terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Contra fatos, hipóteses vitimistas não colam!


Contra fatos, hipóteses vitimistas não colam!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Movidos pela necessidade de alguma legitimação para as ideologias da ultradireita, há quem queira, sem provas, vociferar sobre uma possibilidade estapafúrdia de vitimismo do atual governo quanto ao ocorrido em 08 de janeiro 1, na capital federal. Que triste!

Ainda que as investigações estejam em curso, a fim de apurar detalhadamente tudo o que aconteceu, imagens que surgem a todo instante dão conta do fato material e concreto. De modo o que as autoridades dos três poderes da República vêm fazendo, desde então, não é mimimi; mas, dando transparência e visibilidade sobre os acontecimentos e seus desdobramentos e prejuízos ao povo brasileiro. Aliás, uma obrigação da administração pública.

Portanto, quem fala inadvertidamente erra. Sobretudo, porque o ápice dos atos antidemocráticos exige uma análise do fio dessa meada inteira. Afinal, o 8 de janeiro diz muito; mas, não diz tudo! A efervescência antidemocrática nacional foi fermentada ao longo de, no mínimo, os últimos cinco anos. Tanto de maneira direta quanto indireta.

Algo fácil de apurar junto aos volumes de registros audiovisuais e impressos produzidos pelos veículos de comunicação e informação, nacionais e estrangeiros, referentes a esse período. Inclusive, porque se chegou a um ponto em que os simpatizantes da ultradireita se viram tão confortáveis e legitimados pelo governo que passaram a não se incomodar em expressar a sua antidemocracia, a sua anticidadania, por onde estivessem circulando.

Também, me parece estranho que alguém vocifere a respeito de um vitimismo infundado e se abstenha, por exemplo, de comentar a respeito do indecoroso gasto do cartão corporativo pelo ex-presidente e sua equipe. Será que algo tão grave, tão absurdo, possa ser mesmo naturalizado e afastado da análise crítica e reflexiva de qualquer cidadão? Inclusive, considerando a presença dos horrores da pandemia.

Quem não se lembra da falta de oxigênio, de leitos, de insumos médico-hospitalares, de vacinas? Exatamente nesse recorte temporal, o qual diz respeito as informações do referido cartão corporativo, é que aconteceram situações dessa natureza no país.  

Pois é, mais uma vez a ultradireita sendo ela mesma. Hipocrisia em estado puro. Que não consegue mais esconder o seu desapreço pela democracia, pelo Estado de Direito, pela pluralidade do pensamento, pelo patrimônio público, pela cultura nacional, pelo erário, pelo povo. Cujo único discurso parece ser “ou estão comigo ou estão contra mim”, para defender e justificar a sua fúria beligerante e incontrolável.

Infelizmente, o insucesso na empreitada antidemocrática atual não significa que ela vai desaparecer. O ideário dos ultradireitistas, dos radicais e dos extremistas reverbera pelo tempo, justamente, por existir pelo mundo alcateias de lobos em peles de cordeiro, como mostra a história da humanidade. Que destilam suas más intenções, suas perversidades, sua estupidez, com a mesma suavidade que podem professar um elogio. A dissimulação é seu maior ardil.  

O que nos leva, portanto, a necessidade real de ampliar e renovar a atenção e a vigilância. Ora, quem tenta desajeitadamente se posicionar em cima do muro, na verdade, já tem escolhido o lado para o qual pretende cair. As linhas do discurso podem mascarar as intenções; mas, as entrelinhas jamais. E ninguém, depois de todos os recentes acontecimentos, pode se dar ao luxo da ingenuidade, da condescendência, para ler a vida apenas no limite das linhas. Como dizia uma antiga canção, “[...] É preciso estar atento e forte [...]” 2.