A contemporaneidade
e seus pesos e medidas...
Por Alessandra
Leles Rocha
Albert Einstein tinha mesmo
razão, o tempo é relativo! Para muitas coisas ele parece rápido, adiantado;
mas, para outras, ele parece lento, imóvel, preso ao passado. O que torna,
muitas vezes, difícil de compreender o que querem ou esperam as conjunturas
sociais, em seus mais diversos contextos.
Em alguns momentos prevalece a
máxima do preto no branco, tudo direto, claro e objetivo. Em outros, emergem,
sabe-se lá de onde, interpretações variadas para ajustarem-se aos interesses de
uns e outros. De modo que ficamos sem ter acesso a verdade dos fatos. Sem saber
se é isto ou aquilo, diante da presença de uma enigmática terceira margem para
o rio.
Vejam, por exemplo, que há tempos
o Brasil vive a realidade da escassez de professores. Ano após ano, o número de
docentes dispostos a enfrentar a gama de desafios presentes no sistema
educacional brasileiro, se reduz drasticamente.
Nem considero a possibilidade de
afirmar que esses (as) professores (as) perderam seu apreço e interesse pela
profissão. Na verdade, foram as agruras cotidianas que impuseram tantos
desgastes e decepções, que não houve outro caminho senão abdicar do ensino-aprendizagem.
De modo que as pesquisas na área e as matérias jornalísticas dão conta desse
gargalo que se formou no setor.
Especialmente, na rede pública de
ensino, a carência de profissionais cria lacunas significativas na construção
do conhecimento e contribuem para a evasão escolar e os baixos desempenhos dos
alunos, em sistema avaliativos como, por exemplo, o Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (PISA) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Contudo, apesar desse cenário, é
curioso quando profissionais que se dispõem a estar em sala de aula não sejam
selecionados pelos critérios estabelecidos por escolas públicas e privadas. No
caso de escolas públicas, por exemplo, os critérios se dividem entre concursos
públicos e designações anuais e/ou eventuais.
No caso dos concursos, a isonomia
presente no edital garante que os pretensos candidatos sejam aprovados de
acordo com o seu desempenho em prova e eventuais análises curriculares, quanto
à qualificação em Especializações, Mestrado e Doutorado. Pelo menos, em tese,
as habilidades e competências docentes estão sendo, de fato, avaliadas e
analisadas para a contratação do profissional, mediante a sua própria
apresentação durante o concurso público.
Já, nas designações anuais e/ou
eventuais, exige-se dos candidatos uma inscrição prévia que gera um número
classificatório, o qual leva em consideração o tempo de serviço prestado na
rede pública. Assim, não é incomum, por exemplo, que esses
professores não sejam, necessariamente, licenciados para exercerem à
docência.
Na verdade, somente em casos de
empate é que entram em cena outros critérios. É verificado se o candidato está
pleiteando a posse do cargo mediante aprovação por concurso, se o candidato já
foi designado em outra escola, se o candidato dispõe de certificado da
licenciatura compatível ao cargo, se o candidato dispõe de certificado de
pós-graduação, se o fator etário é maior ou menor, ...
E apesar desse cenário, muitos
profissionais designados abandonam a vaga, mesmo sob pena de alguma punição
burocrática, obrigando as escolas a repetirem o processo novamente. Mas, vejam
só, que curioso! Um candidato que não tenha tido oportunidade de fazer sua
inscrição para a designação, entra em desvantagem direta no processo
designatório.
Porque não importa se ele tem um
currículo que satisfaça plenamente ao exercício do cargo. Não importa o tempo
que demore para uma nova designação. Não importa que inúmeras turmas fiquem sem
aulas daquele conteúdo. Não importa. Isso não é levado em consideração. O que
importa é o número de classificação gerado pela inscrição.
Bem, e se todo o exposto acima
lhe gera, no mínimo, reflexão, imagine o que está por vir, na rede privada. Nela incidem duas possibilidades de
contratação, ou seja, entrega direta de currículos para análise ou sistemas de
seleção próprios. Isso, teoricamente, porque na prática os trâmites podem
envolver, por exemplo, o chamado networking, que nem sempre está
explícito ao candidato.
A grande questão é que o processo
nem sempre transcorre com a transparência desejada e, muitas vezes, culmina em mensagens,
contendo frases do tipo “Neste momento, você não foi selecionado para seguir
nas próximas etapas”. De modo que o candidato não sabe se o seu currículo estava
acima das expectativas ou abaixo delas, ele simplesmente foi recusado sem
maiores esclarecimentos. O que é muito
decepcionante, especialmente, para aqueles que têm plena consciência das suas
habilidades, competências e qualificações para o cargo.
Portanto, a Educação brasileira é
só um viés de como os tempos contemporâneos são frios, insensíveis e covardes,
no trato das relações sociais. Sem coragem de olhar nos olhos, de dar um feedback
pessoal, responsáveis pelos departamentos de contratação e recursos humanos
se escondem em frases feitas, em recursos tecnológicos, para não apresentarem
os verdadeiros argumentos de suas escolhas e, nem tampouco, permitir o direito
de exercer a réplica pelos pretensos candidatos.
Se nesse instante, você, caro (a)
leitor (a), ainda considera tudo isso normal, compatível à realidade
contemporânea, lamento muito! Seja na Educação ou em quaisquer outras
profissões, o ser humano tem sido cobrado avassaladoramente e depois medido,
pesado e julgado insuficiente, sem direito a contestações. O que explica, de
certa forma, porque os índices de desemprego no Brasil, e no mundo, não são
obra do acaso, ou de uma passividade voluntária, ou da mera incompetência das
pessoas.
Bom, enquanto estamos discutindo
sobre a perspectiva desse cenário, a Inteligência Artificial (I.A.) já extingue
milhões de oportunidades de trabalho, no planeta, à revelia das habilidades,
competências e/ou qualificações para os cargos. Pois é, a frieza tecnológica
anuncia, aos quatro cantos, que os seres humanos são dispensáveis, sem
precisar, na verdade, enunciar uma só palavra.
Que muito menos gente, dentro da
população ativa, terá espaço nessa nova ordem socioeconômica global. Inclusive,
quem, hoje, pensa que está em posição de superioridade ou importância, quando
exclui ou dispensa um trabalhador, tende a ser sumariamente surpreendido pela
I.A.
Na relatividade do tempo, as voltas
que o mundo dá estão cada vez mais rápidas, não é mesmo? Se hoje, uns e outros
pensam que não há problemas em serem frios, insensíveis e covardes, no trato
das relações sociais; em breve, descobrirão o tamanho da insensibilidade tecnológica,
à flor da pele.
Aí, então, vamos entender que Herbert de Souza, o Betinho, tinha mesmo razão, quando disse que “A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego. O diabo é que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário”. Bora pensar sobre isso!!!