O
poder ...
Por
Alessandra Leles Rocha
Falam muito sobre o poder. Que o
poder é isso. Que o poder é aquilo. Que o poder faz e acontece. Porém, no fim
das contas, de tanto falar acabam se esquecendo de um detalhe crucial: o poder
é relativo. Quem diria, não é mesmo? Mas, é. E tive a prova disso essa manhã 1.
Tudo o que se espera de um ser
humano, que proclama aos quatro ventos ser a personificação do poder, é uma
condição absoluta de autoridade. Como se fosse dotado de uma blindagem que o
impedisse de ser atingido por qualquer razão ou pessoa. Como se a sua condição social
bastasse para o distanciar dos contratempos, dos infortúnios, dos ataques,
enfim...
Afinal, na sua perspectiva de
poder estão incluídos aspectos socioeconômicos importantíssimos. O primeiro
deles é, sem dúvida alguma, o capital. Sim, a marca do poderoso é sempre a
ostentação do vasto patrimônio, como o passaporte para fazê-lo transitar pelos
espaços sem se desgastar com eventuais obstáculos ou percalços.
Depois, são as relações sociais.
O poderoso procura sempre desenvolver a habilidade de tecer uma rede robusta de
aliados importantes e influentes, nos mais diferentes segmentos da sociedade. Nunca
se sabe, em que esquina da vida algo pode comprometer a sua tranquilidade,
então, é sempre oportuno ter alguém para contar em uma emergência.
No entanto, o que poderia
representar um mar de tranquilidade ao poderoso, não é realmente o suficiente
para sustentar sua paz. Esse cenário não faz do poder algo absoluto. Aliás,
somente alguém, ingênuo o bastante, para acreditar que o percurso ao apogeu da
glória, no Brasil, é de fato constituído apenas por esforço, trabalho, altruísmo,
dignidade, honra, ética, moral, ...
Basta visitar as páginas da
história para ver como os grandes impérios se ergueram, ao longo dos séculos. Nas
entrelinhas do poder há sempre um rastro de sujeiras e de comportamentos inapropriados
e desprezíveis. E esse é o ponto que relativiza, em cheio, o poder.
Invisibilizar algo não significa
que ele deixa de existir, que ele desaparece como um passe de mágica. Portanto,
esse rastro de sujeiras e de comportamentos inapropriados e desprezíveis pode
estar eventualmente oculto aos olhos, aos comentários, ao conhecimento público;
mas, trata-se de um ente armazenado no inconsciente de quem participou direta
ou indiretamente dos fatos, bem como, na materialidade do acervo de registros a
respeito.
E é aí que o poder esmorece! Por
mais que o capital e as relações sociais possam contribuir para manter as zonas
de conforto dos poderosos distantes das tensões, eles sabem muito bem o que
fizeram nos verões passados. Assim, mesmo na sua completa invisibilidade, esses
fatos conseguem ecoar ruidosamente dentro de suas consciências. Apesar de todos
os esforços, então, para manterem-se na sua condição absoluta de autoridade, os
poderosos acabam se rendendo a sua fragilidade existencial humana.
Se eles são tão poderosos quanto
apregoam, se afirmam que estão acima do Bem e do Mal, que têm o mundo nas mãos,
então, por que razão descem do pedestal para medir forças com os fatos? De repente
a sua autoridade rui, como se nunca tivesse existido realmente. Ao demonstrar
que não sabem como lidar com as vozes do seu inconsciente, reverberando em uníssono
com as vozes do lado de fora, tudo aquilo que eles tentam manter oculto acaba os
impulsionando a abdicar da força imagética da sua autoridade, e sair por aí,
tentando calar, silenciar, o que lhes traz tamanho incômodo e desconforto.
Aí o que parecia um gigante do
alto do poder, se mostra no mesmo tamanho dos pobres mortais. Tantos esforços
de não pensar a respeito de certos assuntos, de invisibilizá-los de todas as
maneiras, agora, ele próprio dá notoriedade por meio da sua atitude arbitrária,
opressiva. Sim, porque certos silêncios falam mais alto do que muitos gritos. E
tudo o que se torna proibido acaba se transformando em assunto de interesse
popular, não é?
Talvez, o que se pode extrair de
bom dessa história toda é que a capa do poder, finalmente, foi rasgada. Os
superpoderes viraram fumaça. Agora sabemos que os poderosos sentem medo, sentem
raiva, sentem desconforto, por trás daquela aura blasé, de total indiferença
sobre o mundo.
Ora, ora, eles são mortais! São falíveis!
Ah, e se irritam demasiadamente quando o mundo não segue exatamente a sua
cartilha idealizada! Nessas horas eles metem os pés pelas mãos, perdem a classe,
a compostura, e provam que por trás do figurino de grife, bem cortado e elegante,
o poder é relativo.