O que
dizem as entrelinhas da história, hein???
Por Alessandra
Leles Rocha
Teorias da conspiração sempre
existiram na história do mundo. O importante é entender que elas só estão, por
aí, causando tensões e conflitos, porque de algum modo elas se sustentam por
ideologias que satisfazem a legitimação de poder de certos grupos. Por isso,
nada que acontece é obra do acaso! Por trás disso ou daquilo há sempre milhões
de ideias muito bem organizadas.
O que não significa,
necessariamente, que sejam essas teorias o maior de todos os perigos para a
humanidade. Em plena contemporaneidade, o que me causa calafrios é a limitada
análise dos acontecimentos e das ideias, como se tudo estivesse desconectado,
quando, na verdade, não está. Esse é o ponto de reflexão.
Ninguém duvida, por exemplo, da importância
do diálogo amplo que um governo precisa ter para conduzir seus trabalhos. Estar
aberto para as diferenças é fundamental! Mas, temos visto, no Brasil,
movimentos fisiológicos abjetos, constituídos por grupos de parlamentares de
diversos espectros político-partidários, aglutinados numa estrutura a qual se
conhece por Centrão, cujas ações nunca “dão ponto sem nó” e sempre
arrastam uma mácula negativa para as páginas da história.
Eis, então, que mais recentemente
o governo tem buscado uma maior aproximação, dentro dessa estrutura, com a
bancada parlamentar evangélica, cujo papel para a representatividade social tem
se ampliado, nas últimas décadas, no país. E, nesse sentido, circula a notícia
de que o governo federal “apoiará projeto que prevê imunidade tributária a
templos de qualquer culto” 1.
Nada demais, até a página dois! Acontece
que não se pode vestir o manto da ingenuidade e acreditar que a isenção fiscal não
esconde um viés fomentador para as intenções teocráticas que rondam o cenário
nacional.
Ora, tudo aquilo que não é cobrado
pelo Estado brasileiro será aplicado em projetos expansionistas, em tese, de
difusão religiosa, voltados para emissoras de rádio e TV, canais na internet,
entre outros.
E sob essa perspectiva, a
consolidação ideológica teocrática se fortalece, sob as mais diferentes formas
e conteúdos. Com mais recursos disponíveis não é difícil que a teocracia busque
consolidar um governo fundamentado na religião. Mas, não qualquer religião! É a
religião aceita e pregada pelas minorias dominantes, cujos principais
representantes se encontram no Congresso Nacional.
Que tal recapitular a história? Quem
nunca ouviu falar no Direito Divino dos Reis, difundido durante o período
absolutista, entre os séculos XVI e XVIII? Nele, o poder dos monarcas advinha
da vontade de Deus, ou seja, era a teocracia legitimando o poder nas mãos de um
escolhido pelo divino, pelo sagrado, e subalternizando as vontades e demandas populares.
Observem que, antes mesmo dessa
ideia de isenção de tributos se firmar, diferentes congregações religiosas
cristãs já têm se aproximado das corporações policiais, no estado de São Paulo 2. De modo que, elas gradualmente vão
influenciando o coletivo no sentido de constituir uma concepção social, na qual
as ações políticas, jurídicas e policiais devam estar submetidas às normas daquela
determinada religião.
Pois é, tudo está conectado! Na verdade,
sempre esteve; mas, na dinâmica contemporânea isso exige uma consciência reflexiva
e analítica, ainda maior, porque as forças disruptivas que estão sendo
empregadas para destruir as liberdades são muito persistentes. Mesmo ideologias,
teoricamente, contrárias têm se unido para fragilizar e comprometer as
Democracias, por exemplo.
É cada vez mais necessário,
então, medir, pesar e ponderar, os acontecimentos, antes de impor-lhes uma
conclusão definitiva. O mundo não está em ebulição somente por conta dos
eventos extremos do clima; mas, pela efervescência ideológica, ética e moral
que chacoalha dentro dos indivíduos. É preciso muito cuidado com a abertura de precedentes,
com a condescendência, com a tolerância ilimitada, porque os “Ovos da
Serpente” estão por todos os lados, nos espreitando.
Houve um tempo em que eu
acreditei que as duas Grandes Guerras; sobretudo, a Segunda, haviam deixado um
lastro de experiências ruins suficiente para exercer um freio a novos arroubos,
para a humanidade. Só que não. O Homo
sapiens não aprendeu nada, ou talvez, não tenha desejado aprender,
permitindo-se refestelar na sua gênese bárbara, primitiva, indomável.
O que significa que não podemos, realmente, descartar uma Terceira Guerra mundial. Nem tampouco, tantas outras pequenas guerras domésticas, ou no quintal de nossas casas. Afinal, o desejo de poder, seja de que tipo for, arde em chama alta e entorpece, cada dia mais, os sentidos da raça humana. Não há suficiência para as suas subjetividades, mesmo aquelas mais distorcidas e repugnantes. Como se o mais parecesse sempre pouco, sempre nada. De modo que nem as raspas, nem os restos, do poder, escapam da voracidade das pseudo-hienas contemporâneas. Estejamos atentos, então!