Quem
se preocupa com o Brasil?
Por
Alessandra Leles Rocha
Se alguém tinha dúvidas a
respeito, os últimos quatro anos de governo sob a batuta da direita e seus
matizes veio para esclarecer definitivamente o assunto. O Brasil do século XXI
é tão controlado e manipulado pelas oligarquias aristocráticas, quanto no
século XIX. A fúria com que avançam para não perderem suas regalias e privilégios
é mesmo assustadora!
Mas, a reflexão não para por aí,
no óbvio. Se o curso da história caminha dessa maneira, então, quem se preocupa
com o Brasil? Sim, porque ensimesmados nos seus próprios interesses, sendo eles
o topo da pirâmide social e detentores, desde sempre, dos poderes e dos
controles, corre-se um risco imenso.
Essa é, portanto, a pergunta que
não quer calar; sobretudo, depois que o “Comitê
de Política Monetária decidiu nesta quarta-feira (22) manter a Selic em 13,75%
ao ano” 1 e sinalizou que pode,
inclusive, aumentá-la mais adiante. Afinal, de que adianta estranheza ou
indignação no campo popular, se a grande massa da população nada pode fazer
nesse sentido. Aliás, nem sequer grandes economistas e pesquisadores renomados da
área.
Haja vista as considerações do norte-americano
Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, em 2001, que participou
do seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o século XXI”,
na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, “o Brasil vem sobrevivendo a uma ‘pena de morte’
ao se referir à alta taxa de juros no país, que classificou como ‘chocante’” 2.
Colocando as cartas na mesa, o
que se tem bem diante dos olhos, então, não é uma mera divergência entre
correntes de pensadores no assunto; mas, uma queda de braços ideologicamente
política. O atual Presidente do Banco Central brasileiro figura como um legítimo
representante dos interesses da oligarquia banqueira, cuja filosofia é
simpatizante à direita e seus matizes mais ou menos radicais.
Tanto que não surpreende o fato
de a escalada da taxa de juros no país ter se dado a partir de 2021, com seu
ápice em 2022, em pleno ano eleitoral. Afinal, considerando que boa parte dessa
oligarquia contribuiu para uma eventual reeleição do ex-governo, a ideia de
criar uma tensão no mercado é algo bastante factível.
Primeiro, porque caso houvesse um
cenário desfavorável, isso estimularia um temor de piora entre os diversos
segmentos econômicos no país, no caso de uma eventual mudança nos rumos da
política econômica, em razão de um novo governo. Segundo, porque no caso de
derrota do governo que estava vigente, sendo o Presidente do Banco Central
brasileiro um simpatizante e aliado, além de munido de autonomia por força de
lei, ele teria mecanismos em mãos para manter os interesses dessa oligarquia em
detrimento do próprio país. De modo que estaria satisfazendo, também, aos
interesses políticos da direita e seus matizes, no sentido de obstaculizar a
governabilidade da chapa eleita.
Vejam, como tudo cai por terra no
discurso do COPOM, quando se olha que mesmo com juros estratosféricos, com base
no recorte temporal citado, o monstro da inflação não esmoreceu e nem sumiu. A
desaceleração econômica continua arrastando suas correntes e o estímulo para o
consumo é cada vez mais tímido, inclusive, pelo fato da redução da remuneração
no país. Sim, nos últimos anos houve não só o desemprego clássico; mas, também,
uma avalanche de precarização trabalhista que impactou a renda do trabalhador
significativamente.
O que, em linhas gerais, lê-se que
o plano traçado não funcionou. Ao manter resistentemente uma taxa de juros elevadíssima
para conter uma inflação que permanece a desconsiderar por completo a estratégia,
o cenário não sinaliza melhoras. Enquanto isso, o país não deslancha no seu
realinhamento aos propósitos de desenvolvimento e progresso tão esperados e
necessários.
De modo que a economia, no Brasil,
nunca foi tão enviesada para atender aos interesses de uma ínfima minoria, como
agora. Para essa classe de pessoas não importa o país. Seus bens e riquezas
estão muito bem guardados em offshores
(paraísos fiscais), longe daqui. Se não há desenvolvimento, se não há
progresso, se não há consumo, se não há emprego, ... isso não retira o sono
desses indivíduos, porque seus olhos e interesses estão focados na roda da
fortuna e não, em que como ela é produzida.
Para eles, tanto fez como tanto
faz, se o governo em curso se comprometeu com uma série de políticas públicas
pautadas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 da Organização das Nações Unidas (ONU),
as quais o país é signatário. O que longe de quaisquer acasos ou coincidências,
já é sabido que um “Estudo apresentado na
Câmara dos Deputados indica retrocesso em mais da metade das metas” 4.
Ora, o que lhes causa calafrios,
talvez, seja a instabilidade e o imponderável que pairam no cenário
internacional, como a recente crise em bancos dos EUA e da Suíça, cuja a
reverberação pode eventualmente repercutir sobre os seus próprios interesses. Portanto,
seus olhos estão voltados para fora e não para dentro, como deveria ser. Razão pela
qual, eles estão jogando pesado, tentando subjugar o governo aos seus humores e
vontades. Na verdade, a queda de braços estabelecida, não diz respeito a esse
ou aquele indivíduo; mas, qual ideologia político-partidária irá se sagrar
vencedora.