Nada
escapa aos satélites
Por
Alessandra Leles Rocha
Afinal, estamos ou não estamos no
século XXI, com sua expressão mais fantástica das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs), hein? Não, a pergunta não é sem sentido. Acontece que
diante do bater de cabeças das autoridades frente à crise Yanomami, no que diz
respeito a constituir um plano efetivo e ágil para saída dos garimpeiros
ilegais naquela região, parece ter havido um súbito esquecimento de uma
ferramenta tecnológica importantíssima e mundialmente utilizada pelas forças de
segurança, que é o sensoriamento remoto.
Para quem nunca ouviu falar a
respeito, trata-se da obtenção de imagens à distância, sobre a superfície
terrestre, a partir de sensores remotos, geralmente satélites de alta
resolução. O que significa obter a representação e a coleta de dados de um
determinado espaço geográfico sem a necessidade de um contato direto,
facilitando tanto o monitoramento quanto o disparo de ações que se façam indispensáveis.
Na verdade, nem se pode atribuir
a essa tecnologia um status tão high tech,
considerando que o sensoriamento remoto surgiu nos idos da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), através das fotografias aéreas (aerofotogrametria), cujo
objetivo era reconhecimento dos alvos a fim de qualificar o planejamento das
operações militares.
Atualmente, se dispõe de quatro
tipos de resolução: “Espacial – as
imagens de sensores remotos possuem estrutura matricial, onde seu elemento
principal é denominado pixel; Espectral – tem a ver com o número de bandas que
os sensores existentes nos satélites conseguem discretizar; Radiométrica – o
nível de cinza representa a intensidade de energia eletromagnética
(refletida/emitida) média medida pelo sensor para a área da superfície da Terra
correspondente ao tamanho do pixel; e, Temporal – corresponde ao tempo que o satélite
leva para recobrir a mesma área novamente” 1.
Considerando que a Amazônia
Legal, uma área de aproximadamente 59% do território brasileiro, a qual engloba
a totalidade de oito estados da federação (Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Maranhão (a oeste do meridiano 44°
W), constituindo 5.015.067,86 Km² 2, é
natural que uma ação de retirada convencional dos garimpeiros ilegais se torne
inócua. Pois, aqueles que são retirados primeiro retornam enquanto outros estão
sendo retirados, em um ciclo vicioso.
Mas, quando se tem a
instrumentalização contínua pelo sensoriamento remoto, essa brecha temporal
desaparece e se estabelecem condições muito mais favoráveis às ações das
equipes de fiscalização. Informações trazidas pelos satélites, dando conta da
presença irregular em uma dada região, fazem com que a central de monitoramento
acione as autoridades responsáveis para se deslocarem especificamente aquele
local. Além disso, o sensoriamento remoto permite monitorar independentemente
da luz solar, ou seja, dia e noite.
Inclusive, podendo contar, em
certos casos, com a atuação de drones para reconhecimento de áreas geográficas,
vigilância ou ações de ataque bélico em que poderia haver baixas de soldados. O
que forneceria ainda mais subsídios comprobatórios para as ações. Assim, é
possível construir um registro completo das operações e armazenar um banco de
dados de informações que auxiliarão no monitoramento de incidências e
reincidências de ações ilegais naquela determinada região.
Aí você vai dizer que o custo é
alto demais! Acontece que segurança não é custo, é investimento. E nesse caso,
específico, há muitas questões de interesse nacional envolvidas, tais como,
desmatamento de matas ciliares, turbidez e assoreamento dos rios, contaminação
por mercúrio (e outros metais pesados) nos solos, nos sedimentos, nas águas dos
rios e igarapés, adoecimento populacional grave, efeitos nocivos para a fauna e
flora regional.
Desse modo, ainda que os
investimentos sejam expressivos, vale muito a pena, porque a questão da
sustentabilidade socioambiental caminha, na contemporaneidade, atrelada a
sustentabilidade econômica de um país. Haja vista o entusiasmo global em
relação ao novo governo brasileiro motivado pelo protagonismo que o mesmo tem
dado a cadeia de assuntos ligados ao Meio Ambiente e as Mudanças Climáticas. Tanto
que os investimentos internacionais para esse setor já começam a ser retomados.
Sendo assim, agora é o momento oportuno de se olhar com atenção para as prioridades socioambientais, a fim de aplicar com suficiência e eficiência os recursos disponíveis. E a segurança na região da Amazônia Legal é mais do que uma prioridade, é uma urgência. O que significa que a questão do sensoriamento remoto da região precisa ser implementada, ampliada e melhorada, para que as bases das tratativas no campo da sustentabilidade socioambiental e econômica, no cenário diplomático internacional, possam, enfim, ter a segurança e a credibilidade necessárias para prosperar satisfatoriamente.