A
FÉ ... PÚBLICA ABALADA!
Por
Alessandra Leles Rocha
Vexatória. Deplorável.
Indecorosa. ... São só alguns dos adjetivos para definir a notícia que caiu
como uma bomba sobre os veículos de comunicação e informação, nacionais e
estrangeiros, hoje. Segundo investigações da Polícia Federal (PF) teria havido
fraude no Sistema do Ministério da Saúde em relação ao cartão de vacinação da
Covid-19 em benefício do ex-Presidente da República e, por isso, foi deflagrada
uma operação para aprofundar as apurações junto aos envolvidos 1.
Por si só, os fatos já seriam gravíssimos.
Depois de uma resistência pública e notória à vacinação, no país, e de ter
ajudado a contribuir com o mau exemplo, para a morte de milhares de cidadãos e
a promoção de Fake News de caráter negacionista, a dúvida se houve ou não a vacinação
por parte do ex-Presidente gera profunda indignação.
Mas, não bastassem todos os
absurdos que atravessaram os momentos mais críticos e difíceis da Pandemia, tão
bem retratados e documentados pela CPI da Covid-19, e que agora ganham mais
esse adendo, a questão de uma adulteração no sistema de informação pública passa
a ser o elemento principal de análise por todos os cidadãos brasileiros.
Não, porque seja de antemão um
fato estarrecedor. Acontece que ele ultrapassa quaisquer limites do decoro, da responsabilidade,
da credibilidade, institucional. Se por essa ou aquela razão, houve quem
acreditasse que pudesse adulterar dados no sistema de Saúde, quem pode
garantir, a partir da emergência desses fatos, que em outros sistemas públicos o
mesmo não tenha ocorrido? Quantos dados públicos nacionais não podem ter sido
maquiados fraudulentamente para atender a esse ou a aquele interesse? Haja vista
quantos sigilos foram criados, não é mesmo?!
Lamento, mas essas perguntas devem
(ou deveriam) estar pulsando freneticamente nas mentes de muitas pessoas, não
somente dentro do Brasil; mas, fora dele também. Parece que alguém conseguiu
macular a Fé Pública. Para quem não
sabe, esse é o termo que trata da “confiança
atribuída pelo estado democrático de direito aos agentes públicos para prática
dos atos públicos, cuja veracidade e legalidade se presumem devendo ser exercida
nas exatas limitações constitucionais e legais sob pena de responsabilização
civil, administrativa e criminal” 2.
De certo modo, uma ruptura
abrupta com a certeza para permitir pairar sobre o país uma névoa de
desconfiança. Aliás, em plena efervescência das discussões sobre o PL das Fake
News, os acontecimentos não deixam de se cruzar. Afinal, a avalanche de Fake
News que vem se espalhando pelo Brasil, desde 2019, tem no seu rol de assuntos um
negacionismo expresso sob diferentes formas e conteúdos que afeta diretamente a
credibilidade do serviço público e de suas instituições.
Vimos isso, claramente, nas
ofensivas contra o sistema eleitoral brasileiro. Na apologia que fez decrescer
vertiginosamente a vacinação entre as crianças e a população em geral, no caso
da Covid-19. Na afirmação ultraconservadora da pauta do Homeschooling. No desrespeito com as tradições de um Estado laico. Na
resistência à realização ao Censo Demográfico. Enfim. Esses são apenas alguns
exemplos de processos que vêm acontecendo, principalmente, através das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), para desacreditar e fragilizar a
dinâmica social do país.
Portanto, temos que elevar ao
patamar da dúvida sim, se essa questão passa somente pelo movimento de difamação,
de desqualificação, de violência, usando o campo tecnológico como facilitador
para esse fim, ou se todos os trabalhos das instituições públicas, nos mais
diferentes setores, também, foram atacados pelo uso de mecanismos tecnológicos de
fraude e adulteração para corroborar com as narrativas e discursos que satisfizessem
aos interesses de uns e outros.
Se essa compreensão não estiver
muito bem elucidada, o país corre o risco de estar se enveredando por uma
realidade paralela, ajustada para caber nas projeções e perspectivas
idealizadas por certas ideologias. A natureza pública das informações, dos
dados, dos históricos, passa a traduzir uma versão do Brasil e não, o Brasil.
De modo que não estamos tratando só de uma desconstrução meramente imagética;
mas, simbólica e identitária, a qual repercute ampla e maciçamente, inclusive, sobre
discussões internacionais.
Como sentar a uma mesa de
negociação, permitindo pairar no ar, quaisquer mínimas desconfianças sobre as informações
prestadas, hein? E buscando na memória recente, sabemos que em muitos momentos
o Brasil não se constrangeu diante do mundo, apresentando dados fictícios da
sua realidade paralela. Especialmente, quando se permitia falar sobre Meio
Ambiente.
Talvez, seja oportuno, então,
aproveitar os recentes acontecimentos para expandir o olhar sobre tudo isso. Não
estamos falando apenas de respeito com a Cidadania, com a Democracia, com o
Estado de Direito, com a história nacional, ao apontar a importância da Fé
Pública. Estamos falando de credibilidade, de estabilidade, de responsabilidade,
com o país. E isso não é pouco. É tudo. Investimentos. Crescimento. Progresso.
Desenvolvimento. ... Então, reflita a respeito!