Dia
da Terra
Por
Alessandra Leles Rocha
Sim, o planeta Terra é uma
pequena esfera que rodopia na imensidão azul do universo! Mas, isso não
responde tudo. Para trazer uma consciência e uma relação mais intensa e direta
com ele, ultrapassando as fronteiras da informação meramente geográfica, é
preciso olhá-lo e percebê-lo como o espaço limitado de convivência e coexistência
de 8 bilhões de seres humanos. Aí sim, a perspectiva vital ganha formas e
contornos que nos permitem discuti-lo com a devida profundidade.
Ora, para falar das aventuras e
desventuras do planeta é impossível dissociar a presença e a participação humana;
sobretudo, no que diz respeito ao seu papel no processo de Antropização, que
nada mais é do que o uso indevido do meio ambiente pelos indivíduos.
É com base nessa perspectiva que
se torna possível colocar em seu devido lugar cada aspecto da realidade atual e
desconstruir certos princípios, crenças e valores que teimam não só, em isentar
a raça humana de suas responsabilidades; mas, de eventualmente culpabilizar a própria
natureza por certos acontecimentos.
Portanto, todas as discussões na
seara do desmatamento, das mudanças climáticas, da poluição, do uso e ocupação
indevido do solo, da geração de resíduos, da superpopulação, da extinção de espécies
e da modificação genética para diferentes fins, ... têm na humanidade o seu verdadeiro
protagonista.
O planeta, no fundo, é só o
grande cenário onde as intervenções e transformações socioambientais tem
ocorrido ao longo do tempo. De modo que, muito pouco, ele pode fazer, autonomamente,
no sentido de conter ou de impedir excessos e abusos.
Se o planeta está à deriva das
circunstâncias, então, não é porque ele está solto no universo. É porque ele
foi submetido a uma condição de se ajustar e caber aos interesses e
necessidades humanas, os quais parecem não ter fim.
Com base nesse entendimento é que
a Assembleia Geral das Nações Unidas determinou, em 21 de dezembro de 2009, a declaração
que estabelece o Dia Internacional da Mãe Terra ou, simplesmente, Dia da Terra1. A criação da referida data, então, foi
um marco importante para uma posterior reafirmação dessa discussão através dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização
das Nações Unidas (ONU), em 2015.
Sim, porque os ODS visam promover
“um apelo global à ação para acabar com a
pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que pessoas, em todos os
lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade” 2.
De modo que uma mudança dessa envergadura nas práxis humanas representa sim, uma
possibilidade real de garantir a estabilidade do próprio planeta.
Aliás, é importante ressaltar que
essas iniciativas não se basearam apenas nas repercussões e desdobramentos
nefastos, ocorridos nos últimos séculos; mas, de todo um esforço coletivo da
Ciência em torno de construir arcabouços de conhecimento suficientemente
capazes de sustentar o planejamento de estratégias exequíveis e eficazes.
Afinal, essa não é uma discussão
que permite abrir espaços para achismos e casuísmos. Dada a sua complexidade é
imperioso tratá-la com responsabilidade, competência técnica e uma habilidade dialógica
repleta de bom senso e equilíbrio. Mas, também, pelo fato da diversidade e da
pluralidade socioambiental disseminada pelo planeta.
No entanto, isso não significa deixá-la
a cargo dos experts no assunto, ou das
autoridades competentes, ou das entidades e organismos governamentais e
não-governamentais do setor. Como ela diz respeito ao ser humano é fundamental
que ela envolva toda a sociedade, sem distinção de qualquer natureza; pois, não
basta transformar o pensamento de apenas alguns.
É essencial que cada indivíduo
exerça particularmente a sua análise e reflexão sobre a sua própria participação
na dinâmica do planeta, ponderando direitos, deveres, responsabilidades e
atitudes, no sentido de descobrir o grau da sua interferência nos ganhos e prejuízos
socioambientais.
O Dia da Terra é, portanto, mais
do que um dia de reflexão. É um dia de ruptura com as banalizações, as
normalizações, as trivializações ideológico-comportamentais que têm como caráter
básico aplacar a consciência humana e minimizar os impactos da sua interferência
no planeta.
É um dia para se restabelecer uma
nova ordem em relação ao tempo utilizado, o dinheiro gasto, os ideais de
consumo, às escalas de prioridade cotidiana, às interações socioambientais, o nível
de conhecimento, enfim. É um dia para exercer efetivamente a humanidade, em seu
sentido mais amplo e profundo.
Talvez, a síntese desse dia esteja,
então, na sugestão proposta pelas palavras de São Tomás de Aquino, ou seja, “Dê-me, Senhor, agudeza para entender,
capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para
interpretar, graça e abundância para falar, acerto ao começar, direção ao
progredir e perfeição ao concluir...”.
Porque das entrelinhas dessa reflexão
emerge a verdade inconteste de que “Não
se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é negá-la” (São Tomás
de Aquino), ou seja, revela exatamente de que lado o indivíduo se posiciona na
vida, em como ele vê, entende e sente o planeta que habita temporariamente.