sábado, 11 de janeiro de 2025

Instinto de Sobrevivência ...


Instinto de Sobrevivência ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Uma passada de olhos nas matérias exibidas essa semana e a sensação é de um total descolamento da realidade. Assuntos que orbitam necessariamente os interesses capitais seriam relevantes se não houvesse um contexto muito mais urgente e significativo para a sobrevivência humana.

Nada é mais fundamental do que a vida! Todo o resto existe por conta dela. E não adianta que A, B ou C, queiram subverter essa lógica. É assim e ponto final. Portanto, nesse momento, não há como fugir da realidade que impera soberana sobre a raça humana. Em cada canto do globo terrestre operam manifestações extremas do clima, as quais vão muito além de si mesmas.

São as reverberações desses acontecimentos que afetam a dinâmica social, em suas mais diversas instâncias, e colocam abaixo a força das decisões impositivas, as tensões políticas, os interesses econômicos. Depois de tanto fazer e acontecer, estamos diante de algo à revelia de nossas escolhas e ou da capacidade de subjugá-lo. O que torna as discussões totalmente non sense, na medida em que o mundo começa a se reestabelecer sob uma nova ordem.

O ideário da Revolução Industrial que veio determinando os parâmetros e os objetivos da vida, não se sustenta mais. A negligência e a inobservância em relação ao seu rastro de consequências e desdobramentos nefastos, exige uma mudança urgente de rumos na história. Afinal, a lei da sobrevivência é implacável e inflexível. E queiram ou não admitir, o TER está se tornando cada vez mais relativizado. Ele não é mais um sinônimo de certeza.

A raça humana está sendo nivelada a um mesmo patamar. Não importa o gênero, a raça, a idade, a escolaridade, o status, ... De uma hora para outra os indivíduos são confrontados pela escassez. Seja de água, de alimentos, de moradia, de medicamentos, ... De uma hora para outra os seres humanos podem perder todo o seu recurso.  Haja vista os recentes incêndios na Califórnia. Assim, de repente! A vida como ela é deixa de ser.

De modo que a apologia do caos através da busca pela monetização do ódio nas redes sociais, ou das políticas imperialistas beligerantes, ou dos comportamentos anticidadãos e antidemocráticos, ... demonstra o seu imenso distanciamento do que realmente importa. Não está nas mãos de nenhuma dessas práxis a manutenção da sobrevivência e da dignidade coletiva da raça humana. Muito pelo contrário. Elas acabam por funcionar como catalizadores da destruição. Os cavaleiros do apocalipse. Que se comprazem com a peste, a guerra, a fome e a morte.

Se deixar levar por essa teia distópica, que obedece aos interesses de uns e outros, apegados às materialidades da vida, é inútil. É preciso agir, de maneira consciente e responsável, em nome do resgate do planeta aos seus verdadeiros trilhos. Conter a propagação dos prejuízos socioambientais já consolidados. A voz da maioria tem que soar mais alto e mais consistente o seu instinto de sobrevivência. Nada mais importa se não tivermos meios de suprir nossas necessidades humanas fundamentais.  

Diante dessa breve leitura, nos permitamos refletir sobre as seguintes palavras, “Não é a paz que lhes interessa. Eles se preocupam é com a ordem, o regime desse mundo. (...) O problema deles é manter a ordem que lhes faz serem patrões. Essa ordem é uma doença em nossa história” (Mia Couto - O Último Voo do Flamingo, 2000). Contudo, “Em certo sentido, a direita tem razão quando se identifica com a tranquilidade e com a ordem. A ordem é a diuturna humilhação das maiorias, mas sempre é uma ordem – a tranquilidade de que a injustiça siga sendo injusta e a fome faminta” (Eduardo Galeano). Por isso é preciso agir!