Todos
os caminhos levam a ...
Por
Alessandra Leles Rocha
Não sou o tipo de pessoa que
acredita em coincidências, nem tampouco, costuma ver a vida por pequenos
recortes desconectados. Daí ter sido tomada pela estranheza ao perceber que
vários integrantes do antigo governo federal brasileiro terem desembarcado na Flórida,
EUA, nos últimos meses, incluindo o próprio Ex-Presidente da República. Reduto
da direita e seus matizes, nos EUA, a escolha pela Flórida faz todo o sentido.
Acontece que olhando para os
recentes acontecimentos nefastos ocorridos no Brasil tem-se a nítida sensação
de que as tramas, por trás deles, vêm sendo urdidas por lá, um reduto
notoriamente extremista, radical e permeado de teorias conspiratórias. Assim, os ventos que sopram cá apontam para a
construção de tensões e obstáculos que tentam dificultar o fluxo natural do
atual governo, favorecendo a manifestação de narrativas desqualificantes e
prejudicais ao curso dos trabalhos.
Não é à toa a recente turbulência
diante das declarações do Presidente da República sobre a questão dos juros
elevados no país. Pois, o presidente do Banco Central (BC) tenta enviesar o
discurso para o campo da autonomia, conferida pelo Congresso à instituição, criando
uma gigantesca cortina de fumaça para encobrir certos aspectos fundamentais
nessa discussão.
A própria formação profissional
do atual presidente do BC diz muito sobre o seu alinhamento político. Sua
carreira foi majoritariamente construída no setor bancário, tanto que foi
escolhido pelo ex-ministro da Economia para a função, considerando a política
econômica de viés plenamente direitista a ser implantado naquela gestão.
Portanto, não se trata de
autonomia ou de incertezas econômicas ligadas ao atual governo, não. A questão
aqui é puramente ideológica, no sentido de que o BC expressa seu total
interesse em permanecer, pelo menos até o fim da gestão do seu atual
presidente, defendendo os objetivos da direita e de seus simpatizantes, não se
importando com o desalinhamento que isso pode provocar no campo das políticas
públicas do atual governo.
Ou já se esqueceram de que a
política econômica do governo anterior destruiu o teto de gastos de maneira
totalmente irresponsável, excedeu absurdamente em práticas perdulárias inúteis
ao desenvolvimento do país, permitiu que a inflação retornasse galopante ao
cenário favorecendo a elevação dos juros na sua tentativa de contenção? O
Brasil viveu sobre uma verdadeira gangorra de incertezas, nos últimos quatro
anos, que não tinha nada de normal e dava sinais claros da sua incapacidade de
fomentar o bem-estar econômico da sociedade.
Aliás, quem não se lembra da
polêmica sobre as offshores, em 2021,
envolvendo tanto o ex-ministro da Economia quanto o presidente do BC
brasileiro? Pois é, ter dinheiro fora do país, nos chamados paraísos fiscais,
não é crime. Desde que tudo seja declarado à Receita Federal. O que causou
estranheza e desconforto na ocasião foi, justamente, o fato de que, sendo os
dois funcionários públicos estão submetidos ao artigo 5º do Código de Conduta
da Alta Administração Federal (2000), ou seja, “funcionários do alto escalão são proibidos de manter aplicações
financeiras – no Brasil ou no exterior – que possam ser afetadas por políticas
governamentais”. Fato é que o caso foi julgado, arquivado e posto em sigilo
pela Comissão de Ética 1.
É por essas e por outras que temos
que nos lembrar de que os bancos emergiriam e se fortaleceram após a Revolução
Industrial, no século XVIII, estabelecendo a burguesia como a classe social
dominante e detentora dos meios de produção. Assim, as engrenagens sociais
funcionam segundo os interesses dessa pequena fatia do estrato populacional, a
qual não se preocupa que as demais fatias possam perder desde que ela não perca
jamais. Ora, é a burguesia quem legisla, quem controla, quem decide, quem
manda.
Daí o frisson que se iniciou
desde a campanha eleitoral, em 2022, inclusive valendo-se de Fake News, por
parte da direita e seus simpatizantes, para gerar pânico e tensão aos mercados
em relação ao candidato de oposição. Queriam, e parecem ainda querer, lhe
atribuir, a todo custo, a pecha de um doidivanas irresponsável. Sim, porque
para essas pessoas as discussões em torno de uma política econômica menos
desigual, menos selvagem, menos tendenciosa, é simplesmente inadmissível.
Vejam que, enquanto a rusga entre
o Presidente da República e o BC ganha recentemente as mídias, o presidente da
instituição deu uma palestra, no evento 2023
Milken South Florida Dialogues, dia 7 de fevereiro, que trata de inovações digitais.
Uma palestra para um público predominantemente de direita e ligado ao mercado
financeiro, defendendo com unhas e dentes os seus pontos de vista; bem como,
sinalizando a ideia do BC criar uma moeda digital 2.
Bem, divergências são sempre
oportunidades de construção, de evolução, de melhorias. Mas, para que isso
aconteça é imperioso que exista disposição em buscar por denominadores comuns.
O que temos visto é só mais um reflexo nocivo da cisão ideológica que a direita
brasileira e seus inúmeros simpatizantes impuseram ao país. Ou é do jeito deles
ou não pode ser.
Acontece que instituições,
agentes político-partidários, funcionários públicos, tem por obrigação básica
trabalhar em favor do país. E o Brasil não é só essa ou aquela fatia, como se
habituou a ver nos últimos quatro anos.
O Brasil é um todo, plural e diverso, de realidades e demandas distintas
que precisam ser atendidas satisfatoriamente; sobretudo, depois do cenário de
terra arrasada que o ex-governo deixou como legado. A impressão que se tem, é
que certas pessoas estão imbuídas em criar um isolamento econômico frente a
realidade do país, como se a Economia pudesse sobreviver dessa forma.
Portanto, todas as figuras
envolvidas no campo econômico do governo precisam sim, buscar aparar o máximo
de arestas e divergências que impeçam o país de ser reconstruído e de seguir em
frente. Imagina se, de repente, abate sobre o país uma catástrofe ambiental ou
uma nova epidemia. Será que o arraigamento ideológico da direita e seus
simpatizantes vai permanecer insistindo em conduzir a economia nacional como
tem feito até agora? Essa é uma pergunta importantíssima a se fazer, pois ela
tende a traçar um panorama bastante realista entre a vida e a morte do Brasil.