como, estratégias
de caráter imperialista, não são um caminho no sentido de fortalecer os EUA. A política da pós-verdade, do medo social, pode
sim, surpreender com um efeito totalmente reverso, em relação a eles mesmos.
Começando pelo próprio país. Por
mais que o Partido Republicano tenha vencido às últimas eleições, os estadunidenses
não estão coesos politicamente. Há diversas questões que apontam a existência de
fraturas na sociedade, sendo uma delas a guerra. Os EUA são um país marcado
historicamente pela belicosidade, dentro e fora do seu território; mas, ainda
não conseguiram superar todas as arestas, nesse sentido.
Além disso, o cenário atual do
planeta não é dos melhores. Há duas guerras em curso. Há uma série de países
envolvidos, dentro de um nível de complexidade diplomática bastante importante.
Qualquer movimento errático dos EUA, nessas alturas do campeonato, pode
catalisar desdobramentos inimagináveis, afetando diretamente a estrutura de
governança estadunidense.
Ora, lembremo-nos as palavras de Nicolau
Maquiavel, “Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma
vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”. E
nisso reside o início do fim. Ao deixar-se envolver pelas lisonjas, os apertos
de mãos, as trocas de favores, a vaidade deturpa e arruína o poder do
governante. No entanto, não foi a essas pessoas que a Democracia, através do
pleito eleitoral, elegeu.
O que significa que as malfadadas
consequências, que possam vir dessa gestão, na verdade, são de responsabilidade
do presidente. Das suas escolhas. Das suas decisões. Afinal, ele assumiu um
compromisso constitucional com seu país. Se uns e outros o influenciaram, o
persuadiram, isso não muda a realidade dos fatos; mas, de certa forma, pode sim,
ser um sinal do tamanho das pretensões e das ambições desses indivíduos, em
relação ao poder.
Assim, diante dessa breve reflexão, guardemos na memória que “O Príncipe que depende de muitos costuma não ter sucesso”; pois, “Existe uma distância tão grande entre como se age e como se deveria agir, que aquele que despreza o mundo real para viver num mundo imaginário encontrará antes sua ruína do que sua salvação”. Afinal de contas, ele acabará descobrindo, da pior forma, que “É fácil persuadir o povo de algo, difícil é manter essa persuasão” (Nicolau Maquiavel – O Príncipe, 1532).