segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O desvirtuamento nacional pelo papel das Fake News


O desvirtuamento nacional pelo papel das Fake News

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não há como negar, a contemporaneidade amplificou o significado da mentira, quando fez das Fake News um instrumento legitimador de uma opinião pública corrompida pelos apelos às emoções e às crenças individuais em torno de inverdades e distorções, ou seja, da Pós-Verdade.

Acontece que esse movimento não ficou restrito a esse ou aquele grupo dentro da população. A capacidade tecnológica atual foi a grande catalisadora para que elas ultrapassassem as fronteiras e se integrassem ao cotidiano plural e diverso.

De modo que indivíduos de diferentes idades, gêneros, raças, credos, escolaridades, profissões e status social, tornaram-se potenciais receptores e disseminadores de Fake News, segundo a sua simpatia ideológica. Fosse no campo religioso, político, comportamental, enfim.

Então, de repente, foi possível perceber um fenômeno perigoso em que pessoas não conseguiam mais separar a sua figura física da sua figura jurídica, quando do acirramento da sua disposição em persuadir e convencer pessoas sobre suas ideias e opiniões. Algo muito evidente no campo político-partidário e dos poderes da República.

Vejam só, a gravidade disso! Representantes do povo se abstendo de valores e princípios éticos e morais em nome de promover e disseminar notícias falsas, inverdades, distorções, negacionismos em estado bruto, para satisfazer a certos grupos eleitorais.  Nada mais do que o ápice do desvirtuamento social e jurídico, comprometendo por completo a sua credibilidade discursiva e de ação.

Alguns foram punidos e afastados da atividade representativa político-partidária. Acontece que uma expressiva maioria ficou por aí destilando seus venenos e promovendo a beligerância ideológica pelo país. Infelizmente, a resistência corporativista que incide nesse campo da vida social, impede um bloqueio mais efetivo e real da participação pública dessas figuras do cenário político brasileiro 1. Inclusive, os que foram punidos acabaram se tornando fantasmas com prerrogativa para continuar assombrando.

É lamentável que não se perceba, ou não se queira perceber, que o simples fato dessas pessoas compactuarem ideologicamente com a Pós-Verdade e se disporem a utilizar de instrumentos como as Fake News para materializá-la, já é ofensa e falta de decoro suficiente ao bem-estar e o equilíbrio das relações sociais. Quem não se lembra do desserviço prestado por diversos membros do corpo político-partidário nacional durante a Pandemia? Ou agora, mais recentemente, nos atos antidemocráticos?

No frigir dos ovos, a verdade é que as Fake News não restringem em si mesmas os seus efeitos maléficos e deletérios, elas vão muito além, quando descortinaram uma ruptura de limites sociais inimaginável, na qual os indivíduos perderam totalmente o pudor, o constrangimento, a vergonha, ao atentar contra as boas práticas e princípios sociais.    

Movidas, única e exclusivamente, pelo seu individualismo narcísico e egoísta, essas pessoas enxergam o mundo na perspectiva da sua propriedade, como se fossem donas dele. E pelo fator de agregação ideológica circulante, elas acabam encontrando subterfúgios para escapar do rigor das punições sociais e se manterem firmes nas suas convicções e comportamentos. Daí a necessidade de conter o avanço desse modus operandi que protege e acoberta as Fake News.

Apesar dos atos antidemocráticos terem atingido o seu apogeu após as eleições de 2022 e muitos (as) defensores (as) e adeptos (as) delas terem sido eleitos, isso não impede que haja uma atenção maior dispensada a eles (as) para que não prossigam na sua sina desestabilizadora e inconsequente sobre a paz social. Inclusive, começando por lhes oferecer cada vez menos importância e visibilidade nos veículos de comunicação e informação. Outra sugestão é que o ambiente político se mostre menos disposto a aceitar e acolher tais desvios de comportamento.

Enfim, o melhor mesmo seria que nos lembrássemos das palavras de Mahatma Gandhi, quando disse “O que destrói a humanidade? Política sem princípios; prazer sem compromisso; riqueza sem trabalho; sabedoria sem caráter; negócios sem moral; ciência sem humanidade; oração sem caridade”. Simplesmente, porque elas nos confrontam diretamente com a obviedade de que “É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa consciência e começarmos a achar que tudo é normal” (Mario Sergio Cortella).