Contra fatos, hipóteses
vitimistas não colam!
Por Alessandra
Leles Rocha
Movidos pela necessidade de alguma legitimação
para as ideologias da ultradireita, há quem queira, sem provas, vociferar sobre
uma possibilidade estapafúrdia de vitimismo do atual governo quanto ao ocorrido
em 08 de janeiro 1, na capital federal. Que
triste!
Ainda que as investigações estejam em curso, a
fim de apurar detalhadamente tudo o que aconteceu, imagens que surgem a todo
instante dão conta do fato material e concreto. De modo o que as autoridades
dos três poderes da República vêm fazendo, desde então, não é mimimi; mas,
dando transparência e visibilidade sobre os acontecimentos e seus
desdobramentos e prejuízos ao povo brasileiro. Aliás, uma obrigação da administração
pública.
Portanto, quem fala inadvertidamente erra. Sobretudo,
porque o ápice dos atos antidemocráticos exige uma análise do fio dessa meada
inteira. Afinal, o 8 de janeiro diz muito; mas, não diz tudo! A efervescência antidemocrática
nacional foi fermentada ao longo de, no mínimo, os últimos cinco anos. Tanto de
maneira direta quanto indireta.
Algo fácil de apurar junto aos volumes de
registros audiovisuais e impressos produzidos pelos veículos de comunicação e
informação, nacionais e estrangeiros, referentes a esse período. Inclusive,
porque se chegou a um ponto em que os simpatizantes da ultradireita se viram
tão confortáveis e legitimados pelo governo que passaram a não se incomodar em
expressar a sua antidemocracia, a sua anticidadania, por onde estivessem circulando.
Também, me parece estranho que alguém vocifere
a respeito de um vitimismo infundado e se abstenha, por exemplo, de comentar a respeito
do indecoroso gasto do cartão corporativo pelo ex-presidente e sua equipe. Será
que algo tão grave, tão absurdo, possa ser mesmo naturalizado e afastado da
análise crítica e reflexiva de qualquer cidadão? Inclusive, considerando a
presença dos horrores da pandemia.
Quem não se lembra da falta de oxigênio, de
leitos, de insumos médico-hospitalares, de vacinas? Exatamente nesse recorte
temporal, o qual diz respeito as informações do referido cartão corporativo, é que
aconteceram situações dessa natureza no país.
Pois é, mais uma vez a ultradireita sendo ela
mesma. Hipocrisia em estado puro. Que não consegue mais esconder o seu
desapreço pela democracia, pelo Estado de Direito, pela pluralidade do
pensamento, pelo patrimônio público, pela cultura nacional, pelo erário, pelo povo.
Cujo único discurso parece ser “ou estão
comigo ou estão contra mim”, para defender e justificar a sua fúria beligerante
e incontrolável.
Infelizmente, o insucesso na empreitada
antidemocrática atual não significa que ela vai desaparecer. O ideário dos
ultradireitistas, dos radicais e dos extremistas reverbera pelo tempo,
justamente, por existir pelo mundo alcateias de lobos em peles de cordeiro,
como mostra a história da humanidade. Que destilam suas más intenções, suas
perversidades, sua estupidez, com a mesma suavidade que podem professar um
elogio. A dissimulação é seu maior ardil.
O que nos leva, portanto, a necessidade real
de ampliar e renovar a atenção e a vigilância. Ora, quem tenta desajeitadamente
se posicionar em cima do muro, na verdade, já tem escolhido o lado para o qual
pretende cair. As linhas do discurso podem mascarar as intenções; mas, as
entrelinhas jamais. E ninguém, depois de todos os recentes acontecimentos, pode
se dar ao luxo da ingenuidade, da condescendência, para ler a vida apenas no
limite das linhas. Como dizia uma antiga canção, “[...] É preciso estar atento e forte [...]” 2.
1 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/01/zema-sugere-que-governo-lula-fez-vista-grossa-para-posar-de-vitima-em-ataque-golpista.shtml
2 Divino Maravilhoso (Caetano Veloso e Gilberto Gil) - https://www.youtube.com/watch?v=mB0ubulCAYM