Por
onde anda (m) você (s)???
Por
Alessandra Leles Rocha
É compreensível que os olhares e
as atenções estejam voltados para aqueles diretamente ligados aos
acontecimentos antidemocráticos terríveis que se abateram sobre a capital federal,
no último dia 08, ou seja, os executores, financiadores e mentores intelectuais
da façanha criminosa.
Entretanto, considerando a
avalanche de Fake News despejada aos milhares, desde então, fui movida a pensar
a respeito sob uma análise que extrapola os limites desse recorte temporal. A gestão
federal, encerrada em 31 de dezembro de 2022, foi marcada do início ao fim pela
comunicação fraudulenta e mentirosa de diferentes assuntos de interesse público,
inclusive a pandemia, promovida pelo chamado Gabinete do Ódio.
O mesmo, não só estava localizado
no mesmo prédio da presidência da república, como era composto por pessoas
ligadas intimamente ao presidente e funcionários do governo dotados da mais
alta confiança e simpatia do mesmo. Um grupo que teve um papel fundamental na
condução ideológica ultradireitista e que fortaleceu sobremaneira o
negacionismo e o radicalismo do país.
Acontece que o fim do governo, o
qual fazia parte esses indivíduos, não representa necessariamente o fim das
suas atividades ligadas às Fake News no campo virtual, dada a uma intenção
pública do ex-presidente de se manter como liderança de oposição e com eventual
pretensão de concorrer novamente ao cargo máximo do país. Ora, foi por meio
desse instrumento de comunicação distorcida e enviesada que ele construiu a sua
popularidade, de modo que seria necessário permanecer no mesmo movimento.
Eis que, apesar de todos os fatos
de altíssima gravidade, ocorridos em Brasília/DF, houve um silêncio eloquente por
parte dessas pessoas. Como se toda aquela coesão existente, ao longo de quatro
anos, em torno do projeto político-ideológico da ultradireita, tivesse sido dissipada
subitamente. Como se o grupo tivesse sido desagregado pela força do final do
mandato presidencial e, logo, tivesse constituído novas crenças, valores e princípios,
na contramão do que afirmavam defender.
Estranho, porque eles eram tão
ativos, tão intensos, tão imaginativos, tão arraigados, e justo agora, no olho
desse furacão, não se viu quaisquer deles se manifestando, ainda que,
minimamente. Onde estarão esses indivíduos, hein? É difícil acreditar que
tenham decidido, de livre e espontânea vontade, de repente, trilhar um novo
caminho, uma nova ideologia político-partidária mais amena, mais humana, mais altruísta.
Afinal, eles eram muito radicais, muito extremistas, muito beligerantes.
De modo que é preciso atenção a
esse fato. Muita atenção. Porque o silêncio não é sinônimo de inação. Muito pelo
contrário! O mundo tecnológico tem seus meandros submundistas que buscam falar
diretamente com suas bolhas de seguidores fanáticos, mantendo a chama do seu
ideário bastante alta e viva, sem que isso chegue diretamente à superfície das
redes que estão baseadas nos parâmetros legais de cada país.
Monitorar esses movimentos
tecnológicos seria como, no passado, faziam os exércitos em relação aos sinais
de rádio, durante a guerra. Foi assim que, em pleno Nazismo, muitos espiões
foram encontrados e presos, utilizando desse recurso para transmitir
informações. Hoje, a tecnologia vigente é, quantitativa e qualitativamente, muito
mais superior e eficiente. Portanto, não dá para negligenciar esse viés de ação.
Não se pode nutrir a ingenuidade
de acreditar que as Fake News são, apenas, fruto de ações espontâneas, de cidadãos
comuns, que não têm nada para fazer e ficam se ocupando de perturbar os outros.
O que existe na teia das Fake News é o efeito multiplicador que se inicia na má
intenção, muito bem paga e pensada, de certos grupos. Basta se atentar para os
assuntos disseminados no país, durante a última gestão, para se perceber que há
método, há propósito a ser alcançado, há interesse por trás da disseminação.
Tanto que eles lançam a isca e monitoram a repercussão dela nas redes de
informação.
Por isso, olhando para os milhares que foram presos pelos atos antidemocráticos recentes, não consigo parar de lembrar das seguintes palavras de Umberto Eco, “Temei os profetas e aqueles que estão dispostos a morrer pela verdade, pois, em geral, farão morrer muitos outros juntamente com eles, frequentemente antes deles, por vezes no lugar deles”. Agora, estão lá. Presos. Abandonados à própria sorte, pelo seu líder. Encarcerados pela obsessão que nutriram pelas mentiras. Tudo em vão, em nome de uma loucura fabricada.