A
bússola do retrocesso contemporâneo nacional
Por
Alessandra Leles Rocha
Aos que se indignaram diante da
expressão abjeta do racismo contra um talento do futebol brasileiro, em solo
espanhol, saibam que esse é só um dos frutos amargos que a direita e seus
matizes mais radicais e extremistas pretende distribuir pelo mundo. Sim, porque
esse modo de pensar retrógrado e perverso não tem limites geográficos e, nem
tampouco, para suas ações.
Pois é, dessa vez foi em outro
país. Entretanto, diariamente, novos episódios que ressaltam as crenças, os
valores, os princípios e as convicções mais ultrapassadas, existentes na
história da humanidade, tais como o racismo, a misoginia, a homo e a
transfobia, a xenofobia, o trabalho análogo à escravidão, as desigualdades
socioculturais e econômicas, ... acontecem em solo brasileiro e ganham as
manchetes dos veículos de comunicação e de informação nacionais e
internacionais. O que pouca gente se lembra de destacar, de trazer à tona, é o
fato de que por trás desse movimento há sempre uma presença maciça da direita e
seus matizes mais radicais e extremistas.
Acontece que longe de ficar
restrito às pautas comportamentais ou de costumes, ela essencialmente busca
extrapolar os limites e alcançar as disputas político-partidárias nacionais. Haja
vista como a recente composição do Congresso Nacional brasileiro respira e
transpira esse direitismo, deixando claras as suas intenções em detrimento dos
interesses reais do coletivo populacional do país. Mais do que ofender, desqualificar ou humilhar
seus eventuais oponentes e/ou desafetos, a pretensão desse grupo é exercer uma ingerência
nociva e obstaculizante ao governo eleito, ainda que isso custe retrocessos e prejuízos
imensos à nação.
Por isso, ser maioria não lhes
basta. Ser oposição consciente e responsável, também, não. A prova cabal disso
é a sórdida movimentação da Comissão Mista que analisa a Medida Provisória que propôs
a reestruturação ministerial e tem prazo exíguo para ser votada pelo Congresso 1. Depois de inúmeras tentativas de tensão,
criadas por diferentes segmentos alinhados à direita e seus matizes mais
radicais e extremistas, no campo econômico, agora, é a vez do Congresso atingir
outro ponto importante da plataforma do governo: o Meio Ambiente e a
Sustentabilidade.
Queiram ou não admitir, Meio
Ambiente e Sustentabilidade é o que dita a vanguarda política contemporânea. De
modo que, estamos falando do carro-chefe das discussões diplomáticas e de
comércio exterior tecidas, até o momento, pelo governo federal. Razão pela qual
o Brasil tem encontrado não só o tapete vermelho estendido para as suas autoridades,
mundo afora; mas, já tem conseguido resgatar o apoio e os recursos de bilhões de
dólares para alavancar os projetos no setor. No entanto, a direita e seus
matizes mais radicais e extremistas estão indóceis com as boas novas e decidiram
tentar esvaziar a pasta de Meio Ambiente a fim de que o país fracasse nos seus
objetivos.
Se por um lado a notícia parece
totalmente desconectada da realidade, por outro ela faz a gentileza de deixar cravadas
as digitais da mais completa irresponsabilidade político-partidária que essas
pessoas dedicam ao país, ao se esquecerem da sua limitação técnica e científica
para deliberar com a profundidade necessária, como é o caso. Em locais onde o
imediatismo e a superficialidade emergem de uma corrupção ideológica para se
firmar, as consequências e desdobramentos negativos são imediatos.
É preciso entender que, por
excelência, o Meio Ambiente e a Sustentabilidade refletem uma lógica de
processos e de sistemas que não podem ser dissociados sob pena de não
produzirem os efeitos esperados e, nem sequer, serem outorgados a quem não
dispõe de habilidades e competências suficientes para extrair-lhes o seu
essencial. Nesse sentido, tudo foi devidamente pensado e planejado pelo atual
governo, quando emitiu a Medida Provisória estruturando os Ministérios,
incluindo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
No entanto, a direita e seus
matizes mais radicais e extremistas acredita que pode esfregar na cara da
sociedade brasileira e internacional todo o seu odioso ranço colonial em
relação ao progresso, ao desenvolvimento, a preservação e a sustentabilidade
socioambiental. Que podem reafirmar, por conta própria, o seu pacto com o que
há de mais atrasado em termos de discussão sobre políticas ambientais,
esquecendo-se de que a resposta dos mercados internacionais será diretamente
proporcional ao que de pior se verificar no distanciamento das propostas
apresentadas até aqui.
Essa história de fazer discursos
de palanque para agradar seus asseclas, retidos em um tempo e um espaço que não
coadunam com a realidade de valores, crenças e princípios contemporâneos, é
constrangedor. O tempo de defesa das práxis do colonialismo de exploração
radical, da dizimação étnica de povos originários, do uso e ocupação indevida
do solo, não cabe mais nas relações diplomáticas e comerciais. O mundo que
enfrenta eventos extremos do clima, deslocamentos populacionais forçados,
epidemias, empobrecimento, conflitos e guerras, dispõe de uma outra percepção sobre
o Meio Ambiente e a Sustentabilidade, o que significa uma natureza dialógica e
prática muito mais técnica, científica e pragmática.
Assim, Senhoras e Senhores
legisladores, por favor, não envergonhem o país com suas ideias estapafúrdias! Em
setembro de 2022, eu já alertava para a possibilidade desse “[...] recrudescimento dos seus posicionamentos, tendo em vista
os riscos iminentes que se configuram diante de seus olhos [...]. As atitudes
deixariam de se concretizar pelo automatismo do seu modus operandi tradicional,
para se transformarem em instrumentos de retaliação, de desforro. Como se a
ruína pudesse de fato representar um obstáculo intransponível para a
reconstrução e a reafirmação de novas crenças, valores e convicções,
tornando-se uma garantia ao seu retorno triunfante daqui a algum tempo. Mas, a
vida não é simples! E as conjunturas não se escrevem pela força de quereres e
vontades alheios” 2.
Não subestimem a capacidade cognitiva e intelectual dos brasileiros e dos estrangeiros, quanto a leitura das linhas e das entrelinhas das notícias que Vossas Senhorias ajudam a criar diariamente. Bons leitores sempre sabem separar o joio do trigo em relação às responsabilidades e às irresponsabilidades que cada ator ou agente político apresenta no cenário das circunstâncias. Sem contar que a própria história se incumbe de apontar o dedo para os vilões, esvaziando eventuais expectativas para novos mandatos. Portanto, pensem! Reflitam! Porque a Lei do Retorno 3 ainda vigora no mundo e não precisa ser votada por quem quer que seja!
1 https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/05/24/comissao-aprova-mp-que-reestrutura-ministerios-demarcacao-de-terras-sai-dos-povos-indigenas-e-vai-para-o-ministerio-da-justica.ghtml