terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Seja paciente!


Seja paciente!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Como diz o provérbio, “Roma não foi feita num dia”. Quem viveu o pós-guerra, ou os tsunamis, ou quaisquer outras catástrofes, sabe bem como esse é um processo lento e gradual, quando são necessários muita paciência, muito planejamento, muito trabalho, para reconstruir, plantar e começar a colher. A partir de agora, é um passo de cada vez ininterruptamente. Afinal, montar um quebra-cabeças na dimensão do Brasil é algo desafiador.

Aliás, ninguém pode dizer que não sabia que seria assim. O Brasil na forma de terra arrasada era de conhecimento público e notório, para qualquer um que não se furtasse a abrir os olhos e enxergar a realidade. Tudo era tão intenso, tão cruel, tão inadmissível, que não ficava restrito aos olhos, doía no corpo, na alma, na dignidade cidadã.

Mas, por pior que tenham sido os estragos e as devastações, os ventos parecem soprar favoráveis à empreitada que se desenha no horizonte. Apesar dos pesares, parece que o mundo civilizado não nos deu as costas. Muito pelo contrário! Mostraram-se ávidos e entusiasmados pela retomada dialógica da diplomacia e das relações comerciais. Portanto, não estamos mais sozinhos, isolados, a margem da história.

Sinais alvissareiros para nos abastecer de esperança, de otimismo, de energia para seguir em frente. Pois, como escreveu o poeta transcendentalista norte-americano, Ralph Waldo Emerson, “A glória da amizade não é só a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você”.

Depois de um divisor de águas chamado COVID-19, penso que não resta mais dúvidas de que uma transformação no modo de olhar e compreender a dinâmica do cotidiano e das relações políticas, econômicas e sociais aconteceu. A globalização não é só um conceito teórico, ela é um estado real de coexistência, de conexão, por isso, o que afeta uma nação afeta todas. Daí a necessidade da consciência de que não basta a percepção restrita sobre si mesmo, mas é preciso ampliar essa percepção sobre o mundo.

Apesar das particularidades, das especificidades, das individualidades, na síntese do senso comum global, os países desfrutam de obstáculos, de mazelas, de insuficiências e de ineficiências comuns. De modo que isso representa o ponto de agregação necessário para a busca de soluções mais efetivas, mais concretas, mais sustentáveis para o planeta. Segundo Henry Ford, “Reunir-se é um começo, permanecer juntos é um progresso, e trabalhar juntos é um sucesso”.

Mas, infelizmente, com base em tudo que o Brasil viveu nos últimos anos, “Construímos muitos muros e poucas pontes” (Sir Isaac Newton). Portanto, é chegada a hora de romper com esses velhos paradigmas e gerar sim, uma nova maneira de se reposicionar em relação ao potencial protagonista no campo do desenvolvimento e do progresso. Essa consciência nos levará a perceber e compreender que “Estar unido é uma grande coisa. Respeitar as diferenças é ainda maior” (Bono, U2).

Afinal, não há país do futuro! Há país do agora, do hoje! Um país que se faz diariamente, por muitas mãos, muitas cabeças, muitas ideias. Um país que jamais estará pronto, ou perfeito, ou completo, porque é feito de seres humanos. Como escreveu João Guimarães Rosa, “O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam”.

Portanto, demos tempo ao tempo; pois, segundo Marcel Proust, “Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem”. Em breve, as conjunturas irão emitir suas primeiras análises de percurso. Aí sim, poderemos tecer impressões e comentários. Até lá, tudo é achismo, é especulação, é futurologia, e talvez, uma boa dose de maledicência oportunista. Não se esqueça de que a pressa é inimiga da perfeição!