quinta-feira, 23 de março de 2023

Quem se preocupa com o Brasil?


Quem se preocupa com o Brasil?

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Se alguém tinha dúvidas a respeito, os últimos quatro anos de governo sob a batuta da direita e seus matizes veio para esclarecer definitivamente o assunto. O Brasil do século XXI é tão controlado e manipulado pelas oligarquias aristocráticas, quanto no século XIX. A fúria com que avançam para não perderem suas regalias e privilégios é mesmo assustadora!

Mas, a reflexão não para por aí, no óbvio. Se o curso da história caminha dessa maneira, então, quem se preocupa com o Brasil? Sim, porque ensimesmados nos seus próprios interesses, sendo eles o topo da pirâmide social e detentores, desde sempre, dos poderes e dos controles, corre-se um risco imenso.

Essa é, portanto, a pergunta que não quer calar; sobretudo, depois que o “Comitê de Política Monetária decidiu nesta quarta-feira (22) manter a Selic em 13,75% ao ano” 1 e sinalizou que pode, inclusive, aumentá-la mais adiante. Afinal, de que adianta estranheza ou indignação no campo popular, se a grande massa da população nada pode fazer nesse sentido. Aliás, nem sequer grandes economistas e pesquisadores renomados da área.

Haja vista as considerações do norte-americano Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, em 2001, que participou do seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o século XXI”, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, “o  Brasil vem sobrevivendo a uma ‘pena de morte’ ao se referir à alta taxa de juros no país, que classificou como ‘chocante’” 2.

Colocando as cartas na mesa, o que se tem bem diante dos olhos, então, não é uma mera divergência entre correntes de pensadores no assunto; mas, uma queda de braços ideologicamente política. O atual Presidente do Banco Central brasileiro figura como um legítimo representante dos interesses da oligarquia banqueira, cuja filosofia é simpatizante à direita e seus matizes mais ou menos radicais.

Tanto que não surpreende o fato de a escalada da taxa de juros no país ter se dado a partir de 2021, com seu ápice em 2022, em pleno ano eleitoral. Afinal, considerando que boa parte dessa oligarquia contribuiu para uma eventual reeleição do ex-governo, a ideia de criar uma tensão no mercado é algo bastante factível.

Primeiro, porque caso houvesse um cenário desfavorável, isso estimularia um temor de piora entre os diversos segmentos econômicos no país, no caso de uma eventual mudança nos rumos da política econômica, em razão de um novo governo. Segundo, porque no caso de derrota do governo que estava vigente, sendo o Presidente do Banco Central brasileiro um simpatizante e aliado, além de munido de autonomia por força de lei, ele teria mecanismos em mãos para manter os interesses dessa oligarquia em detrimento do próprio país. De modo que estaria satisfazendo, também, aos interesses políticos da direita e seus matizes, no sentido de obstaculizar a governabilidade da chapa eleita.

Vejam, como tudo cai por terra no discurso do COPOM, quando se olha que mesmo com juros estratosféricos, com base no recorte temporal citado, o monstro da inflação não esmoreceu e nem sumiu. A desaceleração econômica continua arrastando suas correntes e o estímulo para o consumo é cada vez mais tímido, inclusive, pelo fato da redução da remuneração no país. Sim, nos últimos anos houve não só o desemprego clássico; mas, também, uma avalanche de precarização trabalhista que impactou a renda do trabalhador significativamente.

O que, em linhas gerais, lê-se que o plano traçado não funcionou. Ao manter resistentemente uma taxa de juros elevadíssima para conter uma inflação que permanece a desconsiderar por completo a estratégia, o cenário não sinaliza melhoras. Enquanto isso, o país não deslancha no seu realinhamento aos propósitos de desenvolvimento e progresso tão esperados e necessários.

De modo que a economia, no Brasil, nunca foi tão enviesada para atender aos interesses de uma ínfima minoria, como agora. Para essa classe de pessoas não importa o país. Seus bens e riquezas estão muito bem guardados em offshores (paraísos fiscais), longe daqui. Se não há desenvolvimento, se não há progresso, se não há consumo, se não há emprego, ... isso não retira o sono desses indivíduos, porque seus olhos e interesses estão focados na roda da fortuna e não, em que como ela é produzida.

Para eles, tanto fez como tanto faz, se o governo em curso se comprometeu com uma série de políticas públicas pautadas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 da Organização das Nações Unidas (ONU), as quais o país é signatário. O que longe de quaisquer acasos ou coincidências, já é sabido que um “Estudo apresentado na Câmara dos Deputados indica retrocesso em mais da metade das metas” 4.

Ora, o que lhes causa calafrios, talvez, seja a instabilidade e o imponderável que pairam no cenário internacional, como a recente crise em bancos dos EUA e da Suíça, cuja a reverberação pode eventualmente repercutir sobre os seus próprios interesses. Portanto, seus olhos estão voltados para fora e não para dentro, como deveria ser. Razão pela qual, eles estão jogando pesado, tentando subjugar o governo aos seus humores e vontades. Na verdade, a queda de braços estabelecida, não diz respeito a esse ou aquele indivíduo; mas, qual ideologia político-partidária irá se sagrar vencedora.