sábado, 18 de março de 2023

O Brasil e seus oportunismos de ocasião


O Brasil e seus oportunismos de ocasião

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Depois da onda de atos antidemocráticos que ainda reverbera através das investigações e prisões, no país, é impossível não pairar sobre nossas cabeças nenhum tipo de desconfiança, quando as tensões começam a acirrar.

Que a questão da criminalidade tem seus vieses e contornos muito bem definidos pelo embasamento científico construído por inúmeras pesquisas a respeito, é fato. No entanto, considerando o quadro atual do país, me parece um tanto quanto ingênuo olhar para essas explosões repentinas da violência, no estado do Rio Grande do Norte, e não as dissecar além de si mesmas.

Afinal, estamos falando de uma afrontosa manifestação de força, quase um verdadeiro cabo de guerra, que busca provar, pelo menos em tese, qual lado terá mais capacidade para resistir e vencer. Acontece que o pano de fundo desse cenário diz respeito diretamente à manutenção da paz e da ordem pública, de modo que em algum momento haverá o recrudescimento das ações do Estado brasileiro para restabelecer esses princípios.

Nesse sentido, quanto mais evidente estiver estirada a barbárie, mais possibilidades de participação das forças militares passa a existir. Então, com base nos recentes acontecimentos do 8 de janeiro, na capital federal, em que uma turba de criminosos depredou e vandalizou os prédios dos Poderes da República, no intuito de instigar à presença das forças militares e forçá-las a uma apropriação do poder governamental do país, talvez, estejam buscando o mesmo as facções criminosas.

Desestabilizar a paz e a ordem a fim de que se torne iminente a necessidade da presença das forças militares para assumirem o controle da situação é uma estratégia. Os criminosos sabem muito bem que não há precedente histórico de condescendência da sociedade brasileira, principalmente da elite dominante, em relação a atos de violência, como os que estão sendo praticados no Rio Grande do Norte. A resposta do Estado brasileiro é sempre incisiva, firme, punitiva.

Portanto, é estranho que busquem intensificar a gravidade de suas ações, sabendo que a resposta virá diretamente na mesma proporção e, certamente, sob um coletivo de forças militares treinadas e belicamente bem paramentadas. Quem garante, então, que essas facções não tenham sido persuadidas por promessas de terceiros a cumprir o papel de pretexto para o protagonismo das forças militares em uma situação de crise?

Que impulsos estranhos à ordem e ao progresso vêm trabalhando firmemente para comprometer a estabilidade do atual governo, é notório. Haja vista a quantidade de Fake News que continuam sendo despejadas diariamente na internet, dentro de espaços de comunicação e informação 1. Em uma tentativa de fazer contraponto aos escândalos, os quais vêm emergindo a partir das investigações em relação ao ex-governo 2, a turba continua firme e forte tecendo suas fantasiosas e criminosas narrativas, por aí.

O que significa que eles não medem esforços para fomentar estopins de tensão social. Na cabeça deles vale tudo! 12 de dezembro de 2022 e 08 de janeiro de 2023 deixaram isso muito claro. Do mesmo modo que não havia apenas pessoas da ultradireita nos atos antidemocráticos, ou seja, havia diferentes matizes da direita nacional presentes; não havia apenas o estrato abastado e bem-sucedido do país, porque eles precisavam se fortalecer numericamente para dar corpo às suas ações.

Então, parece oportuno e urgente lançar um olhar sobre outras perspectivas que orbitam a crise da violência no Rio Grande do Norte. Esse pode ser só um balão de ensaio cujos resultados podem levá-los, ou não, a emergir novas ações em outros lugares. Trata-se de uma ameaça importante que não pode ser negligenciada; pois, isso implicaria em uma obstaculização real às expectativas de retomada do desenvolvimento e do protagonismo nacional. Afinal, as tensões, as instabilidades, as inquietudes sociais, sejam elas quais forem, afugentam investimentos, oportunidades e, principalmente, credibilidade ao país.