sábado, 22 de abril de 2023

Dia da Terra


Dia da Terra

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Sim, o planeta Terra é uma pequena esfera que rodopia na imensidão azul do universo! Mas, isso não responde tudo. Para trazer uma consciência e uma relação mais intensa e direta com ele, ultrapassando as fronteiras da informação meramente geográfica, é preciso olhá-lo e percebê-lo como o espaço limitado de convivência e coexistência de 8 bilhões de seres humanos. Aí sim, a perspectiva vital ganha formas e contornos que nos permitem discuti-lo com a devida profundidade.

Ora, para falar das aventuras e desventuras do planeta é impossível dissociar a presença e a participação humana; sobretudo, no que diz respeito ao seu papel no processo de Antropização, que nada mais é do que o uso indevido do meio ambiente pelos indivíduos.

É com base nessa perspectiva que se torna possível colocar em seu devido lugar cada aspecto da realidade atual e desconstruir certos princípios, crenças e valores que teimam não só, em isentar a raça humana de suas responsabilidades; mas, de eventualmente culpabilizar a própria natureza por certos acontecimentos.

Portanto, todas as discussões na seara do desmatamento, das mudanças climáticas, da poluição, do uso e ocupação indevido do solo, da geração de resíduos, da superpopulação, da extinção de espécies e da modificação genética para diferentes fins, ... têm na humanidade o seu verdadeiro protagonista.

O planeta, no fundo, é só o grande cenário onde as intervenções e transformações socioambientais tem ocorrido ao longo do tempo. De modo que, muito pouco, ele pode fazer, autonomamente, no sentido de conter ou de impedir excessos e abusos.

Se o planeta está à deriva das circunstâncias, então, não é porque ele está solto no universo. É porque ele foi submetido a uma condição de se ajustar e caber aos interesses e necessidades humanas, os quais parecem não ter fim.

Com base nesse entendimento é que a Assembleia Geral das Nações Unidas determinou, em 21 de dezembro de 2009, a declaração que estabelece o Dia Internacional da Mãe Terra ou, simplesmente, Dia da Terra1. A criação da referida data, então, foi um marco importante para uma posterior reafirmação dessa discussão através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015.

Sim, porque os ODS visam promover “um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade” 2. De modo que uma mudança dessa envergadura nas práxis humanas representa sim, uma possibilidade real de garantir a estabilidade do próprio planeta.

Aliás, é importante ressaltar que essas iniciativas não se basearam apenas nas repercussões e desdobramentos nefastos, ocorridos nos últimos séculos; mas, de todo um esforço coletivo da Ciência em torno de construir arcabouços de conhecimento suficientemente capazes de sustentar o planejamento de estratégias exequíveis e eficazes.

Afinal, essa não é uma discussão que permite abrir espaços para achismos e casuísmos. Dada a sua complexidade é imperioso tratá-la com responsabilidade, competência técnica e uma habilidade dialógica repleta de bom senso e equilíbrio. Mas, também, pelo fato da diversidade e da pluralidade socioambiental disseminada pelo planeta.

No entanto, isso não significa deixá-la a cargo dos experts no assunto, ou das autoridades competentes, ou das entidades e organismos governamentais e não-governamentais do setor. Como ela diz respeito ao ser humano é fundamental que ela envolva toda a sociedade, sem distinção de qualquer natureza; pois, não basta transformar o pensamento de apenas alguns.

É essencial que cada indivíduo exerça particularmente a sua análise e reflexão sobre a sua própria participação na dinâmica do planeta, ponderando direitos, deveres, responsabilidades e atitudes, no sentido de descobrir o grau da sua interferência nos ganhos e prejuízos socioambientais.

O Dia da Terra é, portanto, mais do que um dia de reflexão. É um dia de ruptura com as banalizações, as normalizações, as trivializações ideológico-comportamentais que têm como caráter básico aplacar a consciência humana e minimizar os impactos da sua interferência no planeta.

É um dia para se restabelecer uma nova ordem em relação ao tempo utilizado, o dinheiro gasto, os ideais de consumo, às escalas de prioridade cotidiana, às interações socioambientais, o nível de conhecimento, enfim. É um dia para exercer efetivamente a humanidade, em seu sentido mais amplo e profundo.

Talvez, a síntese desse dia esteja, então, na sugestão proposta pelas palavras de São Tomás de Aquino, ou seja, “Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir...”.

Porque das entrelinhas dessa reflexão emerge a verdade inconteste de que “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é negá-la” (São Tomás de Aquino), ou seja, revela exatamente de que lado o indivíduo se posiciona na vida, em como ele vê, entende e sente o planeta que habita temporariamente.