Por
Alessandra Leles Rocha
Depois da onda de atos
antidemocráticos que ainda reverbera através das investigações e prisões, no
país, é impossível não pairar sobre nossas cabeças nenhum tipo de desconfiança,
quando as tensões começam a acirrar.
Que a questão da criminalidade
tem seus vieses e contornos muito bem definidos pelo embasamento científico construído
por inúmeras pesquisas a respeito, é fato. No entanto, considerando o quadro
atual do país, me parece um tanto quanto ingênuo olhar para essas explosões
repentinas da violência, no estado do Rio Grande do Norte, e não as dissecar
além de si mesmas.
Afinal, estamos falando de uma
afrontosa manifestação de força, quase um verdadeiro cabo de guerra, que busca
provar, pelo menos em tese, qual lado terá mais capacidade para resistir e
vencer. Acontece que o pano de fundo desse cenário diz respeito diretamente à manutenção
da paz e da ordem pública, de modo que em algum momento haverá o
recrudescimento das ações do Estado brasileiro para restabelecer esses
princípios.
Nesse sentido, quanto mais evidente
estiver estirada a barbárie, mais possibilidades de participação das forças
militares passa a existir. Então, com base nos recentes acontecimentos do 8 de
janeiro, na capital federal, em que uma turba de criminosos depredou e
vandalizou os prédios dos Poderes da República, no intuito de instigar à
presença das forças militares e forçá-las a uma apropriação do poder
governamental do país, talvez, estejam buscando o mesmo as facções criminosas.
Desestabilizar a paz e a ordem a
fim de que se torne iminente a necessidade da presença das forças militares
para assumirem o controle da situação é uma estratégia. Os criminosos sabem
muito bem que não há precedente histórico de condescendência da sociedade
brasileira, principalmente da elite dominante, em relação a atos de violência,
como os que estão sendo praticados no Rio Grande do Norte. A resposta do Estado
brasileiro é sempre incisiva, firme, punitiva.
Portanto, é estranho que busquem intensificar
a gravidade de suas ações, sabendo que a resposta virá diretamente na mesma
proporção e, certamente, sob um coletivo de forças militares treinadas e
belicamente bem paramentadas. Quem garante, então, que essas facções não tenham
sido persuadidas por promessas de terceiros a cumprir o papel de pretexto para
o protagonismo das forças militares em uma situação de crise?
Que impulsos estranhos à ordem e
ao progresso vêm trabalhando firmemente para comprometer a estabilidade do
atual governo, é notório. Haja vista a quantidade de Fake News que continuam
sendo despejadas diariamente na internet, dentro de espaços de comunicação e
informação 1. Em uma tentativa de
fazer contraponto aos escândalos, os quais vêm emergindo a partir das investigações
em relação ao ex-governo 2, a turba
continua firme e forte tecendo suas fantasiosas e criminosas narrativas, por
aí.
O que significa que eles não
medem esforços para fomentar estopins de tensão social. Na cabeça deles vale
tudo! 12 de dezembro de 2022 e 08 de janeiro de 2023 deixaram isso muito claro.
Do mesmo modo que não havia apenas pessoas da ultradireita nos atos
antidemocráticos, ou seja, havia diferentes matizes da direita nacional
presentes; não havia apenas o estrato abastado e bem-sucedido do país, porque
eles precisavam se fortalecer numericamente para dar corpo às suas ações.
Então, parece oportuno e urgente
lançar um olhar sobre outras perspectivas que orbitam a crise da violência no
Rio Grande do Norte. Esse pode ser só um balão de ensaio cujos resultados podem
levá-los, ou não, a emergir novas ações em outros lugares. Trata-se de uma
ameaça importante que não pode ser negligenciada; pois, isso implicaria em uma
obstaculização real às expectativas de retomada do desenvolvimento e do
protagonismo nacional. Afinal, as tensões, as instabilidades, as inquietudes
sociais, sejam elas quais forem, afugentam investimentos, oportunidades e,
principalmente, credibilidade ao país.
1 https://grafittinews.com.br/politicos-apoiadores-de-bolsonaro-espalham-preconceitos-sobre-portaria-do-ms-que-humaniza-o-sus/
Saiba o que diz exatamente
a Portaria 230: https://brasilsus.com.br/wp-content/uploads/2023/03/portaria230.pdf