segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

É preciso mais atitude!


É preciso mais atitude!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Entendo que a transição de governo, dessa vez, não se deu da forma adequada; mas, da forma possível. Acontece que, agora, o governo eleito e empossado, é o governo. Então, não cabe aceitar a morosidade, a má vontade, a resistência ou a falta de empenho, que ainda transita, através de certos grupos, dentro da esfera governamental. Afinal, isso não foge aos olhos de nenhum cidadão minimamente observador e perspicaz.

Através de silêncios, de atitudes, de falas dissimuladas, a política do boicote, do quanto pior melhor, se acotovela para tentar se afirmar. A pergunta é: até quando? Esses comportamentos começam a macular e a comprometer o compromisso empenhado pelo atual governo em não errar. Se há quem não se sinta confortável, ou capaz, ou desimpedido de alguma forma, para fazer parte desse gigantesco trabalho de reconstrução, o que se espera é o mínimo de hombridade para declinar do papel em nome de quem possa cumpri-lo a contento.

Confesso que a situação dos Yanomamis, por exemplo, já começa a causar desgaste. Primeiro, porque a situação de abandono e crueldade com os povos originários, no Brasil, não remonta de 2023. Ela é histórica. E ao longo de décadas é sim, de conhecimento público, o acirramento da sua degradação. No entanto, paira no ar a impressão de um pisar em ovos, em relação aos garimpeiros e exploradores ilegais, que se apropriaram da região indígena e tem levado ao extermínio milhares deles.

Segundo, porque estamos falando de subnutrição no mais importante nível de seres humanos em diferentes faixas etárias. Estamos falando de acometimento grave de doenças tropicais e de doenças trazidas pela contaminação de mananciais hídricos e do solo pelo mercúrio. Estamos falando de todo tipo de violência física, psicológica, sexual e patrimonial. Estamos falando da ilegalidade no seu sentido mais bruto e aviltante, ou seja, o desrespeito das leis e das autoridades legitimamente responsáveis pelo país. E se tudo isso não for importante, não for urgente, não for grave, o que será?

Enquanto se caminha a passos lentos, comedidos, a morte assola sem distinção. O que me deixa intrigada, no sentido, de perceber que o atual governo não estava, portanto, tão bem informado a respeito do assunto, como deveria estar. Essa era uma prioridade para ser enfrentada desde o primeiro dia; pois, seres humanos estavam morrendo. Vidas ceifadas que estavam se juntando aos milhares que o país havia perdido em outros campos de desolação, como a COVID-19 e a violência urbana.

O país tinha que estar mais bem inteirado da situação, com um plano de emergência nas mãos, com os responsáveis definidos e incumbidos de suas missões. Acontece que, mais uma vez, nesse recorte temporal recente, tem-se a percepção de um excesso de diplomacia, de dialogia, de mesuras e rapapés, na hora de confrontar quem não está nem aí para o país. Como se o Estado brasileiro é que tivesse que pedir licença para os criminosos para cumprir o seu dever constitucional. Êpa! Como assim? Isso é a mais completa subversão da legalidade, do bom senso, da lógica democrática. E por quê agir assim, hein?

Daqui e dali, já não é difícil perceber a quantidade de obstáculos, sendo colocados propositalmente para se interpor ao fluxo natural, no qual deveria navegar o país. Então, não pode o governo se permitir trabalhar desacelerando o ritmo para não entrar em embate direto com essas forças. Caso contrário, ele será vencido pelo desgaste que representa o chamado arrastar de correntes. Sim, porque isso cansa, desestimula, frustra. Como diz o provérbio, “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, e o Brasil tem que ser uma corrente caudalosa de água, nesse momento, para romper os desafios e consolidar seus objetivos.  

Por isso, não raras às vezes, fico pensando onde foi parar a compreensão do que traz a bandeira nacional na sua inscrição de “ordem e progresso”, quando verifico tais comportamentos acontecendo, em pleno século XXI. As correntes que nos arrastaram para o retrocesso, para o conservadorismo retrógrado, e que agora tentam se firmar a todo custo pelas mãos da direita e seus simpatizantes, são as mesmas que promoveram a destruição generalizada que assolou o país, nesses últimos quatro anos.

E enquanto aqui, uns e outros, não aceitam a realidade dos fatos e se desvirtuam pelos caminhos desvairados da insurreição, o mundo lá fora aposta alto no Brasil, como, há tempos, não acontecia. Sinais de que acreditam que a fênix brasileira pode sim, ressurgir das cinzas e contribuir significativamente com o mundo, sob diferentes aspectos.

Daí a necessidade de o governo brasileiro assumir, de fato, o seu protagonismo, tomando as decisões que precisam ser tomadas, no tempo exato. Submeter-se ao mau humor inconformado da direita e seus simpatizantes é um erro crasso que não pode sequer ser cogitado. Como diz o provérbio português, “Se gostou, gostou; se não gostou, coma menos”. Sobretudo aqueles que são funcionários públicos, a compreensão de que estão na condição de funcionários de Estado e não de governo tem que prevalecer. E mesmo os que foram, por alguma razão, convidados a participar, precisam se valer da ética para permanecer.

Pois, na medida em que se permite emergir esse tipo de ruído no governo, abre-se a possibilidade de que os problemas ganhem vultos ainda maiores, através da mídia. Ora, muito do que chega aos ouvidos dos veículos de comunicação e informação, na contemporaneidade, são factoides. Quando inadvertidamente eles se sobrepõem aos fatos, a tendência natural é manipular a verdade em si e induzir aos erros de interpretação, favorecendo um certo tipo de opinião enviesada e pouco comprometida com a realidade.

E para um governo que tem enfrentado, desde a campanha eleitoral, uma oposição belicosa e inconsequente, a necessidade de se posicionar de maneira clara e contundente é fundamental, em todos os momentos. Não pode haver espaços entre linhas e entrelinhas. O que se pensa, o que se diz, o que se faz, tudo deve estar devidamente ajustado e coerente às circunstâncias e ao arcabouço jurídico-institucional em vigência. Porque “A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio” (Martin Luther King Jr.).