A
felicidade do e no mundo
Por
Alessandra Leles Rocha
Dizia Tom Jobim, “[...]É impossível ser feliz sozinho [...]”
1. Verdade. Por mais particular que seja
a percepção da felicidade, não há como negar a influência coletiva nesse
processo. O que explica porque a Organização das Nações Unidas (ONU), a partir
de 2012, instituiu o dia 20 de março, como um marco de reflexão e consciência sobre
a importância de um mundo sem tensões, sem conflitos, dentro de padrões de convivência
e coexistência equilibrados. O que significa partir da análise crítica sobre
todas as formas de desigualdade que atravessam o cotidiano dos seres humanos.
Pois é, a felicidade não diz
respeito apenas a um largo sorriso no rosto e uma euforia positiva estampados
ininterruptamente. Ela é, na verdade, uma questão de governo que perpassa pela
educação e cultura, pela saúde, pelo trabalho, pelo lazer, pela segurança, pela
previdência social, pela proteção materno-infantil, pela assistência aos
desamparados. Em síntese, a felicidade é a tradução da dignidade humana, na
medida em que ela só existe quando todas as necessidades vitais do indivíduo
estão garantidas.
O que explica o porquê de no ”Ranking anual da ONU que define os países
mais felizes do mundo – o Brasil desabar de 38º para 49º colocado” 2. Infelizmente, há uma visível subversão
na lógica social. Seres humanos têm sido cada vez menos protagonistas, cada vez
menos prioridade, no mundo. Ressalvadas exceções, é claro 3.
E para tornar acessível essa análise,
são considerados alguns indicadores, dentre eles estão o PIB per capita,
expectativa de vida saudável, apoio social, generosidade, liberdade e percepção
de corrupção.
Uma aferição nada revolucionária,
como muitos possam pensar. Apenas se decidiu apropriar da ideia colocada em
prática no Butão, país localizado no Himalaia, desde a década de 70, quando ao
invés de medir apenas a sua riqueza material por meio do PIB, ele decidiu estabelecer
um novo indicador, ou seja, a Felicidade Interna Bruta (FIB) de seus cidadãos.
De modo que, enquanto o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), por exemplo, avalia o bem-estar da população de
um país sob a perspectiva da renda, da escolarização e da expectativa de vida,
o FIB auxilia na avaliação do grau de desenvolvimento, ou seja, o bem-estar
psicológico, a saúde, o uso do tempo, a vitalidade comunitária, a educação, a
cultura, o Meio Ambiente, a governança e o padrão de vida das pessoas. O que
significa estabelecer uma ruptura com o velho paradigma de que riqueza material
é sinônimo de felicidade; pois, o FIB não mede apenas os aspectos
quantitativos; mas, os qualitativos da população.
Por isso, a felicidade não se
compra. Ela é um processo, nunca está acabada. Exige esforço, sacrifício,
desapego, consciência, sentimento e reflexão, consumindo energia e tempo. Parafraseando
Eduardo Galeano, a felicidade está lá no
horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais
alcançarei. Para que serve a felicidade? Serve para isso: para que eu não deixe
de caminhar.
Desse modo, acabar com a pobreza,
reduzir as desigualdades e proteger o planeta, como defende os 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 das
Nações Unidas, é fundamental para tornar possível esse ideário de felicidade.
Não há como ser feliz sem superar os desafios que operam à luz do ponderável e
do imponderável no mundo; pois, como escreveu Érico Veríssimo, “Felicidade é a certeza de que nossa vida
não está se passando inutilmente”.
1 Wave (Tom
Jobim) - https://www.letras.mus.br/tom-jobim/49074/
2 https://www.terra.com.br/byte/ciencia/dia-internacional-da-felicidade-brasil-desaba-no-ranking-mundial,725ff305f01a98b40fa5eca88f5bf547t6ac3uj8.html