sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

O que dizem as entrelinhas da história, hein???


O que dizem as entrelinhas da história, hein???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Teorias da conspiração sempre existiram na história do mundo. O importante é entender que elas só estão, por aí, causando tensões e conflitos, porque de algum modo elas se sustentam por ideologias que satisfazem a legitimação de poder de certos grupos. Por isso, nada que acontece é obra do acaso! Por trás disso ou daquilo há sempre milhões de ideias muito bem organizadas.  

O que não significa, necessariamente, que sejam essas teorias o maior de todos os perigos para a humanidade. Em plena contemporaneidade, o que me causa calafrios é a limitada análise dos acontecimentos e das ideias, como se tudo estivesse desconectado, quando, na verdade, não está. Esse é o ponto de reflexão.

Ninguém duvida, por exemplo, da importância do diálogo amplo que um governo precisa ter para conduzir seus trabalhos. Estar aberto para as diferenças é fundamental! Mas, temos visto, no Brasil, movimentos fisiológicos abjetos, constituídos por grupos de parlamentares de diversos espectros político-partidários, aglutinados numa estrutura a qual se conhece por Centrão, cujas ações nunca “dão ponto sem nó” e sempre arrastam uma mácula negativa para as páginas da história.

Eis, então, que mais recentemente o governo tem buscado uma maior aproximação, dentro dessa estrutura, com a bancada parlamentar evangélica, cujo papel para a representatividade social tem se ampliado, nas últimas décadas, no país. E, nesse sentido, circula a notícia de que o governo federal “apoiará projeto que prevê imunidade tributária a templos de qualquer culto” 1.

Nada demais, até a página dois! Acontece que não se pode vestir o manto da ingenuidade e acreditar que a isenção fiscal não esconde um viés fomentador para as intenções teocráticas que rondam o cenário nacional.

Ora, tudo aquilo que não é cobrado pelo Estado brasileiro será aplicado em projetos expansionistas, em tese, de difusão religiosa, voltados para emissoras de rádio e TV, canais na internet, entre outros.

E sob essa perspectiva, a consolidação ideológica teocrática se fortalece, sob as mais diferentes formas e conteúdos. Com mais recursos disponíveis não é difícil que a teocracia busque consolidar um governo fundamentado na religião. Mas, não qualquer religião! É a religião aceita e pregada pelas minorias dominantes, cujos principais representantes se encontram no Congresso Nacional.

Que tal recapitular a história? Quem nunca ouviu falar no Direito Divino dos Reis, difundido durante o período absolutista, entre os séculos XVI e XVIII? Nele, o poder dos monarcas advinha da vontade de Deus, ou seja, era a teocracia legitimando o poder nas mãos de um escolhido pelo divino, pelo sagrado, e subalternizando as vontades e demandas populares.  

Observem que, antes mesmo dessa ideia de isenção de tributos se firmar, diferentes congregações religiosas cristãs já têm se aproximado das corporações policiais, no estado de São Paulo 2.  De modo que, elas gradualmente vão influenciando o coletivo no sentido de constituir uma concepção social, na qual as ações políticas, jurídicas e policiais devam estar submetidas às normas daquela determinada religião.

Pois é, tudo está conectado! Na verdade, sempre esteve; mas, na dinâmica contemporânea isso exige uma consciência reflexiva e analítica, ainda maior, porque as forças disruptivas que estão sendo empregadas para destruir as liberdades são muito persistentes. Mesmo ideologias, teoricamente, contrárias têm se unido para fragilizar e comprometer as Democracias, por exemplo.

É cada vez mais necessário, então, medir, pesar e ponderar, os acontecimentos, antes de impor-lhes uma conclusão definitiva. O mundo não está em ebulição somente por conta dos eventos extremos do clima; mas, pela efervescência ideológica, ética e moral que chacoalha dentro dos indivíduos. É preciso muito cuidado com a abertura de precedentes, com a condescendência, com a tolerância ilimitada, porque os “Ovos da Serpente” estão por todos os lados, nos espreitando.

Houve um tempo em que eu acreditei que as duas Grandes Guerras; sobretudo, a Segunda, haviam deixado um lastro de experiências ruins suficiente para exercer um freio a novos arroubos, para a humanidade. Só que não.  O Homo sapiens não aprendeu nada, ou talvez, não tenha desejado aprender, permitindo-se refestelar na sua gênese bárbara, primitiva, indomável.  

O que significa que não podemos, realmente, descartar uma Terceira Guerra mundial. Nem tampouco, tantas outras pequenas guerras domésticas, ou no quintal de nossas casas. Afinal, o desejo de poder, seja de que tipo for, arde em chama alta e entorpece, cada dia mais, os sentidos da raça humana. Não há suficiência para as suas subjetividades, mesmo aquelas mais distorcidas e repugnantes. Como se o mais parecesse sempre pouco, sempre nada. De modo que nem as raspas, nem os restos, do poder, escapam da voracidade das pseudo-hienas contemporâneas. Estejamos atentos, então!