domingo, 12 de fevereiro de 2023

Que lugar o agro brasileiro quer ocupar na economia contemporânea???


Que lugar o agro brasileiro quer ocupar na economia contemporânea???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

A gente percebe que o cenário do Brasil está em franco processo de evolução e de reconstrução, quando se depara com manchetes assim, “Ações de Lula irritam agronegócio, e relação do PT com o setor ainda patina”1. Não entendeu? Eu explico.

Bem, para quem ainda não se deu conta, o agronegócio brasileiro é o setor que melhor representa a direita nacional e seus matizes. Base fundamental da economia brasileira nos tempos coloniais, da casa grande e da senzala, ele permaneceu ao longo desses 500 anos de história mantendo-se atuante no seu protagonismo como importante força motriz de desenvolvimento.

Acontece que muito além do seu papel econômico, o agronegócio sempre esteve atrelado ao poder político e decisório do país. Então, mesmo se passando gerações e gerações, a Terra redonda dando suas voltas como sempre fez, a ciência e a tecnologia trazendo continuamente inovações significativas e decisivas para o aumento da produção, a elite do agronegócio insiste em permanecer estática e resistente no seu modo de pensar, de fazer, de agir.

E a razão disso, não se resume ao fato das novas conjunturas do mundo em si; mas, particularmente, no fato de não aceitarem dividir o protagonismo econômico com os setores secundário e terciário. Sobretudo, em relação à indústria. Vejam que se compararmos o Brasil contemporâneo com o Brasil colonial, continuamos meros exportadores de commodities, ou seja, matéria-prima de origem agrícola, pecuária, mineral e ambiental.

Então, enquanto o agronegócio bate recordes de produção e desponta na liderança da balança comercial brasileira, a indústria se arrasta presa as correntes de tecnologias obsoletas, de baixo investimento, de alto custo de produção, de insuficiência competitiva nos mercados internacionais. Simplesmente, porque as políticas econômicas abdicaram de pensar e de alavancar o setor industrial brasileiro, deixando o país submetido às importações, cujas transações obedecem aos interesses dos exportadores estrangeiros, o que é bastante desfavorável aos interesses nacionais.

Eis que, agora, impulsionado tanto pela reconstrução do país quanto pela modernização do setor econômico, a partir da consolidação da economia verde, o governo federal está sacudindo as poeiras do passado e trazendo o Brasil para uma nova era. Tomando como pontos de partida a política de baixo carbono, de eficiência nos recursos naturais e na inclusão social, o projeto econômico brasileiro busca se equiparar aos padrões de desenvolvimento global, consolidando o consumo consciente, a reciclagem, a reutilização de bens, o uso de energia limpa e a valoração da biodiversidade.

Daí o mimimi do agronegócio, principalmente, da sua ala mais radical e arrigada ao passado. Primeiro, porque isso vai na contramão da legitimidade, reafirmada nos últimos quatro anos, em relação ao desmatamento 2 e aos incêndios criminosos 3 que afetaram os mais importantes biomas nacionais, a liberação e utilização de agrotóxicos 4, a presença de trabalho análogo à escravidão em propriedades rurais 5.

Segundo, porque dentre as iniciativas do atual governo está a reindustrialização do país, fundamentada não só na inovação tecnológica, mas na economia verde, a fim de que se alcance o desenvolvimento econômico compatibilizado a igualdade social, a erradicação da pobreza, a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, a redução dos impactos ambientais e a escassez ecológica. Que vai possibilitar uma nova dinâmica nas tratativas das relações diplomáticas, no campo do comércio exterior.

Pois é, enquanto uns e outros do agronegócio só sabem olhar para o próprio umbigo, o Brasil atual olha para o futuro, para a economia do futuro. E precisa, porque as velhas práxis já se mostram incapazes de atender as demandas, de manter o equilíbrio da vida diante das avalanches de incertezas. O mundo está adoecido, sofrido, empobrecido, e o Brasil não foge à regra.

Dessa maneira, ou se dá oportunidade à transformação ou não encontrarão mercado para exportação, porque o mundo transita por uma nova agenda de desenvolvimento, uma agenda sustentável. Quem resistir ou se recusar a aderir ao movimento em curso ficará para trás, inevitavelmente, à beira do caminho. Haja vista, o que já acontece com o agronegócio no Rio Grande do Sul, por conta da estiagem que assola o estado 6. Portanto, não é à toa que “Decidir o que não fazer é tão importante quanto decidir o que fazer” (Steve Jobs).