terça-feira, 21 de março de 2023

A felicidade do e no mundo


A felicidade do e no mundo

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Dizia Tom Jobim, “[...]É impossível ser feliz sozinho [...]” 1. Verdade. Por mais particular que seja a percepção da felicidade, não há como negar a influência coletiva nesse processo. O que explica porque a Organização das Nações Unidas (ONU), a partir de 2012, instituiu o dia 20 de março, como um marco de reflexão e consciência sobre a importância de um mundo sem tensões, sem conflitos, dentro de padrões de convivência e coexistência equilibrados. O que significa partir da análise crítica sobre todas as formas de desigualdade que atravessam o cotidiano dos seres humanos.

Pois é, a felicidade não diz respeito apenas a um largo sorriso no rosto e uma euforia positiva estampados ininterruptamente. Ela é, na verdade, uma questão de governo que perpassa pela educação e cultura, pela saúde, pelo trabalho, pelo lazer, pela segurança, pela previdência social, pela proteção materno-infantil, pela assistência aos desamparados. Em síntese, a felicidade é a tradução da dignidade humana, na medida em que ela só existe quando todas as necessidades vitais do indivíduo estão garantidas.

O que explica o porquê de no ”Ranking anual da ONU que define os países mais felizes do mundo – o Brasil desabar de 38º para 49º colocado” 2. Infelizmente, há uma visível subversão na lógica social. Seres humanos têm sido cada vez menos protagonistas, cada vez menos prioridade, no mundo. Ressalvadas exceções, é claro 3.  E para tornar acessível essa análise, são considerados alguns indicadores, dentre eles estão o PIB per capita, expectativa de vida saudável, apoio social, generosidade, liberdade e percepção de corrupção.

Uma aferição nada revolucionária, como muitos possam pensar. Apenas se decidiu apropriar da ideia colocada em prática no Butão, país localizado no Himalaia, desde a década de 70, quando ao invés de medir apenas a sua riqueza material por meio do PIB, ele decidiu estabelecer um novo indicador, ou seja, a Felicidade Interna Bruta (FIB) de seus cidadãos.

De modo que, enquanto o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), por exemplo, avalia o bem-estar da população de um país sob a perspectiva da renda, da escolarização e da expectativa de vida, o FIB auxilia na avaliação do grau de desenvolvimento, ou seja, o bem-estar psicológico, a saúde, o uso do tempo, a vitalidade comunitária, a educação, a cultura, o Meio Ambiente, a governança e o padrão de vida das pessoas. O que significa estabelecer uma ruptura com o velho paradigma de que riqueza material é sinônimo de felicidade; pois, o FIB não mede apenas os aspectos quantitativos; mas, os qualitativos da população.

Por isso, a felicidade não se compra. Ela é um processo, nunca está acabada. Exige esforço, sacrifício, desapego, consciência, sentimento e reflexão, consumindo energia e tempo. Parafraseando Eduardo Galeano, a felicidade está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a felicidade? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Desse modo, acabar com a pobreza, reduzir as desigualdades e proteger o planeta, como defende os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 das Nações Unidas, é fundamental para tornar possível esse ideário de felicidade. Não há como ser feliz sem superar os desafios que operam à luz do ponderável e do imponderável no mundo; pois, como escreveu Érico Veríssimo, “Felicidade é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente”.