Que
lugar o agro brasileiro quer ocupar na economia contemporânea???
Por
Alessandra Leles Rocha
A gente percebe que o cenário do
Brasil está em franco processo de evolução e de reconstrução, quando se depara
com manchetes assim, “Ações de Lula
irritam agronegócio, e relação do PT com o setor ainda patina”1. Não entendeu? Eu explico.
Bem, para quem ainda não se deu
conta, o agronegócio brasileiro é o setor que melhor representa a direita
nacional e seus matizes. Base fundamental da economia brasileira nos tempos
coloniais, da casa grande e da senzala, ele permaneceu ao longo desses 500 anos
de história mantendo-se atuante no seu protagonismo como importante força
motriz de desenvolvimento.
Acontece que muito além do seu
papel econômico, o agronegócio sempre esteve atrelado ao poder político e decisório
do país. Então, mesmo se passando gerações e gerações, a Terra redonda dando
suas voltas como sempre fez, a ciência e a tecnologia trazendo continuamente
inovações significativas e decisivas para o aumento da produção, a elite do
agronegócio insiste em permanecer estática e resistente no seu modo de pensar,
de fazer, de agir.
E a razão disso, não se resume ao
fato das novas conjunturas do mundo em si; mas, particularmente, no fato de não
aceitarem dividir o protagonismo econômico com os setores secundário e
terciário. Sobretudo, em relação à indústria. Vejam que se compararmos o Brasil
contemporâneo com o Brasil colonial, continuamos meros exportadores de commodities,
ou seja, matéria-prima de origem agrícola, pecuária, mineral e ambiental.
Então, enquanto o agronegócio bate
recordes de produção e desponta na liderança da balança comercial brasileira, a
indústria se arrasta presa as correntes de tecnologias obsoletas, de baixo
investimento, de alto custo de produção, de insuficiência competitiva nos
mercados internacionais. Simplesmente, porque as políticas econômicas abdicaram
de pensar e de alavancar o setor industrial brasileiro, deixando o país
submetido às importações, cujas transações obedecem aos interesses dos
exportadores estrangeiros, o que é bastante desfavorável aos interesses
nacionais.
Eis que, agora, impulsionado
tanto pela reconstrução do país quanto pela modernização do setor econômico, a
partir da consolidação da economia verde, o governo federal está sacudindo as
poeiras do passado e trazendo o Brasil para uma nova era. Tomando como pontos
de partida a política de baixo carbono, de eficiência nos recursos naturais e
na inclusão social, o projeto econômico brasileiro busca se equiparar aos
padrões de desenvolvimento global, consolidando o consumo consciente, a
reciclagem, a reutilização de bens, o uso de energia limpa e a valoração da
biodiversidade.
Daí o mimimi do agronegócio, principalmente,
da sua ala mais radical e arrigada ao passado. Primeiro, porque isso vai na
contramão da legitimidade, reafirmada nos últimos quatro anos, em relação ao
desmatamento 2 e aos incêndios criminosos
3 que afetaram os mais importantes biomas
nacionais, a liberação e utilização de agrotóxicos 4,
a presença de trabalho análogo à escravidão em propriedades rurais 5.
Segundo, porque dentre as
iniciativas do atual governo está a reindustrialização do país, fundamentada
não só na inovação tecnológica, mas na economia verde, a fim de que se alcance
o desenvolvimento econômico compatibilizado a igualdade social, a erradicação
da pobreza, a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, a redução dos
impactos ambientais e a escassez ecológica. Que vai possibilitar uma nova dinâmica
nas tratativas das relações diplomáticas, no campo do comércio exterior.
Pois é, enquanto uns e outros do agronegócio
só sabem olhar para o próprio umbigo, o Brasil atual olha para o futuro, para a
economia do futuro. E precisa, porque as velhas práxis já se mostram incapazes
de atender as demandas, de manter o equilíbrio da vida diante das avalanches de
incertezas. O mundo está adoecido, sofrido, empobrecido, e o Brasil não foge à
regra.
Dessa maneira, ou se dá
oportunidade à transformação ou não encontrarão mercado para exportação, porque
o mundo transita por uma nova agenda de desenvolvimento, uma agenda sustentável.
Quem resistir ou se recusar a aderir ao movimento em curso ficará para trás,
inevitavelmente, à beira do caminho. Haja vista, o que já acontece com o agronegócio
no Rio Grande do Sul, por conta da estiagem que assola o estado 6. Portanto, não é à toa que “Decidir o que não fazer é tão importante
quanto decidir o que fazer” (Steve Jobs).
1 https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/02/acoes-de-lula-irritam-agronegocio-e-relacao-do-pt-com-o-setor-ainda-patina.shtml
2 https://www.dw.com/pt-br/agropecu%C3%A1ria-%C3%A9-respons%C3%A1vel-por-90-do-desmatamento-ilegal-no-brasil/a-17914393
5 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/noticias-e-conteudo/trabalho/2023/janeiro/inspecao-do-trabalho-resgatou-2-575-trabalhadores-de-trabalho-analogo-ao-de-escravo-no-ano-passado