Seja
paciente!
Por
Alessandra Leles Rocha
Como diz o provérbio, “Roma não foi feita num dia”. Quem viveu
o pós-guerra, ou os tsunamis, ou quaisquer outras catástrofes, sabe bem como
esse é um processo lento e gradual, quando são necessários muita paciência,
muito planejamento, muito trabalho, para reconstruir, plantar e começar a
colher. A partir de agora, é um passo de cada vez ininterruptamente. Afinal,
montar um quebra-cabeças na dimensão do Brasil é algo desafiador.
Aliás, ninguém pode dizer que não
sabia que seria assim. O Brasil na forma de terra arrasada era de conhecimento
público e notório, para qualquer um que não se furtasse a abrir os olhos e
enxergar a realidade. Tudo era tão intenso, tão cruel, tão inadmissível, que
não ficava restrito aos olhos, doía no corpo, na alma, na dignidade cidadã.
Mas, por pior que tenham sido os
estragos e as devastações, os ventos parecem soprar favoráveis à empreitada que
se desenha no horizonte. Apesar dos pesares, parece que o mundo civilizado não
nos deu as costas. Muito pelo contrário! Mostraram-se ávidos e entusiasmados
pela retomada dialógica da diplomacia e das relações comerciais. Portanto, não
estamos mais sozinhos, isolados, a margem da história.
Sinais alvissareiros para nos
abastecer de esperança, de otimismo, de energia para seguir em frente. Pois,
como escreveu o poeta transcendentalista norte-americano, Ralph Waldo Emerson, “A glória da amizade não é só a mão
estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a
inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia
em você”.
Depois de um divisor de águas chamado
COVID-19, penso que não resta mais dúvidas de que uma transformação no modo de olhar
e compreender a dinâmica do cotidiano e das relações políticas, econômicas e
sociais aconteceu. A globalização não é só um conceito teórico, ela é um estado
real de coexistência, de conexão, por isso, o que afeta uma nação afeta todas. Daí
a necessidade da consciência de que não basta a percepção restrita sobre si
mesmo, mas é preciso ampliar essa percepção sobre o mundo.
Apesar das particularidades, das
especificidades, das individualidades, na síntese do senso comum global, os países
desfrutam de obstáculos, de mazelas, de insuficiências e de ineficiências comuns.
De modo que isso representa o ponto de agregação necessário para a busca de
soluções mais efetivas, mais concretas, mais sustentáveis para o planeta. Segundo
Henry Ford, “Reunir-se é um começo,
permanecer juntos é um progresso, e trabalhar juntos é um sucesso”.
Mas, infelizmente, com base em
tudo que o Brasil viveu nos últimos anos, “Construímos
muitos muros e poucas pontes” (Sir Isaac Newton). Portanto, é chegada a
hora de romper com esses velhos paradigmas e gerar sim, uma nova maneira de se
reposicionar em relação ao potencial protagonista no campo do desenvolvimento e
do progresso. Essa consciência nos levará a perceber e compreender que “Estar unido é uma grande coisa. Respeitar as
diferenças é ainda maior” (Bono, U2).
Afinal, não há país do futuro! Há
país do agora, do hoje! Um país que se faz diariamente, por muitas mãos, muitas
cabeças, muitas ideias. Um país que jamais estará pronto, ou perfeito, ou
completo, porque é feito de seres humanos. Como escreveu João Guimarães Rosa, “O importante e bonito do mundo é isso: que as
pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão
sempre mudando. Afinam e desafinam”.
Portanto, demos tempo ao tempo; pois, segundo Marcel Proust, “Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem”. Em breve, as conjunturas irão emitir suas primeiras análises de percurso. Aí sim, poderemos tecer impressões e comentários. Até lá, tudo é achismo, é especulação, é futurologia, e talvez, uma boa dose de maledicência oportunista. Não se esqueça de que a pressa é inimiga da perfeição!