quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Fama e notoriedade por linhas tortas


Fama e notoriedade por linhas tortas

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É lastimável que muitos veículos de comunicação e de informação se permitam contemporizar os atos terroristas que culminaram no episódio de 8 de janeiro, em Brasília/DF. É um erro gravíssimo chamar de minoria os simpatizantes da ultradireita nacional, como se eles pudessem ser resumidos ao contingente que formou a horda de vândalos que se viu depredar os prédios dos poderes na capital federal.

Porque isso seria negar os 49,10% dos votos válidos 1 recebidos pelo candidato à presidência da república, o qual representa a ultradireita no país. O que indica claramente uma posição ideológica favorável ao que defende esse segmento político-partidário. A escolha de um candidato não passa a margem dos fatos, não apaga o que ele disse ou fez ao longo da sua trajetória, de modo que ao manifestar apoio a ele, o eleitor referenda o histórico político e cidadão daquele indivíduo. Não nos esqueçamos de que se peca por atos; mas, também, por omissões.

E é contando com esse público que não esteve presente nos atos terroristas e que está espalhado Brasil afora, que a ultradireita conta para manter alta a chama da instabilidade no país. Somente dessa forma, ela vai se manter na mídia, manipulando o inconsciente coletivo para o fanatismo político. É através desses milhões de rostos desconhecidos pelos serviços de inteligência, polícias e judiciário, que eles pretendem perseverar na disseminação em massa de Fake News, gerando assunto e discussão para não permitir que o seu ideário caia no ostracismo.

Infelizmente, o sentimento de indignação e repulsa pelos atos terroristas não foi compartilhado por todos os cidadãos brasileiros. Toda regra tem exceção, não é mesmo? Vejam, por exemplo, que 8 senadores da República decidiram votar contra a intervenção na Segurança Pública do DF, “ignorando que a própria instituição a que pertencem foi atacada nos eventos que levaram ao decreto presidencial” 2. Enquanto Brasília padecia os horrores do vandalismo, três torres de transmissão de energia foram derrubadas, duas em Rondônia e uma no Paraná 3. Já se sabe, também, que há convocações antidemocráticas visando “bloquear o acesso de caminhões-tanque nas bases das empresas distribuidoras de combustíveis” 4. ...

Por isso é tão perigosa a ingenuidade de tentar convencer a opinião pública de que se trata mesmo, de uma minoria, tomando como base apenas os milhares de indivíduos que tocaram o terror em Brasília. Fossem só estes, não teria sequer havido uma eleição presidencial em dois turnos. Eles são muitos. São barulhentos. São dissimulados. São verdadeiros lobos em pele de cordeiro. E estão devidamente instruídos para desestabilizar a ordem pública, para instituir no país a desordem e o retrocesso, custe o que custar. Sem contar que estão sendo devidamente financiados para esse propósito.

Porque a ultradireita não tem quaisquer compromissos a não ser com ela mesma. Tanto que eles não estão nem aí para a repercussão internacional negativa dos seus atos. Como se o Brasil não dependesse do mundo para mover as engrenagens da sua economia. Esse esticar de corda pode representar respostas contundentes no campo diplomático, tais como, a redução ou remoção de laços, cancelamento ou limitação de visitas governamentais, fechamento de embaixadas, retirada ou expulsão de missões, sanções militares, embargos econômicos e bloqueio das relações comerciais.

E não é difícil estimar a dimensão desses impactos, relembrando o quão difícil foi a situação brasileira durante o auge da Pandemia do Sars-Cov-2 e suas variantes, em que as medidas restritivas impostas pela condição sanitária global, impediu o acesso imediato de produtos médico-hospitalares e farmacêuticos produzidos por outros países.

Além de disputar a concorrência, que se fazia generalizada naquele momento, a questão da interrupção produtiva industrial e de exportações/importações impôs um cenário crítico de desabastecimento de insumos e produtos. Acontece que essa foi uma situação excepcional, uma emergência sanitária. Agora, imagine lidar com uma situação que foi constituída pela própria irresponsabilidade do país, como está incitando a ultradireita nacional.

Diante de tudo isso, penso que seria interessante rever o modo de noticiar os acontecimentos, evitando dar publicidade e notoriedade a quem só tem o interesse de prejudicar a ordem e o progresso nacional, e buscando nomear os fatos pelos nomes que lhes competem receber. Em meio ao fanatismo ideológico político é preciso romper com as adorações, as mitificações, as idolatrias. Elas só fazem reafirmar as heranças malditas da nossa desigualdade, instituída nos tempos coloniais, afetando severamente a estabilidade democrática e republicana nacional.