Money,
Money, Money, ...
Por
Alessandra Leles Rocha
Ah, a desfaçatez política
nacional! Enquanto se arrasta no “toma lá,
dá cá” as votações para a PEC (Proposta de Emenda Constitucional)1 da Transição, os nobres congressistas
de Brasília não titubearam em aprovar o “aumento
de salário para presidente, ministros e parlamentares”, cujo “projeto aprovado na Câmara e no Senado, em
quatro anos, estabelece um reajuste que será de 37,32% a 50%, dependendo do
cargo” 2.
Pois é, mesmo “ ‘Esperança’ tendo sido eleita a palavra do
ano de 2022 pelos brasileiros” 3, algo
continua podre no Reino do Brasil. Aprovar algo dessa natureza, diante de um
cenário de empobrecimento explícito de uma gigantesca parcela da população, às
vésperas do Natal, é de uma indiferença e insensibilidade total. Na verdade, a
paga inversamente proporcional ao apoio recebido através dos votos de seus
eleitores.
Caro (a) leitor (a), que não
reste mais dúvidas, o Brasil não é empático, não é fraterno, não é humano! Daí
o fato de que a alternância democrática de poder não significa que o ranço histórico
colonial, a nutrir a ultradireita no país, irá desaparecer. A representação
político-partidária, há tempos, não vê mais sentido em dissimular o que de fato
defende e ostenta, porque de um jeito ou de outro ela acaba se elegendo ou
encontrando meios para permanecer nos bastidores do poder nacional.
E assim, de migalhas em migalhas
vão cevando aqueles que lhes garantem tamanhas regalias, privilégios e
posições, ou seja, o cidadão eleitor. Cevando esperanças vãs! Aliás, é
importante destacar aqui o tamanho do desvirtuamento semântico que a classe
política operacionaliza em relação à esperança. Transformaram elementos
constitutivos dos direitos sociais do brasileiro – saúde, educação,
alimentação, segurança, emprego, previdência social, transporte, cultura lazer
- em objetos depositários de esperança, por parte de um expressivo contingente
da população, dada a inacessibilidade imposta pelas conjunturas político-econômicas.
Pois é, a esperança brasileira
foi alçada ao plano de expectativa de sobrevivência! Esperança no pão nosso de
cada dia. Esperança de um teto para morar. Esperança de poder estudar. Esperança
de um trabalho. Esperança de retornar vivo para casa. Esperança... Mas,
sobretudo, esperança de que um dia, toda aquela quantidade de impostos pagos, diariamente,
se converta em uma vida de menos aflição e mais dignidade, para quem vive as
aventuras e as desventuras do cotidiano nacional.
E se ter esperança parece bom,
parece saudável, lamento, mas não é bem assim. Não há instrumento mais poderoso
para a vigilância e o controle social do que o excesso de esperança. Pessoas esperançosas
costumam ser cordatas. Como se a esperança fosse um emaranhado de fios que cada
um que se esgarça, que se rompe, ainda resta uma possibilidade de se prender a
outro e tocar a vida adiante. Desse modo, ela cria uma aura de coragem, de
bravura, de heroísmo que ajuda a nutrir as almas mais desesperadas, mais
aflitas, trazendo um certo tipo de domesticação e submissão social. Como escreveu
Clarice Lispector, “Prescindir da
esperança significa que eu tenho que passar a viver, e não apenas a me prometer
a vida” (A Paixão Segundo G.H.)
Entende, agora, por que é tão
acintosa a construção política nacional? Mesmo as migalhas são dadas com uma
mão e tiradas com a outra, por aqueles que dizem representar o povo. Sobre a
esperança, melhor nem comentar! Aquele “sonho
do homem acordado”, de Aristóteles, os representes político-partidários
brasileiros conseguiram extinguir, corrompendo-a de todas maneiras. A tal ponto
de que, hoje, ela não passa de um estado de transe, no qual se tenta desesperadamente
anestesiar a alma diante de tantas decepções e sofrimentos. Não é mais uma
esperança verde, viçosa, bonita. É só uma esperança sem cor, autômata, blasé.