O
desvirtuamento nacional pelo papel das Fake News
Por
Alessandra Leles Rocha
Não há como negar, a
contemporaneidade amplificou o significado da mentira, quando fez das Fake News
um instrumento legitimador de uma opinião pública corrompida pelos apelos às
emoções e às crenças individuais em torno de inverdades e distorções, ou seja,
da Pós-Verdade.
Acontece que esse movimento não
ficou restrito a esse ou aquele grupo dentro da população. A capacidade
tecnológica atual foi a grande catalisadora para que elas ultrapassassem as
fronteiras e se integrassem ao cotidiano plural e diverso.
De modo que indivíduos de
diferentes idades, gêneros, raças, credos, escolaridades, profissões e status
social, tornaram-se potenciais receptores e disseminadores de Fake News,
segundo a sua simpatia ideológica. Fosse no campo religioso, político, comportamental,
enfim.
Então, de repente, foi possível
perceber um fenômeno perigoso em que pessoas não conseguiam mais separar a sua
figura física da sua figura jurídica, quando do acirramento da sua disposição
em persuadir e convencer pessoas sobre suas ideias e opiniões. Algo muito
evidente no campo político-partidário e dos poderes da República.
Vejam só, a gravidade disso!
Representantes do povo se abstendo de valores e princípios éticos e morais em
nome de promover e disseminar notícias falsas, inverdades, distorções,
negacionismos em estado bruto, para satisfazer a certos grupos eleitorais. Nada mais do que o ápice do desvirtuamento
social e jurídico, comprometendo por completo a sua credibilidade discursiva e
de ação.
Alguns foram punidos e afastados
da atividade representativa político-partidária. Acontece que uma expressiva
maioria ficou por aí destilando seus venenos e promovendo a beligerância
ideológica pelo país. Infelizmente, a resistência corporativista que incide
nesse campo da vida social, impede um bloqueio mais efetivo e real da
participação pública dessas figuras do cenário político brasileiro 1. Inclusive, os que foram punidos
acabaram se tornando fantasmas com prerrogativa para continuar assombrando.
É lamentável que não se perceba,
ou não se queira perceber, que o simples fato dessas pessoas compactuarem
ideologicamente com a Pós-Verdade e se disporem a utilizar de instrumentos como
as Fake News para materializá-la, já é ofensa e falta de decoro suficiente ao bem-estar
e o equilíbrio das relações sociais. Quem não se lembra do desserviço prestado
por diversos membros do corpo político-partidário nacional durante a Pandemia?
Ou agora, mais recentemente, nos atos antidemocráticos?
No frigir dos ovos, a verdade é
que as Fake News não restringem em si mesmas os seus efeitos maléficos e
deletérios, elas vão muito além, quando descortinaram uma ruptura de limites
sociais inimaginável, na qual os indivíduos perderam totalmente o pudor, o
constrangimento, a vergonha, ao atentar contra as boas práticas e princípios
sociais.
Movidas, única e exclusivamente,
pelo seu individualismo narcísico e egoísta, essas pessoas enxergam o mundo na
perspectiva da sua propriedade, como se fossem donas dele. E pelo fator de
agregação ideológica circulante, elas acabam encontrando subterfúgios para
escapar do rigor das punições sociais e se manterem firmes nas suas convicções
e comportamentos. Daí a necessidade de conter o avanço desse modus operandi que protege e acoberta as
Fake News.
Apesar dos atos antidemocráticos
terem atingido o seu apogeu após as eleições de 2022 e muitos (as) defensores
(as) e adeptos (as) delas terem sido eleitos, isso não impede que haja uma
atenção maior dispensada a eles (as) para que não prossigam na sua sina
desestabilizadora e inconsequente sobre a paz social. Inclusive, começando por
lhes oferecer cada vez menos importância e visibilidade nos veículos de
comunicação e informação. Outra sugestão é que o ambiente político se mostre
menos disposto a aceitar e acolher tais desvios de comportamento.
Enfim, o melhor mesmo seria que
nos lembrássemos das palavras de Mahatma Gandhi, quando disse “O que destrói a humanidade? Política sem
princípios; prazer sem compromisso; riqueza sem trabalho; sabedoria sem
caráter; negócios sem moral; ciência sem humanidade; oração sem caridade”. Simplesmente,
porque elas nos confrontam diretamente com a obviedade de que “É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos
a nossa consciência e começarmos a achar que tudo é normal” (Mario Sergio
Cortella).